Apesar de proibido, chumbo ainda afeta crianças no Brasil e no mundo

2015-04-10_190211

Metal pesado tóxico podem ser uma fonte de envenenamento

O chumbo é tão tóxico que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que “nenhum nível no sangue é seguro”, ainda, tem o poder de danificar o cérebro das crianças pelo resto da vida. Tão persistente que fica no ar por décadas. E tão onipresente que afeta um terço das crianças do planeta.
A intoxicação por chumbo é um problema sério e global. Estima-se que até 800 milhões tenham níveis deste metal pesado no sangue iguais ou superiores a 5 microgramas por decilitro (µg/dL), o nível em que uma intervenção é necessária, de acordo com um relatório conjunto de 2020 da Unicef, o braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a infância e adolescência, e da ONG internacional Pure Earth.
Um estudo recente em Londres descobriu que o chumbo usado no passado na gasolina persiste no ar da capital britânica, embora o metal tenha sido proibido nos combustíveis no Reino Unido há mais de 20 anos. E estudos em outras cidades como Xangai e São Paulo encontraram resultados semelhantes.
Outras fontes de contaminação incluem desde tintas até a reciclagem insegura de baterias, passando por temperos. As fontes de chumbo podem ser muito diferentes. O que não varia é seu impacto devastador nas crianças.
O efeito do chumbo na saúde
Chumbo, que pode vir de tintas à base de chumbo, é particularmente destrutivo para bebês e crianças menores de cinco anos, porque danifica seus cérebros antes que tenham a oportunidade de se desenvolver plenamente, causando prejuízos neurológicos, cognitivos e físicos para toda a vida, de acordo com o informe.
A OMS destaca que o chumbo também causa danos permanentes em adultos, por exemplo, aumentando o risco de hipertensão e danos renais.
Brasil
Embora o uso do chumbo na gasolina tenha sido abandonado, seu legado continua principalmente nas grandes cidades. No caso do Brasil, estudos de 2017, 2018 e 2019 confirmaram a presença de chumbo da gasolina no ar, conforme dois dos autores desses estudos, Carlos Eduardo Souto de Oliveira, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), e Marly Babinski, professora e pesquisadora do Centro de Geocronologia e Geoquímica Isotópica da USP.
O Brasil foi “um dos primeiros países do mundo a eliminar o chumbo da gasolina”, assinalam os pesquisadores. “A fase de eliminação do chumbo adicionado à gasolina para atuar como antidetonante começou no Brasil em 1989 e terminou em 1992, quando o etanol passou a ser misturado à gasolina.”
Processo de eliminação do chumbo da gasolina foi concluído no Brasil em 1992, quando etanol começou a ser misturado a esse combustível.
Outras fontes
Além do legado de chumbo na gasolina, a reciclagem informal e inadequada de baterias de chumbo é um dos principais contribuintes para o envenenamento pelo metal pesado em crianças em países de baixa e média renda, onde o número de veículos triplicou desde 2000, de acordo com o relatório da Unicef.
Outras fontes de exposição infantil incluem chumbo na água de canos, tintas, soldas em latas de comida e especiarias, cosméticos, brinquedos e outros produtos de consumo. No caso das especiarias, um estudo do Departamento de Saúde da Cidade de Nova York, nos Estados Unidos, analisou mais de 1,4 mil amostras de especiarias importadas de países como Paquistão e Bangladesh, vendidas em embalagens sem marcas ou rótulos. Mais de 30% dessas amostras apresentaram concentrações de chumbo superiores a 2 ppm ou partes por milhão, nível máximo que é considerado seguro.
Prevenção
A Unicef recomenda ações coordenadas para os países afetados em diferentes áreas, incluindo monitoramento por meio de testes de chumbo no sangue e prevenção da exposição das crianças a produtos que contenham chumbo, como brinquedos e tintas, bem como a reciclagem segura de baterias e lixo eletrônico.

Chumbo é destrutivo para bebês e crianças menores de cinco anos, porque danifica seus cérebros antes que tenham a oportunidade de se desenvolver plenamente.
Foto: Reprodução