Dados da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia apontam que 45% dos brasileiros dormem mal e 52% acordam cansados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que 45% da população global têm alguma dificuldade para dormir. Mas um estudo finlandês comprovou que tanto dormir pouco quanto dormir demais encurtam a vida. A privação de sono se tornou um problema que afeta mais de um terço da população mundial devido às longas jornadas de trabalho, às atividades noturnas e ao aumento da dependência de eletrônicos
Para elucidar como a privação do sono afeta nosso bem-estar físico e mental, o neurocientista britânico Matthew Walker, professor da Universidade Berkeley, na Califórnia, escreveu o livro Por que Nós Dormimos. Para ele, o sono e o sonho são fundamentais para nossa saúde física e mental — e tão intrínsecos à nossa natureza quanto respirar.
Efeito curativo
É comprovado: uma boa noite de sono é uma das principais fontes de saúde e de juventude. Um estudo conduzido pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional mostrou que tanto dormir pouco quanto dormir demais encurtam a vida.
Mais de 20 mil gêmeos foram acompanhados durante um período de 22 anos. Dormir menos do que sete horas por noite aumentou o risco de morte em homens (+26%) e mulheres (+21%); já dormir mais do que oito horas significou uma redução de longevidade de 24% para homens e 17% para mulheres. O uso de remédios para dormir teve resultados ainda mais drásticos: 31% dos homens e 39% das mulheres morreram mais cedo. Os pacientes foram acompanhados entre 1982 e 2003.
Dormir entre sete e oito horas por noite não proporciona só uma vida mais longa, mas também uma vida mais interessante e inteligente. A criatividade, por exemplo, é intensificada após uma boa noite de sono, especialmente quando despertamos logo após a fase REM , que é a mais profunda, em que os sonhos mais vívidos acontecem.
Um estudo da Escola de Medicina de Harvard, por exemplo, afirmou que acordar logo após essa fase do sono aumenta em 30% a habilidade de resolver palavras cruzadas de manhã.
Outros estudos também sugerem que dormir ajuda a resolver problemas complexos — em inglês, existe até uma expressão para isso, “let’s sleep on it”, que sugere dormir para conseguir solucionar melhor alguma questão.
Também já é bem consolidada entre os pesquisadores a ideia de que dormir é essencial para o aprendizado, para o desenvolvimento da linguagem e para a consolidação da memória.
Terapia noturna
Imagine se todas as vezes que você se lembrasse de algum evento que aconteceu na sua vida, como uma briga com alguém que você ama, a emoção do momento voltasse à tona. Seria impossível manter a sanidade, certo? Isso só não ocorre por uma razão: porque dormimos.
O pesquisador Matthew Walker, da Universidade Berkeley, têm mostrado que é durante a fase dos sonhos mais intensos que a memória é processada e, nesse momento, os fatos são libertados das emoções mais traumáticas. Uma noite mal dormida pode impedir essa separação, e a memória mal processada continuará voltando, noite a noite, como uma bagunça ainda não arrumada dentro do sistema. Caso o erro persista por mais de uma semana de noites mal dormidas, aquela memória poderá ser armazenada mesmo corrompida.
Depressão e dormir mal
Pesquisadores encontraram o elo neurológico que liga a privação do sono à depressão. Há uma forte conexão entre o córtex pré-frontal (responsável pela memória de curto prazo), o precuneus (no lóbulo parietal superior) e o córtex orbitofrontal lateral (associado a emoções negativas).
Por meio da análise de registros de 9.735 pessoas com depressão, foi descoberto que havia aumento da atividade nestas regiões do cérebro em pessoas que também relataram problemas na hora de dormir.
Segundo o estudo, publicado no JAMA Psychiatry, as pessoas que têm problemas de depressão são mais propensas a ter insônia ou dificuldade para dormir. Ao mesmo tempo, pessoas com insônia também têm um risco maior de sofrer de depressão e ansiedade.