Em meio a um aumento da violência contra as mulheres e de casos de feminicídio, agravadas pelas constantes declarações machistas do governo Bolsonaro, o Brasil se prepara para o Dia Internacional de Luta da Mulher, no próximo dia 8 de março. A data marca os 20 anos de criação da organização feminista.
Mas pelo que mesmo estamos lutando?
As condições de trabalho das mulheres estão ainda precárias em todos os níveis culturais e socioeconômicos, resultado do machismo estrutural e de uma política neoliberal que vem sendo adotada no país nos últimos anos. No resto do mundo também não está muito melhor: segundo relatório recente da Oxfam, mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado. Se fossem remuneradas, isso significaria uma contribuição de, pelo menos, US$ 10,8 trilhões por ano para a economia global, o triplo do valor gerado pela indústria tecnológica, por exemplo. Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o chamado Dia Internacional da Mulher é comemorado desde o início do século 20. Um retrocesso perigoso foi o convite para integrar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos pela reacionária Damares Alves. Pastora, advogada e assessora de Magno Malta (DEM), Damares coleciona diversas declarações reacionárias e conservadoras, ao gosto da bancada evangélica e de ataques aos direitos mais básicos das mulheres Só para lembrar Damares declarou no dia 8 de Março, de 2019, que é contrária ao movimento feminista e LGBT, bem como pautas de luta histórica das mulheres como o direito ao aborto. Defensora da “família tradicional”, Damares acredita que o modelo ideal de sociedade é onde as mulheres fiquem em casa, jogando toda a responsabilidade das tarefas domésticas e do cuidado dos filhos sob as mulheres, que sofrem com duplas e até triplas jornadas de trabalho fora e dentro de casa. É esta figura ultrarreacionária que estará à frente de um ministério que supostamente deveria tratar das questões mais sensíveis às mulheres, principalmente mulheres trabalhadoras e pobres. Então é isto: meninas de rosa, dentro de casa, sendo submissas. Um discurso, no mínimo hipócrita, já que ela mesmo não está dentro de casa e contruiu uma carreira fora dela. Bem na linha faça o que eu digo, mas não o que faço, este tipo de exemplo só deplora a imagem da mulher de verdade, que vai à luta todos os dias, que paga suas contas, que sustenta sua família e ainda sofre gaslighting do macho que tem dentro de casa, que não aguenta a insegurança da mulher estar lá fora e vencendo, com muito mais atribuições e responsabilidades que eles. Esta é a linha geral, obviamente com muitas excessões, dos machos mais evoluídos e intruídos.
Em primeiro lugar não são minoria para serem lembradas com um dia específico. O Brasil já superou o gargalo da educação, porque hoje as mulheres são mais escolarizadas do que os homens, mas isso ainda não está refletido no mercado de trabalho […]. Ela está chegando mais escolarizada, então por que o rendimento ainda não está similar? Muito provavelmente ela está escolhendo ocupações que precisam de uma jornada de trabalho mais flexível porque ainda tem a carga de afazeres domésticos extremamente pesada 8 de março não é uma data para comemorar. É um dia de luta, de resistência. É data para lembrar dos séculos de sofrimento das nossas antigas. O sofrimento diário. Mesmo com uma leve queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as mulheres ainda ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país, de acordo com um estudo especial feito pelo IBGE para o Dia Internacional da Mulher, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). A desigualdade de gênero permanece até hoje. As condições de trabalho ainda são piores para as mulheres e os problemas persistem. No mundo inteiro, a data ainda é comemorada, mas ao longo do tempo ganhou um aspecto “comercial” em muitos lugares. O dia 8 de março é considerado feriado nacional em vários países, como a própria Rússia, onde as vendas nas floriculturas se multiplicam nos dias que antecedem a data, já que homens costumam presentear as mulheres com flores na ocasião. Na China, as mulheres chegam a ter metade do dia de folga no 8 de Março, conforme é recomendado pelo governo – mas nem todas as empresas seguem essa prática. Já nos Estados Unidos, o mês de março é um mês histórico de marchas das mulheres. No Brasil, a data também é marcada por protestos nas principais cidades do país, com reivindicações sobre igualdade salarial e protestos contra a criminalização do aborto e a violência contra a mulher. Certamente, o 8 de Março é um dia de luta, dia para lembrarmos que ainda há muitos problemas a serem resolvidos, como os da violência contra a mulher, do feminicídio, do aborto, e da própria diferença salarial. Mesmo passadas décadas de protestos das mulheres e de celebração do 8 de Março, a evolução ainda foi muito pequena. Apesar de alguma evolução, por causa da visibilidade, da discussão e de atos, hoje a mulher já consegue consegue falar sobre os problemas. Antes, se escondia isso. Tudo ficava entre quatro paredes. Antes, esses problemas eram mais aceitos, hoje não. Por todos estes motivos é que o dia 8 de março deve ser todos os dias. Dias das mulheres, principalmente, se enchergarem como seres humanos iguais e não deixarem as diferenças culturais e machistas dizerem o contrário.