Mesmo acima dos 70 anos, ela recebia de R$ 25 a R$ 50 por semana para continuar fazendo faxinas no hotel
A polícia de Garibaldi ouviu, nesta quarta-feira, 8, três pessoas ligadas ao hotel onde idosa desaparecida desde 1979 para descobrir as condições em em que vivia a senhora de 73 anos.
Dois sócios e a administradora do hotel onde idosa vivia, prestaram depoimento ao delegado responsável pelo caso, Marcelo Ferrugem.
Ao Ministério do Trabalho (MTE), a idosa disse que foi demitida em 2000, mas que foi mantida no local sem vínculo empregatício. Ela ganharia de R$ 25 a R$ 50 por semana, sem folgas nos finais de semana, e trabalharia na manutenção do hotel.
A defesa do hotel afirma que a idosa não seguiu trabalhando no local após 2000, reforçando que a mulher apenas morava lá, com acesso livre e alimentação disponível.
O caso
Depois de denúncias a Polícia Civil de Garibaldi encontrou a mulher no dia 31 de janeiro, num quartinho dos fundos do hotel, em condições insalubres.
A mulher apresentava um pouco de desorientação no momento.
Investigação
A investigação policial quer esclarecer se a idosa era ou não vítima de maus-tratos.
Funcionários informaram que a idosa trabalhou como servente no local entre os anos de 1990 e 2000 e que vivia no estabelecimento desde então.
Segundo noticiado na imprensa regional, o “assessor jurídico do hotel, Flavio Green Koff, afirma que a mulher era entendida como parte da família. “Ela se tornou parte integrante da família, e o tempo foi passando, foi passando, e não tinha o que fazer com essa senhora. Vamos jogar na rua? O que fazer? Não tinha uma solução”,
Mesmo tendo desaparecido para a família há quase 44 anos, o registro do desaparecimento só foi feito em 2021 por uma sobrinha que ficou sabendo de uma campanha de identificação de desaparecidos. Os parentes vivem em Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, a 117 km de Garibaldi.
O advogado da família da idosa afirma que a preocupação, neste momento, é com a saúde dela. “Num primeiro momento, a família acolheu super bem a idosa, buscando tratamento médico para ela, psicológico, dental, ela está bem abalada é uma situação bem complicada”, comenta.
Ministério do Trabalho e Emprego
O MTE apura se a idosa era mantida no local em condição semelhante à de escravizada. “Vamos verificar o enquadramento da situação em submissão de pessoa a condição análoga à de escravo”, diz o gerente regional do Trabalho e Emprego do (MTE) em Caxias do Sul, Vanius João de Araújo Corte.
O advogado do hotel diz ainda que a mulher “tinha uma vida normal, andava onde queria; tinha o seu quarto, não era cinco estrelas, evidentemente; não tinha banheiro no quarto, não era uma suíte, mas o banheiro dela ficava a 20 passos mais ou menos do quarto dela, em área coberta, não tinha problema nenhum”.
Nos registros fotográficos da polícia , no dia do resgate, o ambiente onde a idosa vivia não tinha iluminação natural e o banheiro não era próximo. “As condições de higiene no local eram precárias, roupas de cama e colchão muito sujos. Ela fazia as necessidades em um balde”, explica o delegado Marcelo Ferrugem.
Os agentes do MTE observaram que alguns móveis foram consertados e trocados de lugar. Na primeira abordagem da Polícia Civil, não havia iluminação, os móveis estavam quebrados e não tinha pia no banheiro. Antes da vistoria, realizada na segunda-feira (6), foram colocadas lâmpadas e uma pia, além de móveis que foram consertados.
Família
Segundo a polícia, a mulher teria se afastado da família em 1979, por uma desavença. Desde então, a família não soube mais dela.
A idosa era conhecida por um nome diferente daquele registrado oficialmente. Ela recebeu atendimento médico e psicológico. Na quinta (2), familiares foram buscá-la na Serra. “Ela apresenta algum comprometimento cognitivo, talvez sinais de Alzheimer. Ela parou de trabalhar nesse estabelecimento e acabou permanecendo por ali”, relata Ferrugem.