Coluna | “Tornar-se um bom pai”

2015-04-10_190211

Viviane Tremarin – Psicóloga e Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental

Educar uma criança é mais do que transmitir valores e hábitos, é despertá-la para sua humanidade e suas potencialidades

Aquele formato de família em que o homem deve prover financeiramente a casa enquanto a mulher cuida dos filhos e das tarefas domésticas tem ficado para trás.
Por muito tempo esse modelo serviu para que os pais não assumissem a responsabilidade da criação dos filhos por completo e com as mudanças culturais que o fortalecimento das mulheres tem causado, os homens tem saído desse papel de pai distante para se dedicarem mais ao vínculo com seus filhos.

Provavelmente essa mudança comportamental também tenha influência da própria história. Eu tenho certeza que todo mundo já disse em algum momento “quando eu tiver meus filhos eles terão uma criação diferente daquela que eu recebi de meus pais”.

Atualmente, os jovens que experimentaram as dificuldades de ter um pai distante buscam vivenciar uma experiência de paternidade diferente daquela que conheceram.
Dessa forma, eles se tornam mais presentes na vida dos filhos. Essa mudança no papel do pai também é influenciada pela mudança do papel do homem na sociedade como um todo.

É esperado que o homem faça mais do que contribuir financeiramente na família.

Bons pais são uma porta para filhos melhores
Hoje um bom pai, mais do que por comida na mesa, também precisa ensinar a comer. Mais do que proporcionar uma boa escola, o bom pai precisa educar seu filho.
Mais do que contar histórias na hora de dormir, é necessário que o pai disperte a criança para um mundo cheio de possibilidades.

Para que a relação do pai com o filho garanta um bom desenvolvimento psicológico é necessário que haja mais do que uma relação afetiva, é preciso assegurar um conjunto de condições que são importantes para a formação da personalidade e do caráter.

A criança durante o crescimento precisa desenvolver segurança interna para que possa ter iniciativa, exploração e persistência que garantem a ela aprendizagens e competências ao longo da vida.

Ela também precisa desenvolver autonomia e independência para conseguir se incluir em atividades com outras crianças. Além da empatia e integridade que são fundamentais para a sensibilidade emocional e moral. Esse cuidado precisa ser acompanhado da supervisão que vai promover o autocontrole e assegurar a segurança interna.

O bom pai de hoje precisa interagir com proximidade afetiva, promovendo o cuidado e permitindo a expressão espontânea dos sentimentos e necessidades de seu filho em um ambiente com regras.

As crianças sempre tiveram essas necessidades para o bom desenvolvimento, mas apenas agora estamos percebendo como elas influenciam uma pessoa na vida adulta, sendo assim, a parentalidade exige que os pais tenham capacidade de escuta, compreensão, respeito e valorização dos filhos.

E você pode achar que eu estou ficando louca descrevendo um pai com tamanhos atributos, mas eles existem no mundo e principalmente em uma tribo na República Centro-Africana.

Na tribo Aka, os homens cuidam dos filhos pequenos enquanto as mães caçam. Eles acolhem, limpam e brincam com seus bebês, além de passar mais tempo segurando-os no colo do que os pais em qualquer outra sociedade.

Eles valorizam tanto o cuidado com a criança que bater é um ato deplorável para eles, sendo motivo de divórcio.

Reinventando a paternidade
A criação de um filho é um compromisso que se abraça todos os dias. Para isso, o pai precisa desenvolver e aplicar algumas competências importantes. A primeira delas é a presença. Mais do que estar junto fisicamente, estar presente é estar inteiramente disponível para o outro em algum momento.

É trazer para a relação tudo que se é manifestando isso pelo contato visual, pelo toque físico e por todas as emoções e comportamentos disponíveis. Quando os filhos se sentem mais próximos, cuidados e amados por seus pais, eles também se sentem mais próximos e seguros na família.

Brincar é uma ótima forma de fazer isso, já que essa é a linguagem da infância, é assim que as crianças exploram o mundo e constroem relacionamentos. Um estudo observou que quando os bebes tinham pais mais engajados e ativos nas brincadeiras eles apresentavam menos dificuldade comportamentais ao longo dos anos, além de apresentarem melhores resultados cognitivos em testes.

Outro elemento importante da relação é a inclusão, que consiste em imaginar a realidade do outro em nós mesmos, afirmando a existência única e separada daquele ser, validando a sua singularidade, isso significa aceitar a criança, mesmo que às vezes o seu comportamento não seja totalmente aceitável.

Essa aceitação vai proporcionar a criança um forte senso de eu, influenciando na autoestima, autoconfiança e crenças em relação a sua capacidade de lidar com suas necessidades. A responsabilidade também é um fator imprescindível para ser um bom pai. É esperado que os pais tomem decisões sensatas sobre a vida familiar, incluindo tarefas conjuntas.

Eu não menciono a correção de comportamento da criança, pois na maioria dos lares essa já é a função do pai, e é necessário que esse papel vá além de uma figura punitiva. Bons pais não servem apenas para brincar e dar bronca, mas sim para participar ativamente da vida do filho trocando fraldas, preparando o lanche da escola, levando ao pediatra, participando das reuniões escolares, ou seja, atuando na vida dos filhos tanto quanto as mães.

E principalmente, bons pais não veem demonstração de afeto como uma ameaça a sua masculinidade. O pai tem um papel muito importante no desenvolvimento de potencialidades e ele pode ser agente de uma existência mais saudável para seus filhos quando se compromete verdadeiramente com a educação e criação deles.