Ano termina com recorde de assassinatos e com aumento de 500% na apreensão de drogas feita pela Brigada Militar

2015-04-10_190211
O ano termina (até então) com 50 homicídios contabilizadas, sendo que quase 100% dos crimes aconteceram em virtude do tráfico de drogas

Foram contabilizados (até então) 50 homicídios, sendo que quase 100% dos crimes aconteceram em virtude do tráfico de drogas

 

A violência cresce de forma acentuada em Bento Gonçalves, superando números (que já eram considerados altos) de 2017, que teve 32 mortes. O ano termina (até então) com 50 homicídios contabilizadas, sendo que quase 100% dos crimes aconteceram em virtude do tráfico de drogas. Para o major Álvaro Martinelli, do 3ºBPAT de Bento Gonçalves, a violência está diretamente ligada ao consumo de drogas ilícitas e o gargalo na educação básica. A Brigada Militar teve um aumento superior a 500% na apreensão do volume de drogas neste ano, que segundo ele, se refere somente a números da BM, não entrando as apreensões da polícia rodoviária federal.
“Em Bento Gonçalves temos o reflexo que vemos em outro lugar, é uma cidade rica, cidade que tem elevação no número de turistas, tem fluxo de pessoas, de dinheiro. É uma região rica que atrai esse tipo de mercado (da droga) pra cá, e aonde tem muita gente disputando espaço e buscando esse mercado. Muita coisa tem que ser mudada, não adianta mais só uma reforma do código penal ou constitucional, precisamos de uma reforma da sociedade, uma reforma social. A educação é a base de tudo, mas não só dentro da escola, em casa também. É um engano muito grande achar que só a polícia vai resolver o problema, porque o problema é muito maior que isso. Se existe um mercado de tráfico aqui é porque essa droga é consumida aqui mesmo”, diz.
Com o aumento do consumo de drogas, relatado por Martinelli, cresce também a apreensão de armamento pesado, que segundo o próprio major, em 2018 foi um dos anos com aumento significativo no número de apreensões de armas de calibre pesado.
“O que mostramos é que nós talvez tenhamos uma das unidades do estado que mais fez apreensão de armamento pesado, incluindo fuzil, calibre 12. Foram deu quase uma dezena só de fuzil. Isso mostra um aumento do potencial da bandidagem”, acrescenta.
Um dos pontos mais destacados por Martinelli é sobre o aumento crescente de mortes nos últimos anos. Para ele os fatos ganham projeção ainda maior com a comercialização de produtos roubados.
“Todo aquele produto que é oferecido no mercado paralelo, que tem um valor muito aquém do valor de mercado é um produto manchado de sangue, porque alguém foi vítima daquilo. Não existe negociador que vai querem perder R$ 500 reais num negócio. Nós mesmos compramos um telefone que vale R$ 3 mil, compramos por R$ 50 reais, e achamos que fizemos um baita negócio. Quase a totalidade do roubo a pedestre de Bento envolve roubo de celulares”, diz.
Martinelli destaca ainda que a cidade famosa pelos vinhedos amarga um recorde amargo. Para ele, no entanto, é possível reverter a situação da violência no município, porém é preciso de muito trabalho e empenho da sociedade como um todo.
“A própria ONU estabelece um número que acima de algo é considerada uma zona de conflito, e Bento superou isso há muito tempo. Numa sociedade que existe muita mobilização de uma sociedade organizada o empresário tem como reverter isso. Temos mecanismos capazes para isso. Quando falamos em sociedade cada um tem sua pequena contribuição e parcela. Nós somos síndicos de um grande condomínio, que é uma cidade”, salienta.

Saiu na Gazeta
Em agosto a Gazeta fez uma reportagem especial dos assassinatos que aconteceram no ano, comparando com 2017. Na ocasião a delegada responsável pelo 1º Departamento de Polícia de Bento, Maria Isabel Zerman, confirmou que a maior parte dos homicídios tem ligação com acerto de contas entre facções criminosas. “Pela análise dos antecedentes policiais das vítimas e diligências realizadas, percebemos que a grande maioria dos homicídios está relacionada ao acerto de contas, no tráfico de drogas”, afirmou. Ainda segundo a delegada “Em que pese as constantes investidas da Polícia Civil neste crime, a proximidade com outros grandes centros de criminalidade (Caxias do Sul e região metropolitana) e o grande mercado de usuários que há em Bento Gonçalves auxiliam que criminosos de facções se instalem em nosso Município e que os atritos com traficantes locais se agucem e resultem na taxa de homicídio que temos atualmente. Ainda, é difícil a elucidação destes delitos, já que dificilmente encontramos testemunhas”.
A criminalidade cresceu assustadoramente nos últimos cinco anos em Bento Gonçalves. A observação de Maria Isabel vai ao encontro da realidade do município, que ano após ano tem registros ainda maiores de assassinatos na cidade, e a maioria das vítimas com envolvimento no tráfico de drogas.
Em 2013 foram 17 pessoas mortas e os números foram aumentando anualmente. Em 2014 foi contabilizado 20 homicídios, em 2015, o número aumentou para 25, em 2016 foram 26 assassinatos, em 2017 a soma chegou a 32, sendo que nos oito primeiros meses do ano passado eram 15 mortes.