Cérebro dos homens envelhecem mais rápido depois de luto e divórcio, diz estudo

2015-04-10_190211

Estudo realizado nos Estados Unidos observou que o envelhecimento do órgão pode estar associado a experiências de vida negativas

 

Luto, divórcio, dificuldades financeiras e descoberta de grandes problemas de saúde. Essas e algumas outras situações negativas e altamente estressantes podem fazer com que o cérebro de homens de meia-idade envelheça mais rápido. É o que sugere um estudo feito com 359 pacientes da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos.
Ao avaliar imagens de ressonância magnética, os pesquisadores observaram que uma única adversidade pode acelerar o envelhecimento do cérebro de homens em até 0,37 anos. Ou seja, a fisiologia do órgão pode ficar um terço de ano mais velha do que a idade real da pessoa.
“Passar por mais eventos negativos na meia-idade — particularmente relacionados ao divórcio, separação ou morte de algum parente — foi associado ao envelhecimento avançado e previsto do cérebro,” afirma Sean Hatton, principal autor da pesquisa.
Outros estudos já relataram como o envelhecimento do cérebro está relacionado à deterioração biológica e ao envelhecimento prematuro, causado por defeitos mitocondriais e oxidantes nas células, sistema imune debilitado ou mudanças genômicas. Esse estudo, por sua vez, mostra algumas evidências de uma possível relação entre envelhecimento molecular e mudanças estruturais do cérebro em resposta a eventos muito estressantes.

A pesquisa
Para fortalecer os resultados do estudo, mais pesquisas como esta devem ser feitas com pessoas de perfis diferentes do grupo monitorado até agora: masculino, branco e entre 57 e 66 anos.
Além disso, todos os homens analisados pelo estudo participaram também do Vietnam Era Twin Study of Aging (VETSA), projeto da Universidade de Boston que pesquisa as influências genéticas e ambientais no envelhecimento do cérebro de meia-idade.
Para o estudo, os participantes tiveram que contar os eventos que mudaram suas vidas nos últimos dois anos. As respostas foram comparadas com relatos dados por eles há sete anos, quando entraram para o VETSA, e, por fim, foram realizados exames de ressonância magnética, dentre outras avaliações físicas e psicológicas.
Os pesquisadores mensuraram aspectos fisiológicos do cérebro, como o volume e a espessura do córtex cerebral, dentre outras áreas importantes para a cognição humana. Após coletados, os dados foram analisados por softwares avançados que preveem o envelhecimento do cérebro e indicaram a possível relação entre eventos estressantes e a idade do órgão.

Não existe cérebro masculino e feminino
Um estudo com centenas de imagens de cérebros de homens e mulheres não encontrou provas de que exista um cérebro masculino e outro feminino. Embora haja algumas diferenças anatômicas em determinadas áreas em função do sexo, estas não permitem dividir os humanos em duas categorias. Na verdade, o cérebro de cada um é um mosaico com elementos tanto femininos quanto masculinos.
Ideias como a da inteligência emocional e best-sellers recentes como O Cérebro Feminino ou, no século passado, a saga Os Homens São de Marte, as Mulheres São de Vênus, alimentaram a tese do dimorfismo sexual do cérebro. Se há diferenças entre homens e mulheres em outras partes da sua anatomia, em especial os genitais, por que não haveria no cérebro? E, se existe no que é físico, ou seja, no cérebro, também deve existir no que é essencial, a mente.
Entretanto, não há provas de que, do ponto de vista da matéria cinzenta, da matéria branca, das conexões neuronais e da espessura do córtex cerebral, o cérebro de uma mulher e de um homem sejam diferentes pelo simples fato de seu sexo ser distinto. As provas, aliás, apontam para o contrário. Em um dos maiores estudos já feitos, um grupo de pesquisadores israelenses, alemães e suíços comparou a anatomia de 1.400 cérebros de homens e mulheres para concluir que, mais do que duas categorias, o que existe é um mosaico cerebral.
As teorias sobre a diferenciação sexual no cérebro ganharam força em meados do século passado. Mas, como comenta o pesquisador Xurxo Mariño, da Neurocom e da Universidade de Coruña, “esses trabalhos se centraram na sexualidade, em especial no estudo da emergência da homossexualidade”. Alguns se empenharam em encontrar anomalias anatômicas que a explicassem, e encontraram algumas, como o menor tamanho de uma estrutura cerebral chamada estria terminal nas mulheres e também nos homens transexuais. Mas boa parte daquela ciência partia da ideologia.
Os estudos na época se baseavam em questionários, não em observações diretas do cérebro e suas diferenças anatômicas. Isso é algo que só a moderna tecnologia de imagens neurológicas está permitindo. Ainda assim, recorda Mariño, “já em 1948 houve quem falasse mais de um contínuo cerebral do que de categorias dicotómicas”. Foi o biólogo Alfred Kinsey quem, com sua escala sobre a orientação sexual, antecipou-se ao estudo atual.

As modificações do cérebro
Menor massa cerebral. A partir da quinta década de vida, o cérebro passa a perder aproximadamente 4,5 gramas por ano. Ou seja, com 100 anos, é normal perder mais ou menos 20% da massa cerebral. Isso não representa prejuízo ao indivíduo.
Redução da Densidade Neural. É uma redução leve em pessoas saudáveis. Pode ocorrer por perda de neurônios ou por redução do tamanho destas células, que encolhem.
Depósito de proteína amilóide. Acontece nas regiões corticais do cérebro em forma de placas extracelulares ou com acúmulo nas paredes vasculares. Normalmente, em menor quantidade que em pessoas com demência.
Emaranhados Neurofibrilares presentes nas região do Hipocampo (não disseminados, como nas pessoas que desenvolvem demência).
Achados microvasculares. Pequenos derrames cerebrais deixam algumas lacunas localizadas no cérebro. Ocorrem principalmente em pessoas com histórico de hipertensão não controlada.

Como evitar o envelhecimento do cérebro de idosos
Um estudo publicado na revista americana Neurology aponta que algumas características, hábitos de vida e cuidados com a saúde podem ser associados à manutenção das capacidades intelectuais dos idosos. Em oito anos de pesquisa, foram acompanhadas 250 pessoas com idades entre 70 e 79 anos.
Os voluntários foram submetidos a testes de habilidades cognitivas, sendo que muitos apresentavam redução dessa função. No resultado, 53% dos idosos apresentavam um declínio considerado normal conforme envelheciam, 16% deles tinham uma redução mais acentuada e 30% não apresentaram mudança no desempenho dos testes durante os anos.
Através dos resultados, os pesquisadores notaram que os idosos que se exercitavam fisicamente pelo menos uma vez por semana, tinham completado o ensino médio, não fumavam e levavam uma vida social agitada tendiam a manter as funções cognitivas melhor conservadas na terceira idade.