Coluna | Você vai precisar cuidar da saúde mental, ainda que conquiste tudo o que deseja

2015-04-10_190211

Viviane Tremarin – Psicóloga Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Juliette Freire se tornou a queridinha do país em pouco tempo, e seus trinta milhões de seguidores nas redes sociais são a prova disso. Eu sou um deles. Assim que sua vitória foi anunciada no Big Brother Brasil desse ano eu corri para acompanhá-la no Instagram, curiosa para ver que rumos sua vida seguiria agora que ela faz parte do time dos milionários.


E quem assim como eu, fez isso, se deparou com um perfil pouco atualizado. Que decepção Juliette, queríamos mais do seu carisma e só recebemos pequenos recortes de publicidades que você estava gravando. E assim se manteve. Quem acessar o perfil da campeã agora não vai encontrar a vida que estamos acostumados a ver exposta nas redes sociais. Mas esse recolhimento digital esconde uma dificuldade que recentemente ela contou na sua rede social: ansiedade.

Nova vida, novos obstáculos
A nova vida, a fama, a carreira que deslanchou repentinamente fizeram com que Juliette encontrasse um acompanhante indesejado comum entre as pessoas. Agora a paraibana precisa lidar com milhares de pessoas cobrando sua atenção, procurando por segredos em suas publicações, inventando notícias com seu nome. Tudo que ela faz é fiscalizado e questionado, e se isso já não fosse o suficiente, ainda precisa lidar com as críticas daqueles que não gostam dela, e rever os momentos aonde pessoas em que ela confiava no programa, a traíram.


Sim Juliette, é muita coisa de uma vez só, o corpo responde. E nem posso dizer que o medo que surgiu diante disso tudo é irracional, pois a era digital nos deixou críticos e intolerantes.


Estar exposto em qualquer meio de comunicação atualmente é estar diante do cancelamento de milhares de pessoas.Juliette declarou em entrevista que tem dormido pouco, que tem memórias perturbadoras do que viveu no programa e que não consegue se alimentar direito devido a ansiedade. Ela diz sentir tremores e medo intenso. Angústia, medo, preocupação com o futuro e pensamentos catastróficos são sintomas comuns da ansiedade. E Juliette tem feito o melhor que pode no momento – esperar.


A rede social é importante para os negócios, mas ela não vale o preço caro que se paga quando a saúde mental está em risco. A paraibana também tem acompanhamento psicológico duas vezes na semana. Uma das lições que podemos tirar dessa situação é sobre respeito. Respeitar a si e ao seu tempo.


Ir na sua velocidade e não naquela que o mundo espera. Juliette nesse momento está aprendendo e ensinando, com seu afastamento, a identificar o que é necessidade do outro e quais são as próprias, e é preciso discernimento e sabedoria para escolher qual será atendida. Eu diria que ela escolheu bem, porque você sempre está no caminho certo quando escolhe a si mesmo (a .

A mente ansiosa
Entender os próprios limites é essencial para saber quando se está passando do ponto. E se torna ainda mais essencial quando falamos em redes sociais e em mundo digital. Nele, estamos passando do ponto quando postamos em uma velocidade tão grande que as pessoas nem conseguem acompanhar e também quando temos que nos manter conectados o tempo todo, se não temos a sensação de que estamos perdendo o que é publicado.


E esses comportamentos tem consequências diretas na ansiedade, depressão e no burn out (síndrome de esgotamento profissional). E para frear esse processo é necessário descansar. Pausas também fazem parte do movimento, e se não soubermos como ouvir um corpo cansado, ele mesmo responderá adoecendo.

Todos sentimos ansiedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil tem o maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo, cerca de 9,3% da população. Ela é natural assim como a felicidade e a tristeza.
Se fosse possível viver sem ansiedade também viveríamos sem ânimo e sem interesse por nada, porque a ansiedade é responsável por nos impulsionar a tomar atitudes e até a evoluir emocionalmente.


Apesar de grande parte das pessoas não gostarem de senti-la, ela é importantíssima para a sobrevivência e adaptação ao ambiente. Sem ela, ficaríamos imóveis diante de um animal que quer nos devorar. Mas normalmente não estamos diante de animais que querem nos devorar e mesmo assim a sentimos, porque às vezes nossa mente vê perigo aonde ele não existe.


A ansiedade é natural e necessária, mas quando a reação se torna intensa e desproporcional à situação, ela causa muito sofrimento e perdas, e quando isso acontece ela passa a ser considerada uma doença.
Alguns sintomas físicos da ansiedade são tão intensos que quem sente acredita estar morrendo

Aprendendo a desacelerar num mundo frenético
Alguns sinais da crise de ansiedade podem envolver taquicardia, tremor, sudorese, falta de ar, adormecimento de partes do corpo e enjoo. Não nos livramos da ansiedade, afinal, sem ela estaríamos desprotegidos, mas podemos aprender a conviver com ela de forma que ela não tome conta de nossas vidas.


O primeiro passo é respirar. Simples né? Mas quando estamos tendo uma crise de ansiedade acabamos por focar nos sintomas físicos que estamos tendo e é importante mudar o foco. A respiração é um calmante natural já que ela regula os níveis sanguíneos de oxigênio e dióxido de carbono, além de regularizar o ritmo cardíaco. Respirar lenta e profundamente é o primeiro exercício que uma pessoa com ansiedade deve aprender já que quando estamos ansiosos, normalmente a respiração é curta e rápida.

Um professor certa vez disse que é possível ter um ataque de pânico apenas forçando a respiração, para mostrar como ela é bem relevante em casos como esse. Para isso existe a técnica 4-7-8, ela é baseada em uma antiga técnica da ioga e ajuda os praticantes a obterem controle da respiração proporcionando relaxamento.


Nela você deve soltar todo ar dos pulmões com a boca, então fecha-la e inspirar pelo nariz contando mentalmente até o número 4; parar a respiração mantendo o ar nos pulmões enquanto conta mentalmente até o número 7; e soltar novamente o ar pela boca contando até o número 8. Todo esse processo é um ciclo de respiração que deve ser repetido quantas vezes for necessário.

Essa é apenas uma técnica que busca alívio dos sintomas da ansiedade. O diagnóstico e tratamento precisa ser feito por um profissional. Se assim como Juliette, você percebe que a ansiedade tem te travado, procure ajuda psicológica.