Acúmulo de gordura abdominal aumenta risco de deficiência de vitamina D, mostra estudo

2015-04-10_190211

Pesquisas anteriores indicavam que falta da substância influenciaria na obesidade; nova análise mostra relação contrária

O trabalho envolveu a análise de um banco de dados de 2.459 britânicos com mais de 50 anos acompanhados por quatro anos

Um estudo realizado por pesquisador da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), em parceria com a University College London (Inglaterra), mostrou, pela primeira vez, que o acúmulo de gordura abdominal é um fator de risco para insuficiência e deficiência de vitamina D em pessoas com mais de 50 anos.

Considerada um hormônio, a D desempenha diversas funções no organismo e sua carência pode acarretar problemas, como na absorção de cálcio e fósforo e no funcionamento do sistema imunológico, por exemplo.

“Tanto a obesidade abdominal quanto a deficiência de vitamina D são questões prevalentes na população idosa . No entanto, com esse estudo mostramos que é a gordura abdominal que aumenta o risco de deficiência de vitamina D e não apenas a relação inversa, como alguns estudos já demonstraram. Não estamos descartando que a vitamina D levaria à obesidade , apenas demonstrando que o acúmulo de gordura abdominal também é uma via para a carência dessa vitamina”, afirma Tiago da Silva Alexandre, professor de Gerontologia da UFSCar e autor do estudo publicado na revista Nutrients.

O trabalho envolveu a análise de um banco de dados de 2.459 britânicos com mais de 50 anos acompanhados por quatro anos. Os participantes da pesquisa integram o projeto “English Longitudinal Study of Aging” (Elsa, na digle em inglês), estudo longitudinal controlado na Inglaterra que coleta dados multidisciplinares de uma amostra representativa da população inglesa. A análise contorno com o apoio da Fapesp.

Para verificar a influência entre os dois fatores, os investigadores selecionaram participantes do projeto Elsa com mais de 50 anos e que eram taxas normais de vitamina D (maiores que 50 nmol/L). Os participantes foram divididos em dois grupos: um formado com pessoas com pouca gordura abdominal e outro, com acúmulo de gordura no abdômen (circunferência de cintura maior que 102 cm para homens e maior que 88 cm para mulheres).

“Ao avaliar o índice de vitamina D desses indivíduos quatro anos depois da primeira coleta de dados, verificamos que aqueles que apresentavam obesidade abdominal tinham 36% mais risco de desenvolver desenvolveram e 64% mais risco de deficiência de vitamina D, quando comparado com o grupo que não tinha obesidade abdominal”, diz Alexandre.

No estudo, as pessoas acreditavam que a vitamina D apresentava taxas entre 30 e 50 nmol/L da substância na corrente sanguínea, enquanto a deficiência estava configurada para aqueles que tinham menos de 30 nmol/L de vitamina D.

REDUÇÃO DE RECEPTORES

Alexandre afirma que estudos anteriores já haviam relacionado a falta de vitamina D com o desenvolvimento da obesidade.

“No entanto, são estudos baseados em medidas de índice de medida corporal (IMC), que usam dados de peso e altura, dão uma análise global da obesidade e são muito imprecisos. Porém, a pergunta que fica é como tantos países com alta ou baixa incidência solar têm prevalência muito grande de deficiência de vitamina D. A resposta é porque existe alta prevalência de obesidade”, diz o pesquisador.

A obtenção de vitamina D se dá, sobretudo, por meio da luz solar. Isso porque é nas camadas mais profundas da pele que uma substância precursora do hormônio fica mantida. Quando a pele é exposta ao sol, sua estrutura é modificada e, por meio de vários processos metabólicos, a vitamina é transformada em sua forma ativa que passa a circular pelo organismo e realiza várias funções.

Alexandre pontua que, ao longo do processo de envelhecimento, é natural que tenha causado mudanças na composição corporal, como o maior acúmulo de gordura na região do abdômen, por exemplo. Além disso, também é comum que haja uma diminuição da espessura da pele e, por consequência, uma menor disponibilidade da substância precursora da vitamina D na epiderme, bem como uma menor capacidade de síntese da forma ativa dessa vitamina.

“Por isso, no nosso estudo, utilizamos medidas de infecção abdominal, que é uma medida prática e acessível que verifica o acúmulo de gordura no abdômen e é mais precisa que o IMC, por exemplo”, afirma.

Outra mudança apontada com o envelhecimento é a diminuição do número de receptores de vitamina D nos tecidos corporais, o que dificulta a captação dessa vitamina circulante no organismo.

Alexandre destacou que o estudo reforça a necessidade de políticas públicas para a prevenção e o enfrentamento da carência de vitamina D tando em pessoas obesas como na velhice. “Todos sabemos que é mais fácil prevenir que remediar e comprovamos que a obesidade abdominal pode interferir nas concentrações de vitamina D do sangue, algo que pode ter uma série de problemas de saúde nos idosos”, indica.