Como reconhecer uma relação abusiva antes de estar envolvido nela

2015-04-10_190211

No último domingo vieram à tona imagens aonde Pamella Holanda é agredida pelo ex-marido na frente da filha de nove meses e da própria mãe. O autor das agressões é o conhecido Dj Ivis, ele vinha de uma onda crescente em sua carreira, gravando com os artistas mais ouvidos do momento e foi demitido e preso após a divulgação da filmagem.

Me chamou a atenção o grande aumento de seguidores que o agressor teve em suas redes sociais depois do ocorrido. Mais de 235 mil para ser exata. A mesma sociedade que “cancelou” e fez Karol Conká perder 800 mil seguidores no BBB depois de ser agressiva com outro participante, é a mesma que, em meio a uma denúncia de violência doméstica faz aumentar o engajamento de um agressor nas redes sociais.

Acredito que as pessoas que estão seguindo as redes sociais de Dj Ivis sejam apenas curiosas. Elas querem saber o que o Dj tem a dizer, quais os desdobramentos da história, o que as marcas patrocinadoras farão a partir de agora. Não são pessoas que compactuam com violência doméstica. E isso torna a situação ainda mais problemática, porque diante de uma mulher mostrando sua rotina de agressões, as pessoas estão preocupadas com a fofoca que isso gera.

Cenas de um relacionamento abusivo se afastam da rejeição e se tornam entretenimento, é a naturalização de mais um comportamento que nos mata. Não dá para ser espectador quando a vida de alguém está em risco.

Como identificar um abusador antes que seja tarde
O abusador demora a mostrar as caras. Não pensem que somos ingênuas e percebemos que a pessoa é agressiva e ainda assim investimos na relação. As pessoas que abusam também não são ingênuas e sabem que antes de atacar precisam da certeza de que não vamos a lugar nenhum.

Por isso, é importante identificar um potencial abusador antes de investirmos na relação e antes de nos vermos presas nela. Fomos educadas no amor romântico. Aquele que nos diz que encontraremos nossa alma gêmea, que está por sua vez, fará tudo por nós e então viveremos o felizes para sempre. E acredite, essa pode ser a maior armadilha que se ensina a alguém.

Quando conhecemos uma pessoa intensa, que se envolve bastante, que tem necessidade de contato frequente e em pouquíssimo tempo já considera a relação séria, acreditamos ter realizado o sonho do amor verdadeiro. Nem percebemos que a intensidade e envolvimento dela podem ser reflexos de uma dependência emocional, ou que a necessidade de contato frequente é uma forma mascarada de controle e dominação.

Ou quando nos oferecem mundos e fundos, e até dizem para sairmos do trabalho, pois eles arcarão com as despesas, soa como a realização dos maiores desejos, até percebermos que a pessoa nos fez sair do emprego para que nos tornássemos dependente financeiramente dela. E tudo isso, no futuro, se transforma em uma relação abusiva se nos deixarmos seduzir.

Uma pessoa desesperada para ter um relacionamento pode ser um fator de risco. Outro indicador de pessoa abusiva é a forma como ela monopoliza nossa atenção, nos desencorajando a estar com outras pessoas. A forma como ela descreve seus antigos relacionamentos pode nos mostrar como seremos tratadas se a relação seguir.
Com isso, eu não quero dizer que as pessoas são geralmente ruins e que devemos duvidar da demonstração de interesse delas. A intenção é apenas que estejamos atentas para diferenciar e identificar os sinais de um parceiro interessado e de um abusador. O interesse não gera medo, desconforto ou controle.

O relacionamento abusivo não acaba quando termina. As marcas dele podem nos acompanhar para sempre quando não as tratamos, e principalmente, a relação pode voltar a se repetir quando não aprendemos a identificá-la.

Fatores de proteção
Existem atitudes que podemos exercitar a partir de agora para evitar cair nessas armadilhas. Inteligência emocional é fundamental para saber interpretar as emoções dos outros e as próprias, e para saber lidar com elas também. Com ela, você percebe que seu medo e seu desconforto são um alerta, e aprende a respeitar as emoções protetivas, ao invés de ignorá-las.

O autoconhecimento é muito importante para entender por que você se relaciona com o tipo de pessoa com quem se relaciona. Às vezes jogamos na conta do “dedo podre” escolhas que são feitas de forma inconsciente, e saber por que elas são feitas, pode nos proteger de entrar em furadas.

Reforce sua autoestima, afinal, um abusador não vai te convencer que você não é boa o suficiente, quando você tem certeza de quem é. Mantenha por perto pessoas de confiança e se elas disserem que a relação parece problemática, tente ouvir.

Empodere-se de si, do seu valor, das suas qualidades, assim um abusador até tentará dizer que o problema está em você, mas você saberá da sua verdade e vai perceber de longe que uma pessoa que não reconhece seu valor não merece o seu amor.

Me relaciono com uma pessoa abusiva, e agora?
Ou talvez você não tenha certeza se esse relacionamento é abusivo devido as sutilezas. O fato de você se questionar é um indicador. Um relacionamento saudável não desperta dúvidas sobre como devemos ser tratadas.

Algo importante de se ter em mente quando você se percebe vivendo uma relação abusiva é que ela existe dentro de um ciclo. Inicialmente ocorre o aumento de tensão que pode ser causado por um incidente, por algo que deixou o outro enciumado ou até por não ter feito o jantar que ele queria, nesse momento a desaprovação pode vir pelo olhar, pelo tom de voz, por qualquer comportamento que nos faça sentir medo após ter “cometido um erro”.

Essa tensão evolui para a violência propriamente dita por gritos, ofensas, intimidação, quebrando coisas, socando paredes ou agredindo fisicamente. O ciclo continua com o pedido de desculpas, normalmente usando fatores externos para justificar o exagero, a pessoa culpa você, o trabalho, a bebida, o trânsito, mas nunca a si mesma.

Te promete melhorar e vem a última fase, da lua de mel, aonde ela muda completamente os comportamentos, volta a ser gentil e amável até o próximo aumento de tensão.
Normalmente é a fase de lua de mel que “segura” a vítima na relação, pois essa fase dá esperança de que o agressor vai melhorar. Identificar que esse ciclo está acontecendo e interrompê-lo antes que ele volte a se repetir é essencial para a proteção da vida. Não espere até o próximo aumento de tensão para buscar ajuda, pois ele pode custar sua vida.

Eu sei que sair de um relacionamento abusivo não é fácil. Que a autoestima é destruída e a autoconfiança diminuída a ponto de não ver saída quando embarcam nessas relações. Para sair delas é necessário antes se fortalecer, por isso o melhor que podemos fazer é buscar ajuda, pois o abusador cresce dentro do nosso isolamento.
Mantenha sua rede de apoio por perto. E como podemos ver em todos os casos de violência doméstica que se tornam assunto nacional, parte do rompimento desse ciclo de violência vem com a denúncia.

Se você conhece alguém que vive uma relação abusiva seja gentil. Excluir, criticar ou culpar a vítima só vai fazer com que ela se isole ainda mais e fique à mercê do abusador. Se você sofre com um relacionamento que te diminui, te humilha e te controla, procure ajuda. Não se esqueça que existem serviços públicos para ajudar mulheres vítimas de violência, ligue 180 e denuncie.