Pesquisadores da Fiocruz avaliam que o aumento de casos em todas as regiões do Brasil deve ser impulsionado por eventos como a Copa do Mundo
Mais uma vez, os brasileiros se deparam com um final de ano marcado pela alta de casos de Covid-19. Foi assim em 2020, com o surgimento da variante Gama no Amazonas, e em 2021, com a Ômicron levando a um pico da curva epidemiológica em janeiro do ano seguinte. Desta vez, as cepas BQ.1 e BE.9, sublinhagens da Ômicron, destacam-se das demais e devem ser as responsáveis por mais casos da infecção.
O último Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na quarta-feira (23/11), mostra o aumento da Covid-19 entre os diagnósticos positivos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Nas últimas seis semanas, 14 estados e o Distrito Federal registraram alta de casos graves.
O pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, monitoramento de casos de SRAG da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirma que a tendência de crescimento deve se manter devido à combinação das aglomerações durante os jogos da Copa do Mundo, a corrida aos shopping para a compra dos presentes de Natal, as confraternizações de dezembro e, na sequência, as férias.
“Quanto tempo vai durar, é incerto. Depende de como a população vai se comportar. É um momento muito bom para os vírus de transmissão respiratória, como o coronavírus, porque a gente se expõe muito mais e participa de ambientes mais propensos à transmissão”, afirma Gomes.
O virologista Felipe Naveca, coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados da Fiocruz Amazônia, acredita que este cenário pode levar o país a uma grande onda de diagnósticos positivos para a Covid-19.
“O final do ano é sempre preocupante. Vivemos isso no Amazonas em 2020, quando a variante Gama surgiu”, lembra Naveca.
No entanto, o virologista não acredita que o mesmo ocorra com a curva de óbitos, agora que temos vacinas disponíveis. Mesmo que as variantes Ômicron tenham maior vantagem para escapar da resposta imunológica gerada pelas vacinas ou infecções anteriores, os imunizantes continuam a oferecer boa proteção contra casos graves e morte entre as pessoas que estão com o ciclo vacinal completo – as duas doses primárias e as de reforço disponíveis.
“Na maioria dos casos, os que estão ficando doentes (gravemente) são não vacinados ou idosos e pessoas imunocomprometidas, que têm naturalmente uma resposta imunológica pior”, afirma Naveca. “No Amazonas, 87% dos pacientes com a forma grave da doença são ou não vacinados, ou estão devendo alguma dose de reforço”, pontua.