Como devemos nos comportar após 1ª dose de vacina?

2015-04-10_190211

Você não estará totalmente protegido, e ainda não há evidências de que ter tomado a vacina vai impedir que você pegue o vírus e passe adiante. Então: continue com as medidas de proteção

“Me comportaria exatamente como se ainda não tivesse tomado a vacina”, diz Danny Altmann, professor de imunologia na Universidade Imperial College, em Londres
“Não baixaria minha guarda ou faria algo diferente”, acrescenta ele.
Deborah Dunn-Walters, professora de imunologia da Universidade de Surrey, na Inglaterra, concorda.
“Há algumas razões para isso”, enumera.
“Uma é que você não estará totalmente protegido. E outra é que ainda não há evidências de que ter tomado a vacina vai impedir que você pegue o vírus e passe adiante”.
Dunn-Walters explica que a eficácia das vacinas foi amplamente avaliada analisando se elas evitavam que as pessoas desenvolvessem os sintomas — e não se impediriam que elas contraíssem a infecção.
“E sabemos que é possível ter uma infecção assintomática”, diz ela.
Ainda não há evidências de que uma dose — ou mesmo duas — das vacinas existentes impeça as pessoas de transmitirem o vírus a outras pessoas.

Podemos pular a
segunda dose da
vacina?

“Os testes pré-clínicos teriam mostrado que não haveria imunidade suficiente após uma única dose. Então, eles (cientistas) optaram por duas”, diz Dunn-Walters.
Da mesma forma, durante a fase três de testes, havia mais anticorpos e células T no sangue após duas doses do que após uma.
Em dezembro, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, explicou que seria um “grande erro” pular a segunda dose, porque ela quase dobra a quantidade de proteção que obtemos.
A própria Pfizer e a BioNTech já pediram cautela uma vez que seus dados terminam no dia 21, e “não há informações que demonstrem que a proteção após a primeira dose é mantida após 21 dias”.
É possível que a proteção que as pessoas parecem ter caia repentinamente depois desse ponto – na verdade, isso não seria de todo o modo surpreendente, com base na maneira como o sistema imunológico geralmente funciona.
A estimativa confiável de quanto tempo a proteção de uma única dose pode durar é ainda mais complicada pelo fato de todas as vacinas covid-19 atualmente aprovadas estarem usando tecnologia totalmente nova.
As vacinas Oxford-AstraZeneca e Sputnik-V envolvem versões modificadas de adenovírus — um grupo que pode se dividir em muitos tipos de células diferentes e causar uma série de doenças, como infecções respiratórias.
Enquanto a versão Oxford usa um adenovírus de chimpanzés, a russa inclui uma mistura de dois tipos humanos.
O vírus foi alterado para as vacinas para que seja seguro e não possa fazer mais cópias de si mesmo dentro das células. Ele é capaz de ensinar o corpo a reconhecer o coronavírus codificando as instruções que emulam uma característica encontrada em sua superfície, a proteína spike.
Embora os adenovírus vêm sendo usados em vacinas contra o câncer e terapia genética por anos, eles só tinham sido usados uma vez antes para prevenir uma infecção viral — uma vacina contra o ebola usando esse método foi aprovada para uso nos Estados Unidos em dezembro de 2019.
As vacinas da Moderna e da Pfizer-BioNTech, por outro lado, são indiscutivelmente ainda mais pioneiras.
Ambas contêm incontáveis fragmentos minúsculos de mRNA, que — assim como a vacina baseada em adenovírus — codificam a proteína spike da superfície do coronavírus.
Eles são as únicas vacinas de mRNA que já foram aprovadas para uso em humanos.
Portanto, sem poder estabelecer comparações prévias, o mundo se encontra em um território desconhecido.
Ronald Corley, professor de microbiologia da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, explicou recentemente que há muitas incógnitas sobre as vacinas, como se funcionarão tão bem em pessoas de diferentes etnias e quanto tempo vai durar a imunidade.
A CoronaVac contém partículas de coronavírus inativadas. Este método é menos incomum – o conceito de usar patógenos mortos em vacinas existe desde o fim do século 19.
No entanto, não sabemos quanto tempo durará a imunidade, já que nenhuma vacina feita a partir de um membro dessa família de vírus havia sido aprovada antes da pandemia.

A imunidade leva
tempo para se
desenvolver

Por fim, Dunn-Walters faz questão de salientar que a imunidade leva tempo para se desenvolver – então, independentemente de uma única dose de qualquer uma das vacinas covid-19 poder fornecer proteção, não estaremos totalmente imunes nas primeiras semanas.
“Há uma parte do sistema imunológico que chamamos de imunidade inata, que responde imediatamente”, diz Dunn-Walters.
Isso abrange barreiras físicas à infecção, como a pele, bem como certos tipos de glóbulos brancos e sinais químicos.
Mas a especialista explica que esse tipo de imunidade geralmente não pode prevenir a doença por conta própria — e não é afetada pelas vacinas.
“Neste sentido, precisamos de imunidade adaptativa. Mas o problema com a imunidade adaptativa é que, como o próprio nome diz, ela é adaptativa — ou seja, se adapta aos desafios individuais dos patógenos”, explica.
Para que as vacinas tenham algum efeito, elas devem estimular o corpo a produzir mais células imunológicas — algumas das quais, por sua vez, produzem anticorpos.
“E isso leva tempo”, acrescenta Dunn-Walters.
Portanto, embora o lançamento global das novas vacinas seja uma notícia emocionante e deva ser celebrado, parece que a maioria de nós terá que esperar um pouco mais antes de que nossas vidas voltem ao normal.