Censo 2022 revela menor número de crianças desde 1970. Como melhorar a educação? 

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Especialistas defendem manter investimentos para reduzir déficit histórico na qualidade do ensino no país

Em 2022, o Brasil já tinha menos de 20% de sua população formada por crianças e adolescentes, informou nesta sexta-feira o IBGE ao divulgar os dados do Censo 2022. São 40 milhões de brasileiros com idades entre 0 e 14 anos – praticamente o mesmo número do censo de 1970, quando eram 39 milhões de crianças no país.

Para se ter uma ideia, em 1980, quase 40% da população (39,8%) eram de crianças e adolescentes. Em pouco mais de uma década, ou seja, desde 2010, houve uma redução de 5,8 milhões no número de brasileiros com menos de 14 anos.

CENSO 2022:

  • Diante de um público menor a ser atendido pelas políticas públicas de educação, o que cria uma maior folga de recursos, especialistas avaliam que é preciso adotar estratégias mais assertivas para eliminar o déficit histórico do país na oferta de ensino de qualidade, com foco em minimizar as deficiências de cada região.

 

A parcela de crianças de 6 a 14 anos na escola também caiu, de 97,1% para 95,2%, refletindo os efeitos da pandemia de Covid-19.

Professor da Faculdade de Educação da USP, Daniel Cara destaca que esse público é um dos que tiveram a educação mais afetada pela falta de investimento público e pela defasagem na alfabetização, que foi agravada durante a pandemia.

— A educação infantil já é subfinanciada. Por isso, mesmo com a redução da população de crianças e adolescentes, o direcionamento de verba para essa área precisa continuar, conforme a demanda de cada estado e município. É preciso corrigir uma defasagem histórica na alfabetização, com investimento em escola de tempo integral, melhor remuneração dos professores e a infraestrutura das escolas — aponta o especialista.

Para João Marcelo Borges, pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais, da Fundação Getulio Vargas (FGV), as estratégias de política pública precisam levar em consideração o recorte de raça e renda.

Além disso, as regiões com maior demanda de crianças e adolescentes — Norte e Nordeste, respectivamente — também exigem mais atenção.

— A população branca é a que mais envelhece no Brasil, ao mesmo tempo em que é a menor em número de crianças. Hoje, o público que ainda cresce demograficamente acima da taxa de reposição está integralmente formado por pessoas negras e pobres. Por isso, para ter uma educação de sucesso, é preciso que um investimento eficiente e eficaz seja reforçado nessa parcela das crianças e jovens brasileiros — explica Borges

Estratégias de longo prazo

 

Ainda de acordo com o especialista, com a diminuição da população de 0 a 14 anos no país, o planejamento na área da educação precisa ser mais assertivo. A construção de escolas, por exemplo, precisa levar em consideração a demanda de cada região, assim como a contratação e formação de professores.

Borges acrescenta:

“Todo investimento na educação é um investimento no país, visto que essas crianças entrarão para o mercado de trabalho e contribuirão para o gasto do Estado em saúde e previdência, áreas que serão ainda mais demandadas devido ao envelhecimento populacional”

 

Ele exemplifica ainda a necessidade de pensar a longo prazo:

— Um prédio escolar tende a ser útil por 30 anos, por isso é preciso pensar em construções mais fáceis que possam ser adaptadas no futuro com a queda no número de crianças no Brasil.

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