Dieta vegetariana reduz risco de doenças do coração, mas aumenta risco de derrame, indica estudo

2015-04-10_190211

Especialistas em nutrição afirmam que, qualquer que seja o tipo de dieta adotado, o melhor para a saúde é consumir uma grande variedade de alimentos

Uma dieta livre de carnes reduz o risco de doenças cardíacas, mas aumenta o risco de derrame. É o que sugere um estudo publicado na revista científica “British Medical Journal”, que acompanhou 48 mil pessoas por até 18 anos.
A pesquisa mostra que veganos e vegetarianos apresentaram 10 casos a menos de doença coronariana, para cada mil pessoas, em comparação com pessoas que comem carne. Por outro lado, apresentaram três casos a mais de derrame, dentro da mesma proporção.
Especialistas em nutrição afirmam que, qualquer que seja o tipo de dieta adotado, o melhor para a saúde é consumir uma grande variedade de alimentos.

O que diz o estudo?
Ele analisa os dados do estudo EPIC-Oxford, um projeto amplo de pesquisa de longo prazo sobre alimentação e saúde.
Metade dos participantes, recrutados entre 1993 e 2001, eram consumidores de carne, pouco mais de 16 mil se consideravam vegetarianos ou veganos e 7,5 mil se declaravam “pescetarianos”, seguidores de uma dieta “semivegetariana”, que inclui peixes e outros frutos do mar.
Eles foram questionados sobre a dieta que adotavam quando ingressaram no estudo e, novamente, em 2010. Foram levados em consideração ainda outros elementos: histórico médico, tabagismo e atividade física.
Ao todo, foram registrados 2.820 casos de doença arterial coronariana (DAC) e 1.072 casos de acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame – incluindo 300 casos de derrame hemorrágico, em que ocorre sangramento no cérebro provocado pelo rompimento de um vaso sanguíneo.
O estudo constatou que os “pescetarianos” apresentavam um risco 13% menor de desenvolver doença arterial coronariana do que quem consome carne. No caso dos vegetarianos e veganos, o risco era 22% menor.
Por outro lado, aqueles que adotam uma dieta à base de plantas apresentam um risco 20% maior de ter derrame.
Os pesquisadores sugerem que isso pode estar relacionado a baixos níveis de vitamina B12, mas afirmam que é necessário realizar mais estudos para investigar essa conexão.

Isso quer dizer que dietas veganas e vegetarianas não são saudáveis?
Frankie Phillips, da Associação Dietética Britânica (BDA, na sigla em inglês), responde que não – uma vez que este foi um estudo observacional. “Eles analisaram o que as pessoas comiam e acompanharam elas por anos, então se trata de uma associação, não de causa e efeito”, diz ela. “A mensagem, para todos nós, é que faz sentido adotar uma dieta bem planejada e comer uma grande variedade de alimentos.”
‘Não dá para viver à base de carne e batata no jantar todas as noites’. “As pessoas que comem carne não têm necessariamente uma dieta variada, porque podem viver à base de carne e batata no jantar todas as noites, e não comem nenhuma verdura ou legume.”

A dieta das pessoas mudou desde que o estudo começou?
Os pesquisadores se dirigiram novamente aos participantes em 2010 para perguntar sobre a alimentação deles de novo. Mas Phillips diz que possivelmente as dietas veganas e vegetarianas mudaram ao longo do tempo.
São dados coletados há algumas décadas. Pode ser que a dieta vegetariana padrão hoje seja muito diferente da alimentação vegetariana ou vegana de 20 ou 30 anos atrás. A variedade de alimentos processados vegetarianos e veganos aumentou bastante. É muito mais popular.
Além disso, sabemos mais sobre os riscos à saúde associados ao consumo excessivo de carne vermelha e processada, que está ligado a um risco maior de câncer de intestino.

O que devemos colocar no prato?
O Guia Eatwell do NHS, sistema público de saúde do Reino Unido, sugere a variedade de alimentos que você precisa, independentemente do tipo de dieta que decida seguir: coma pelo menos cinco porções de frutas, legumes e verduras por dia; baseie as refeições em alimentos ricos em amido e fibras, como batata, pão, arroz ou macarrão; não se esqueça da proteína – carnes magras, peixe, frutos do mar, leguminosas, tofu ou castanhas sem sal; inclua laticínios ou derivados de laticínios; alimentos ricos em gordura, açúcar ou sal devem ser consumidos com menos frequência e em pequenas quantidades. Mas as pessoas que adotam dietas veganas e vegetarianas também precisam tomar um cuidado especial para garantir o consumo de quantidade suficiente de alguns nutrientes específicos.
Por exemplo, pessoas que comem carne, laticínios e peixe geralmente apresentam nível suficiente de vitamina B12, considerada essencial para o sangue e o sistema nervoso.
No entanto, os veganos – que excluem além da carne, qualquer alimento de origem animal da dieta – podem apresentar deficiência de vitamina B12, embora esse tipo de nutriente também esteja presente em alimentos como cereais fortificados e extratos de levedura.
O ferro também é menos facilmente absorvido a partir de alimentos à base de plantas; portanto, aqueles que optam por não comer carne precisam compensar, incluindo certos alimentos, como pão e farinha integrais, frutas secas e leguminosas, na dieta.
Outro nutriente que pode ficar de fora é a colina, que ajuda na comunicação entre as células nervosas. Mas ela também pode ser obtida pela ingestão de soja torrada, vegetais crucíferos – como brócolis e couve-de-bruxelas -, feijão cozido, cogumelos, quinoa e amendoim.