Pesquisadores acreditam que será comum receber um diagnóstico positivo para a doença diversas vezes por ano, mas para alguns grupos, essa probabilidade é maior
Nos dois primeiros anos da pandemia, casos de reinfecção pelo novo coronavírus eram raros. Especialistas acreditavam que a Covid-19 seria parecida com a gripe e, portanto, a imunidade conferida pela vacinação ou por uma infecção anterior evitaria as reinfecções por ao menos um ano. A chegada da Ômicron mudou tudo isso. Embora mais leve, a variante que foi identificada pela primeira vez na África do Sul, é mais transmissível, infecciosa e com maior potencial de escapar das defesas do sistema imune. Sua disseminação fez com que os casos de reinfecção se tornassem cada vez mais comuns, com mais frequência, mesmo em pessoas vacinadas ou com histórico anterior da Covid-19.
Agora, pesquisadores acreditam que o Sars-CoV-2 é mais parecido com os outros coronavírus, que causam circulam e pode provocar múltiplas infecções o ano todo, do que com o influenza, que tem maior circulação nos meses de inverno. Por isso, se nada mudar, a expectativa é que será comum receber um diagnóstico positivo para Covid-19 duas ou três vezes por ano.
A infecção pela Ômicron provoca uma reação imune mais fraca, que parece perder força em pouco tempo, em comparação com as variantes anteriores. Além disso, suas subvariantes parecem conseguir escapar das defesas geradas pelo sistema imunológico por vacinas ou infecções prévias, mesmo sem grandes alterações em seu código genético.
Embora qualquer pessoa possa ser reinfectada nessas circunstâncias, alguns grupos podem estar mais vulneráveis. São eles: pessoas não vacinadas ou que não receberam todas as doses recomendadas; pessoas que pegaram Covid-19 no início da pandemia; quem desenvolveu um quadro leve da doença anteriormente; idosos e pessoas com imunossupressão; e pessoas com mutações genéticas que aumentam sua suscetibilidade à infecção pelo novo coronavírus.
Casos de Covid-19 ou de reinfecção pelo novo coronavírus mesmo após a vacinação não significam que as vacinas não funcionam. Embora os imunizantes atuais tenham baixa eficácia contra infecção pela Ômicron e suas subvariantes, elas apresentam alta proteção contra hospitalizações e mortes, que é justamente o objetivo da vacina. A maioria das pessoas vacinadas que recebem diagnóstico positivo para Covid-19, desenvolve apenas sintomas leves.
Além disso, estudo mostram que a dose de reforço, assim como a imunidade híbrida (caracterizada pela vacinação seguida de uma infecção anterior), parece de fato reduzir as chances de reinfecção. Portanto, pessoas com a vacinação completa – incluindo o reforço – têm menor probabilidade de serem reinfectadas do que aquelas que não estão vacinadas ou que não completaram o esquema. Dados do governo do Reino Unido também sugerem que o risco de reinfecção é maior é em pessoas cuja infecção anterior foi mais leve e, portanto, que tiveram uma resposta imune mais baixa.
Pessoas que tiver Covid-19 há mais tempo, por exemplo, em 2020 e início de 2021, também correm maior risco visto que o nível de anticorpos diminui gradativamente. De acordo com o geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, em Curitiba, idosos e imunocomprometidos também correm maior risco de reinfecção, porque sua imunidade cai mais rapidamente.
— Todos que estão aptos a receberem a quinta dose correm maior risco de infecção e reinfecção — ressalta Raskin.
Por fim, pessoas que têm alguma alteração genética que aumenta sua probabilidade de infecção também podem correr um risco aumentado de reinfecção. Um estudo publicado na revista Nature, em julho de 2021, mostrou que alterações em quatro pontos do material genético aumentam o risco de infecção pelo Sars-CoV-2. Dois desses pontos estão no cromossomo três, outro está no cromossomo nove, aonde está o locus do tipo sanguíneo, e o último, no cromossomo 19.
— Se a pessoa tem suscetibilidade à infecção, em tese, ela teria essa suscetibilidade sempre, visto que é algo conferido por uma predisposição genética — diz Raskin.