Coluna | As barreiras invisíveis da produtividade

2015-04-10_190211

Viviane Tremarin – Psicóloga e Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Se tem um filme que eu queria poder apagar da memória para poder ter sempre a sensação da primeira vez é “na natureza selvagem”. Ele conta a história real de um jovem de família rica, que após se formar na faculdade troca a carreira prestigiosa e lucrativa por uma vida de desapegos materiais e emocionais. Ele doa suas economias e pertences e parte a pé, sozinho, da Califórnia em direção ao Alasca. Eu não vou estragar a experiência do filme contando os finalmentes, mas acompanhamos dois anos de lindas paisagens e grandes aprendizagens de um homem que escolhe a natureza como companhia.

Eu conto isso, porque grande parte das pessoas que sentam na poltrona do meu consultório em algum momento traz a mesma queixa: procrastinação. “Eu queria largar tudo e correr pelo mundo, mas tenho que apresentar os resultados mensais as 18:00 horas e nem comecei a fazer”. Nem todos temos o mesmo espírito aventureiro do moço do filme – ou a coragem. Bom, para quem vai largar tudo e viver sua vida dos sonhos eu desejo sorte, mas quem vai continuar por aqui enfrentando batalhas contra a procrastinação, eu tenho algumas dicas que podem ajudar a sair vencedor dela.

Por que eu adio o que pode ser feito agora?
A procrastinação pode facilmente ser confundida com preguiça, falta de vontade, desinteresse ou dificuldade de gerenciar o tempo. Ela acontece quando atrasamos, intencionalmente e com frequência, o começo ou término de uma tarefa. Estudos indicam que existe um fator emocional ligado a ela, isso significa que, quando temos uma tarefa que causa “mau humor”, nós tendemos a fazer algo que melhore o humor, e não que conclua a tarefa – por isso damos aquela checada nas redes sociais antes de iniciar um trabalho chato – é uma tentativa do cérebro de evitar mal estar.

Todo mundo – sem exagero – já procrastinou alguma vez. Um estudo mostrou que 20% dos adultos são procrastinadores crônicos, e no Brasil, essa é a batalha de 20 milhões de pessoas. Para uma parcela da população, deixar para depois é um hábito tão destrutivo que se transformou em autossabotagem. Ou é a autossabotagem que está fazendo as pessoas procrastinarem mais? Em alguns casos, ela pode ser sinal de depressão, de transtorno obsessivo compulsivo ou do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Sendo assim, é essencial que se busque um profissional quando essa prática se tornar excessiva, ela pode esconder algo a mais.

A procrastinação pode ser um sinal de disfunção no organismo, a falta de vitamina D, por exemplo, está relacionada a sensação de cansaço e fadiga. O excesso de atividade também pode influenciar, então perceba se você está adiando o trabalho ou está apenas cansado. Outro fator que pode ajudar na hora de deixar para depois é o medo do que as pessoas vão pensar sobre seu trabalho, como está a sua autocrítica? O desejo de entregar algo que seja perfeito pode fazer com que você perca os prazos.

Esse obstáculo invisível acompanha também as tarefas que desejamos fazer. Como eu mencionei, o cérebro quer proteger o bem-estar mental, e a possibilidade de falhar e de se frustrar causa sentimentos desagradáveis que podem estar atrasando a realização das atividades que queremos fazer. Fato é que esse hábito prejudica muitas pessoas e nos rouba um bem muito precioso, nosso tempo, além de sempre andar acompanhado da culpa.

Estratégias para parar de deixar para depois
Qual a sua motivação? Às vezes, estar alinhado com ela ajuda. Por que você precisa fazer o que tem que fazer? Estudar, por exemplo, pode ser bem chato, mas é necessário se você deseja concluir um ensino. Fazer essa tarefa vai te ajudar a chegar em que lugar? Ao invés de olhar a atividade isolada, olhe para os resultados que terá se a fizer. Coloque na balança aquilo que é mais importante no momento. Assistir série é muito mais divertido do que fazer aquela tarefa, mas qual das duas atividades vai de encontro aos seus objetivos?

Às vezes o estresse e a culpa de não fazer a tarefa, incomodam mais do que a fazer. Se você sabe que se sente mal depois de adiar uma atividade, faça-a agora. Em alguns momentos, o necessário para concluir uma tarefa é começá-la, depois de iniciar o cérebro se acostuma, e fica mais simples de terminá-la. E respeite as pausas, o descanso é importante para refrescar o cérebro.
Planeje suas atividades sabendo que haverá obstáculos. É possível que alguém te interrompa e você volte a atividade com outra energia. Aceite os sentimentos que vieram e apenas tente recomeçar. Também é importante fazer um plano realista. Não adianta querer terminar em um dia uma tarefa que leva mais tempo do que isso, a frustração e o cansaço só farão a indisposição aumentar.

Para isso, você pode dividir uma tarefa em pequenas tarefinhas, já que às vezes ver pequenas tarefas simples é mais motivador do que ver uma grande tarefa complexa. E existe aquela máxima infalível: se vai levar menos de dez minutos para fazer, então faça agora. O autoconhecimento também pode ser de grande ajuda na hora de lidar com a procrastinação. Você tem mais disposição durante o dia ou a noite? Ouvir música enquanto faz a tarefa ajuda ou atrapalha? Você trabalha melhor quando está sentado confortável ou quando mantém uma postura rígida? Você prefere a luz natural de uma janela ou precisa da luz forte da lâmpada? Adaptar a atividade a sua forma de funcionar a torna mais agradável e ajuda seu corpo a se sentir bem enquanto a faz.

Existe também uma técnica, chamada pomodoro, ela é pensada para aquelas pessoas que não conseguem manter o foco na mesma atividade por muito tempo, nela você foca por vinte e cinco minutos no trabalho e faz uma pausa de cinco minutos, repetindo o processo até que a tarefa esteja terminada. E sempre se parabenize pelo que fez. Você não precisa construir algo grande para ser recompensado pelo seu esforço. Está liberado dar dois tapinhas nas próprias costas e comemorar as pequenas conquistas, você merece. Ao invés de desistir de si, vamos tentar aos pouquinhos. Hábitos são construídos com o tempo, então evite se cobrar pelas falhas das tentativas iniciais. Lembre-se que você fez o melhor que pode com os recursos que tinha no momento.