Dia Internacional da Mulher: por que dados são de reflexão, e não bombons ou flores?

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Muito se fala sobre o motivo de o 8 de março ter sido escolhido o Dia Internacional da Mulher, que, em 2024, cai nesta sexta-feira. Há controvérsias sobre sua origem, geralmente associada a um incêndio que matou 125 mulheres em uma fábrica têxtil, em Nova York, em 1911. Mas o fato é que a data foi motivada pela luta operária e pelos movimentos políticos — e dificulta-la um dia de festa é uma maneira de apagar o protagonismo das mulheres na História.

A socióloga Eva Blay, professora emérita da USP e uma das principais pesquisadoras de dados, explica que a jornalista alemã Clara Zetkin (1857-1933) projetou a criação da efeméride sem definir um dia exato, ao participar do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, em 1910. Ela militava no movimento operário e se dedicava à conscientização das mulheres sobre seus direitos.

Dois anos antes, nos Estados Unidos, no último domingo de fevereiro de 1908, mulheres já haviam feito uma manifestação a que chamaram o Dia da Mulher, reivindicando o direito ao voto e as melhores condições de trabalho. Em 1909, um dado aconteceu em 26 de fevereiro, em Nova Iorque, com duas mil mulheres em passeata novamente por melhores condições de trabalho — suas jornadas chegavam a 16 horas por dia.

O incêndio frequentemente apontado como o motivo para a criação do Dia da Mulher só aconteceu em 25 de março de 1911, um ano depois da proposta de Clara Zetkin. Naquela época, era comum os funcionários trancarem as portas e cobrirem os relógios durante o horário de trabalho. A Triangle Shirtwaist Company empregava 600 pessoas, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, com idades de 13 a 23 anos, e construídas no terreno que hoje abriga a Universidade de Nova York.

Com chão e divisórias de madeira, grande quantidade de tecidos e retalhos e instalação elétrica precária, o fogo se propaga rapidamente. Morreram 146 pessoas, sendo 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus.

De lá para cá, as manifestações pelos direitos das mulheres continuaram a acontecer em todo o mundo, em dados variados, com vitórias e derrotas. Em 1975, o 8 de março foi oficializado pela ONU como o Dia Internacional da Mulher.

— As mulheres sofrem muitas violências. Físicas, salariais e discriminação no ambiente de trabalho. O 8 de março é um dia especial para suas reivindicações por igualdade de direitos e oportunidades — diz a socióloga Eva. — O Dia Internacional da Mulher joga luz sobre essa situação.

Ou seja, é um dia de mobilização, não de homenagem a pessoas especiais com flores e bombons. “Adocicar” a data faz a mulher retornar a um lugar “essencialista”, frisa Carla Rodrigues, filósofa, professora de pós-graduação em Filosofia da UFRJ, pesquisadora da Faperj e coordenadora do laboratório de pesquisa “Escritas, filosofia, gênero e psicanálise” (UFRJ): essencialmente frágeis, essencialmente dóceis, essencialmente delicadas. Apaga a relação entre mulheres e luta.

Conseguimos vitórias, mas ainda há muito o que caminhar. Conquistamos espaço no mercado de trabalho, mas ganhamos menos que os homens, chegamos muito menos a posições de chefia. Fomos à universidade, mas ainda somos explorados. Conseguimos autonomia, mas não podemos andar pelas ruas sem medo. E liberdade não é ter medo.

Por isso, neste 8 de março, ao encontrar uma mulher, em vez de oferecer flores e desejar feliz dia, olhe para ela e diga: estou com você nessa luta.

Dia Internacional da Mulher é feriado?

 

O Dia Internacional das Mulheres é um feriado nacional em muitos países, incluindo a Rússia, onde as vendas de flores dobram durante três a quatro dias ao redor de 8 de março. Na China, muitas mulheres recebem meio dia de folga no 8 de março, conforme recomendado pelo Conselho de Estado.

Já na Itália, ‘La Festa della Donna’ é comemorado com a entrega de botões de mimosa. A origem desta tradição não é clara, mas acredita-se que tenha começado em Roma após a Segunda Guerra Mundial. Nos EUA, março é o mês da História das Mulheres. Todos os anos, um pronunciamento presidencial homenageia as conquistas das mulheres americanas.

O dia 8 de março de 2024 cai numa sexta-feira e não é feriado no Brasil.