Brinquedos “de menina” escanteiam as garotas da ciência

2015-04-10_190211
Barbies, panelinhas, bonecas e a maioria dos brinquedos tidos como “femininos” não instigam a criatividade, o senso crítico e o desenvolvimento de habilidades motoras. Pelo contrário, são objetos atrelados à passividade, à vaidade e à subserviência

Classificação de brinquedos “para meninos” e “para meninas” estimulam a curiosidade dos rapazes e escanteiam as garotas

 

Não há dúvidas sobre a interferência estereótipos precoces na construção da identidade de gênero acaba influenciando também nas escolhas profissionais. Isso ajuda a explicar um pouco porque as mulheres não são tão presentes na ciência quanto os homens.
Os estereótipos de gênero começam cedo na vida. Mesmo antes do bebê nascer, os pais pintam o quarto de rosa se vier uma menina ou de azul, caso venha um menino. Quando a cor não identifica o sexo do bebê, as roupinhas, os brinquedos e os enfeites do quarto entregam e assim começa a segregação. Cor de menina, brinquedo de menino, roupa de menina, modos de menino…

Discriminados na maternidade
O lugar das mulheres dentro dos laboratórios começa a ser cerceado ainda na infância. E o dos homens, incentivado.
Para a professora de física experimental e conselheira da Universidade de Cambrigde, Athene Donald, os brinquedos sexistas fecham as portas da ciência na cara das mulheres. Segundo ela, Barbies, panelinhas, bonecas e a maioria dos brinquedos tidos como “femininos” não instigam a criatividade, o senso crítico e o desenvolvimento de habilidades motoras. Pelo contrário, são objetos atrelados à passividade, à vaidade e à subserviência.
Já brinquedos “de menino”, como Legos, carrinhos, jogos de química, maletas de mecânico, dão mais oportunidades para a criança ficar exposta a brincadeiras que envolvam ciência e engenharia – e, claro, aumentam as chances de ser influenciada por esses conhecimentos desde cedo.
“Precisamos mudar a mentalidade dos pais e professores. O problema de como induzimos estereótipos de gênero em nossos filhos começa incrivelmente cedo. Tem gente que acha que o que uma criança faz aos quatro anos é irrelevante para suas escolhas futuras, mas não é”, afirma Donald, que também é vencedora do prêmio L’Óreal-UNESCO para mulheres em ciência.
Um estudo da Universidade de Washington reforça a teoria de Donald: antes mesmo de aprender as operações de divisão e multiplicação, as crianças já acham que “matemática é para meninos”.
A pesquisa, conduzida pelo psicólogo Andrew Meltzoff, especialista em desenvolvimento infantil e co-diretor do Instituto de Aprendizado e Ciências do Cérebro da Universidade de Washington, mostra que o estereótipo de que as ciências exatas são para meninos aparece antes do 2º ano do ensino fundamental.
Um grupo de 247 crianças de 1ª a 5ª série participou de testes que associavam matemática e gênero. Foram avaliados três aspectos: identidade de gênero (se a criança se identifica como feminino ou masculino), associação da capacidade matemática a gênero e autoavaliação sobre habilidades matemáticas.
Em um dos testes, foi pedido às crianças que combinassem quatro tipos de palavras: nomes de meninos, nomes de meninas, palavras relacionadas à matemática e palavras comuns.
Como esperado, a maioria das crianças – tanto meninos como meninas – associou os termos matemáticos a nomes de meninos. Além disso, no teste de autoavaliação, mais meninos do que meninas se declararam identificados com perfil matemático.