O desafio do setor de Inovação da Embrapa continua ser aproximar o produtor rural com as empresas de inovação
O momento certo para irrigar o solo. A rastreabilidade da produção agrícola através de aplicativos. Uma plataforma de monitoramento da produção agrícola pela web. Esses são alguns trabalhos de inovação na área rural, desenvolvidos por jovens empreendedores do estado do Rio Grande do Sul através de startups, cujos modelos de negócio foram apresentados na manhã da quinta-feira (08/11), no auditório da Embrapa Uva e Vinho em Bento Gonçalves, RS.
O evento foi uma promoção conjunta da Embrapa Uva e Vinho e Sebrae-RS, com o objetivo de integrar as startups, produtores, pesquisadores e professores, visando identificar como essas tecnologias podem solucionar questões de produção, custo, prazo, agilidade e de mão-de-obra nas diferentes cadeias produtivas.
Segundo Daniel Trento, Gerente de Inovação da Embrapa, trabalhar com startups não é novidade na Empresa, que já faz isso há bastante tempo. O que mudou foi a nomenclatura: o que antes era chamado de “empresa nascente de base tecnológica”, hoje são as startups. Antes eram as incubadoras, agora são as aceleradoras, comentou o pesquisador. Mesmo assim, o desafio continua ser aproximar o produtor rural com as empresas de inovação, em prol da sociedade. Para isso, buscamos a integração entre os pesquisadores da Embrapa e as startups, buscando entender os desafios dessas empresas para conectá-las com as demandas do mercado, gerando soluções conjuntas. Aprender e se envolver com essa nova realidade dinâmica, que envolve contribuintes e demandantes, é parte importante do nosso trabalho, pontuou ele.
Já para João Antônio Pinheiro Neto, da Gerência Regional Metropolitana do Sebrae-RS, o evento foi uma excelente oportunidade para as startups, já que “essa imersão contribui para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos produtos que eles já têm, para atender de forma mais realista as demandas do mercado”. Na avaliação do pesquisador Flávio Bello Fialho, que trabalha na área de modelagem de dados na Embrapa, “as startups podem ser um meio efetivode levar as tecnologias da Embrapa até o produtor”. No encontro ele já visualizou uma possível parceria com empresas que desenvolvem versões eletrônicas dos tradicionais cadernos de campo, que pode ser recomendado e utilizado na Produção Integrada de Uva para Processamento, “complementando a planilha desenvolvida pela Embrapa”, afirmou.
Elson Schneider, presidente do Sindicato Rural da Serra Gaúcha aprovou a iniciativa, salientando a importância de trazer a inovação para o meio rural, integrando mais os viticultores e a cadeia produtiva como um todo.
Para Taylor Guedes, chefe do setor de inovação do Senar/RS, uma das instituições que compõe a Farsul, o trabalho conjunto em que o produtor conhece as startups e tem suas demandas identificadas possibilita a formalização de parcerias para testar soluções. “A parceria com a Embrapa e a soma de esforços em termos de tecnologias para a produção rural é o caminho”, concluiu.
O financiamento para a inovação no campo também é fundamental, segundo Andreia Araújo, gerente executiva na área de Produtos e Projetos do Agronegócio do Banrisul, que esteve presente no encontro e destacou que “além das linhas de crédito tradicionais, a ideia é levar a tecnologia para o campo através do fomento à inovação”.
Segundo o pesquisador Marcos Botton, o Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, “esse foi o primeiro evento com foco nas startups realizado na Unidade por entendermos que o digital já é parte da rotina de vários produtores, mas que ainda pode avançar muito. Nossa expectativa é que a parceria com startups seja rotina nas atividades de pesquisa, permitindo disponibilizar aos produtores novas ferramentas para aumentar a competitividade dos diferentes segmentos produtivos.”
Conhecendo
as startups
participantes
O Sebrae/RS levou para Embrapa cinco startups que apresentaram diferentes propostas para modernização no meio rural. São elas: a Pix Force, a Agrocloud Brasil, a Eirene Solutions, a Raks e a Elysios Agricultura Inteligente.
Matheus Araújo, da Pix Force apresentou o desenvolvimento de tecnologias aplicadas à interpretação de imagens, utilizando técnicas de inteligência artificial, como o sensoriamento remoto por drones ou satélites, para acompanhar o cultivo e acelerar a tomada de decisão , com o objetivo de aumentar a produtividade e reduzir as perdas e custos.
A oportunidade em que a startup Agrocloud Brasil, representada por Diego Nery, inspirou-se foi a Instrução Normativa de 07/02/2018 da ANVISA e do MAPA, que definiu os procedimentos para a aplicação da rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva de produtos vegetais frescos destinados à alimentação humana. O objetivo é monitorar e controlar os resíduos de agrotóxicos, em todo o território nacional. Eles criaram um sistema informatizado disponível a produtores, no qual é possível controlar todas as atividades através do caderno de campo cujos dados podem ser acessados a qualquer momento e em qualquer lugar.
Gabriel Borges da Eirene Solutions apresentou dois produtos: um veículo automatizado para pulverização em plantações, e um dispositivo que detecta ervas daninhas e faz aplicações de herbicidas somente onde é necessário, diminuindo custos e desperdício de produto.
Um sensor de umidade do solo que fica fixo no campo, e um sistema para controle e automatização da irrigação, alimentado por placas de energia solar sem fio, monitorado pela web, foi o que a startup Raks, de Vinícius Muller, demonstrou.
Francisco Motta, da Elysios Agricultura Inteligente, discorreu sobre o software Demetra para ganho de produtividade através da racionalização de insumos utilizados.
“Tudo o que a Embrapa gera chega ao mercado ou na sociedade, por meio de um parceiro, ou uma empresa privada, uma startup. A gente tem que se colocar como uma plataforma para viabilizar de maneira mais eficiente e rápida que nossa tecnologia, para que nosso conhecimento chegue à ponta, por meio desses nossos parceiros. É uma mudança cultural, sem dúvida”, conclui Trento.