Primeira audiência debateu as perdas no ensino durante a pandemia
A Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento e Bem Estar Social da Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves realizou, nesta semana, a primeira audiência pública para debater além da proposta de redução do percentual de investimentos do município, relacionada à área da Educação.
Esse primeiro encontro serviu para debater sobre aulas presenciais e perdas da Educação na pandemia. A sessão foi presidida pelo vice-presidente da Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento e Bem-Estar Social, vereador Eduardo Pompermayer (DEM). A reunião ocorreu na noite de terça-feira (1º), e contou com participação de vereadores, secretários municipais, professores, diretores de escolas e estudantes de Bento Gonçalves.
A Secretária Municipal de Educação Adriane Zorzi, explanou sobre os desafios enfrentados pela pasta para que todos os alunos fossem assistidos. “Cada aluno, professor e equipes diretivas, receberam login e senha para acesso as atividades virtuais, e tiveram todo acompanhamento”, explicou a secretária.
Adriane ainda falou dos investimentos que estão sendo feitos na área. “Estamos equipando todas as escolas com, pelo menos, um computador por sala de aula, para que os professores possam fazer aulas síncronas. Um novo laboratório de informática para que essas aulas on-line possam ser aprimoradas”, revela.
Também participou da audiência o coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Alexandre Misturini. Em sua explanação, o professor disse que os professores foram treinados pelo Estado para saberem utilizar a plataforma virtual. “As escolas estaduais utilizam a ferramenta Google Classroom para aulas virtuais. O Governo do Estado realizou treinamento com todos os professores para que a ferramenta pudesse ser utilizada da melhor forma possível”, acrescenta.
Ele ainda parabenizou a Secretaria Municipal de Educação pelos esforços realizados em Bento Gonçalves. “Tenho que dar parabéns a Bento Gonçalves pelo investimento pesado em base tecnológica para possibilitar esse ensino híbrido”, felicitou.
Estudantes e professores
Alunos e professores também se manifestaram com preocupação sobre o futuro da educação. Uma das surpresas da sessão foi a manifestação de Gabriel Stella, representante da União dos Estudantes Secundaristas de Bento Gonçalves (UESB). A entidade, fundada em 1957, havia sido encerrada em 2010, mas foi refundada no final de 2019. “O movimento estudantil na cidade era extremamente fraco, por isso refundamos a entidade e estamos atuando buscando fortalecer os Grêmios Estudantis. A meta é que cada escola de Bento tenha, ao menos, um Grêmio que represente seus alunos”, afirma.
Segundo Stella, a pandemia mostrou o quão defasada é a estrutura da sociedade para ter o ensino remoto. Para ele, a dificuldade não é só dos professores, mas também dos alunos. O representante da UESB aproveitou a oportunidade para criticar a realização da última edição do Enem alegando que os alunos não estavam preparados para realização das provas. “Foi o mais desigual, antidemocrático, heterogêneo e desproporcional, injusto, parcial e, principalmente, discriminatório ato educacional que já ocorreu na história contemporânea da Educação brasileira”, pronunciou.
Stello encerrou fazendo um pedido ao poder público de Bento Gonçalves. “Ao poder público, olhem os estudantes com carinho, olhem as escolas com carinho para valorização de um aspecto que é tão importante e tão essencial em uma sociedade”, finaliza.
A presidente regional do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Simpro-RS), Marta Bertani, também se manifestou e aproveitou a ocasião para desabafar. “A gente trabalhou muito, a gente nunca trabalhou tanto, a gente cansou muito, a gente nunca chorou tanto também. Por mais que fizéssemos ao longo desse tempo sempre tinha alguém para criticar e dizer quer era muito pouco, que faltava mais. Sou aposentada da rede pública e me sinto extremamente triste quando as pessoas acham que a gente não faz o bastante”, alega.
Marta tocou em pontos importantes das perdas dos alunos durante o tempo em que as escolas ficaram fechadas, nessa pandemia. “Todo mundo falou muito em perda pedagógica, mas precisamos falar das perdas emocionais dos alunos. Essa parte me deixa mais preocupada do que todo o resto”, aponta.
Já professor e supervisor pedagógico da Escola Municipal Santa Helena, Luís César Minozzo, fez revelações importantes sobre dificuldades enfrentadas pelos docentes.
“A secretaria deu suporte, mas os professores buscaram mais informações para esse momento por conta própria. Os professores usam seus celulares, seus notebooks, alguns tiveram que comprar novos aparelhos para poder ter a tecnologia de reunião virtual (Zoom e Googlemeet), então tiveram que tirar do próprio bolso para se atualizar. Estamos a todo momento tentando nos adaptar”, acrescenta. Essa colocação gera ponto importante no debate, já que o objetivo do poder público é cortar verbas destinadas à Educação de Bento Gonçalves.
Próximo debate
A outra audiência será na próxima semana, terça-feira (08), a partir das 18h, no Plenário Fernando Ferrari. Na ocasião, será discutida a Proposta de Emenda à Lei Orgânica (PELO) nº 01/2021, de autoria do Poder Executivo, que prevê a diminuição de 30% para 25% no percentual mínimo de investimentos na Educação no município, alterando a lei que estava em vigor desde 1994.
A realização das audiências públicas respeita os protocolos sanitários de distanciamento e comportará até 50% da capacidade máxima do plenário. A reunião será transmitidas ao vivo pela TV Câmara Bento, no Canal 16 da NET, e pelas redes sociais do Legislativo no Facebook e Youtube.