Compatibilidade amorosa é destino ou dedicação?

2015-04-10_190211

Como essa lógica pode afetar seu relacionamento

David Robson – BBC WorkLife

Em um episódio memorável da série Sex and the City, Carrie (Sarah Jessica Parker) admite estar totalmente encantada com seu novo namorado, Jack Berger (Ron Livingston). “Tudo é novo, tudo é a primeira vez, tudo são preliminares”, diz ela, descrevendo sua primeira vez juntos. “Até uma visita a uma loja de departamentos pode ser uma tarefa emocionante… e, claro, aqueles primeiros beijos são os melhores do mundo.”

Mas, nas duas primeiras vezes em que eles trocam intimidades, Carrie acha a experiência muito frustrante. “Mande embora”, aconselha Samantha (Kim Cattrall), acrescentando uma paródia impublicável do ditado comum em inglês “engane-me uma vez, a culpa é sua; engane-me duas vezes, a culpa é minha”.

O episódio da sexta temporada da série – seu título é Great Sexpectations (algo como “grandes expectativas sexuais”) – chamou a atenção da psicóloga Jessica Maxwell, professora sênior de psicologia da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

“Fui pega de surpresa quando os personagens simplesmente consideraram que o sexo deveria ser relativamente fácil e como eles estavam dispostos a jogar a toalha em um relacionamento se o sexo for ruim”, afirma ela. E conversas com suas amigas indicaram que muitas pessoas seguiam o comportamento de Samantha na vida real.

Esses pensamentos levaram Maxwell a pesquisar as formas em que nossas crenças podem influenciar os relacionamentos íntimos a curto e longo prazo.

De um lado, existe a “mentalidade do crescimento sexual” – a crença de que a satisfação requer trabalho e esforço. Por outro, existe a “mentalidade do destino sexual” – a ideia de que a compatibilidade natural entre os parceiros sexuais é o principal fator que permite que os casais mantenham a satisfação sexual. Ou seja, qualquer dificuldade em um relacionamento sexual pode ser um sinal de que ele está destinado ao fracasso.

Em uma série de estudos, Maxwell concluiu que essas mentalidades podem ditar as formas como as pessoas lidam com problemas na cama, com enormes consequências para a qualidade dos seus relacionamentos. Sua pesquisa indica que, formando expectativas sexuais mais construtivas, todos nós poderemos ter uma vida amorosa mais saudável e feliz.

Destino amoroso?

As conclusões de Maxwell são parte de um conjunto crescente de literatura que examina os efeitos da mentalidade em muitos setores diferentes da vida.

Os estudos mais famosos são os de Carol Dweck, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Ela examinou, em décadas de pesquisa, se as pessoas acreditam que a capacidade acadêmica é fixa e não pode ser alterada, ou se elas consideram suas capacidades como algo que pode crescer com a prática.

De forma geral, as pessoas com mentalidade de crescimento parecem mais dispostas a assumir novos desafios e mais capazes de lidar com seus fracassos. E as tentativas de promover a mentalidade de crescimento, aplicadas em um ambiente educacional de apoio, aparentemente aumentam o desempenho médio dos estudantes, de forma que crianças que enfrentam dificuldades possam explorar melhor seu potencial.

Inspirados pelas descobertas de Dweck, psicólogos em todo o mundo vêm explorando o papel dessa mentalidade em muitas outras áreas, incluindo o comportamento de saúde e preparo físico das pessoas, a paixão pelo trabalho e a estabilidade dos seus relacionamentos amorosos.

Se você tem uma “mentalidade de destino amoroso”, você é mais propenso a concordar com afirmações como: “ou os potenciais parceiros de relacionamento são compatíveis, ou não são” e “os relacionamentos que não começam bem inevitavelmente irão fracassar”. E você provavelmente acredita em amor à primeira vista.

Mas, se você tiver a “mentalidade de crescimento amoroso”, você poderá enxergar o amor como algo que floresce à medida que as pessoas se conhecem. Você mais provavelmente concorda com frases como “o relacionamento ideal desenvolve-se gradualmente ao longo do tempo” e “desafios e obstáculos em um relacionamento podem deixar o amor ainda mais forte”.

Esses dois conjuntos de crenças não são necessariamente exclusivos entre si, o que significa que você pode ter notas altas (ou baixas) nas duas medidas. Você pode, por exemplo, esperar que a compatibilidade tenha alguma importância e desejar ter química instantânea com seu futuro parceiro, mas também reconhecer a necessidade de muito trabalho para construir uma conexão mais profunda. E a pesquisa indica que essas crenças podem influenciar profundamente a interação entre os parceiros.

Por exemplo, pessoas com alto grau na escala da mentalidade de destino podem se sair bem na primeira fase do romance, mas são mais propensas a perder o interesse pelo relacionamento em tempos difíceis. “A ideia é que, se meu parceiro e eu estamos em conflito, isso quer dizer que não somos compatíveis”, afirma Dylan Selterman, professor da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (Estados Unidos). Para ele, “as pessoas se afastam da reparação e do compromisso.”

Em um estudo recente, Selterman pesquisou cerca de 500 pessoas sobre as vezes em que elas traíram parceiros em um relacionamento. Ele concluiu que as pessoas com mentalidade de destino eram mais propensas a culpar fatores como negligência do seu parceiro. Quando elas achavam que tudo estava ruindo, elas simplesmente se sentiram menos comprometidas a permanecer fiéis.

Já as pessoas com alto grau na escala de mentalidade de crescimento tendem a lidar melhor com os conflitos, pois elas acreditam que podem trabalhar para superá-los. “Os conflitos podem ser vistos como uma oportunidade para aprender mais sobre o parceiro e crescer junto com ele em uma direção positiva”, segundo Selterman.

No seu estudo sobre a traição, as pessoas com mentalidade de crescimento eram muito menos propensas a culpar problemas como baixo compromisso com seu relacionamento existente pela sua infidelidade.