Depois de colocar no mercado quase seis mil profissionais em 18 cursos ofertados, a instituição que completa 60 anos, vem sofrendo cortes de orçamento desde 2015
Preocupada com o anúncio feito pelo Ministério da Educação no dia 30 de abril, a gestão do campus Bento Gonçalves ainda está avaliando quais medidas serão tomadas caso não haja o desbloqueio de 30% do orçamento previsto para a instituição. De acordo com a Diretora-Geral, professora Soeni Bellé, a notícia do bloqueio impacta diretamente na manutenção da instituição, visto que desde 2015 o campus já sofre com cortes severos de orçamento.
Em constante crescimento, visto que nos últimos dois anos foram abertos 5 cursos, esse bloqueio de orçamento compromete a manutenção de contratos básicos, como vigilância, limpeza, e demais manutenções estruturais. Para se ter uma ideia dos frequentes cortes que a instituição sofre há 4 anos, em 2015 o valor liberado foi de R$ 8,37 milhões (valores para custeio e investimento), reduzindo ano a ano, até chegar na quantia de R$ 4,75 milhões, previstos para 2019. Cabe ressaltar que o valor de investimento, que é utilizado para construção de novos blocos, compras de equipamentos novos, dentre outras compras que não sejam manutenção, caiu de R$ 1,5 milhão de 2015 para apenas R$ 191 mil previstos em 2019. “Nesse valor que temos ideia para receber em 2019 já realizamos todos os cortes possíveis e quase não há valor previsto para investimento. Ou seja, não temos como cortar mais”, enfatiza Soeni. Até mesmo atividades básicas para o funcionamento dos campi, como a compra de materiais para aulas práticas, realização de visitas técnicas e aquisição de alimentos para a merenda escolar ficam ameaçadas.
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Para termos uma noção do quanto um bloqueio desses preocupa a gestão, vale lembrar que o campus Bento Gonçalves é uma instituição que em 2019 comemora 60 anos de atuação, sendo responsável pela formação de 5.654 profissionais, que hoje atuam em diversas áreas e localidades. Possui em seu quadro funcional aproximadamente 250 servidores, entre professores, técnicos administrativos e estagiários. Ressalta-se ainda que hoje o campus Bento Gonçalves atende 1748 estudantes, entre todos os níveis, em 18 cursos ofertados. Esse número cresce anualmente, visto que em 2014 a instituição possuía apenas 1336 estudantes e uma matriz orçamentária maior se comparada a atual. Os cursos abertos pela instituição nos últimos anos são demandas feitas pela sociedade e que movimentam a economia local. Além disso, a qualidade dos profissionais formados nas licenciaturas, que posteriormente atuarão também na Educação Básica, fica comprometida, visto que o campus possui hoje 4 cursos de formação de professores que são referências na área.
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Número de estudantes
Cursos técnicos 503
Cursos superiores 1215
Cursos de pós-graduação – 30
250 servidores, entre professores, técnicos administrativos e estagiários.
Posicionamento do reitor do IFRS Campus Bento Gonçalves
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Julion Xandro Heck, Reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), em entrevista à Gazeta RS, preocupa-se com o cenário que as Instituições Federais podem enfrentar com o anúncio do corte de 30%.
O Reitor seguiu para Brasília na tarde desta segunda-feira (6), onde ficará até quinta-feira, os encontros ocorrem todos os meses e contam com a presença dos reitores das Instituições Federais de todo o País para discussão de temas pertinentes.
Entretanto, com o alarmante anúncio da última terça-feira (30), as pautas mudaram. Eles devem ter conversa direta com o Ministro da Educação, onde terão como principal objetivo a reversão dos cortes, demonstrando ao governo através de dados numéricos que comprovam a importância dos Institutos, além do impacto que a medida pode causar na vida dos alunos, funcionários e comunidade em geral.
Júlio afirma que caso os cortes sejam implementados, até o final do ano as atividades básicas e manutenção do IFRS Bento Gonçalves poderão sofrer sérios problemas, impossibilitando inclusive ás aulas.
Estudantes se mobilizam
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Os 1748 estudantes, dos 18 cursos ofertados no campus Bento estão organizando mobilização de protesto para dia 15 de maio, iniciando as 16h com uma passeata pelas ruas da cidade, com o mote “ Tira a mão do meu IFRS: Campus Bento Gonçalves em luta!”.
Mesmo com um cenário de recessão e cortes de verbas o Campus Bento ampliou, nos últimos quatro anos, vagas, de 1.336 para 1748 alunos, mesmo quando a verba reduziu, no mesmo período, de R$ 8,37 milhões para R$ 4,75 milhões.
Apesar deste cenário nos últimos anos com redução de orçamento, o IFRS Bento ampliou a oferta na educação (de 2016 para 2019 foram abertos cinco cursos) técnicos e superiores.
Bloqueios no MEC vão do ensino infantil à pós-graduação
Ministério da Educação diz que corte de R$ 7,3 bi é técnico e operacional
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No congelamento, já anunciado pelo Ministério da Educação, estão as verbas para construção de escolas, ensino técnico, bolsas de pesquisa, transporte escolar, além de custeio das universidades federais.
Na semana passada, o governo definiu um novo bloqueio, de R$ 1,6 bilhão —o que resultará em um corte total de R$ 7,3 bilhões. A divisão desse novo congelamento por área ou órgão ainda passa por análises no MEC.
Depois do polêmico embargo de recursos para universidades federais, o Mec anunciou que priorizaria creches e privilegiaria a educação básica, especialmente a educação infantil, alfabetização e ensino profissional, mas essas áreas foram atingidas.
Além dos cortes em obras e manutenção do ensino, ações ligadas a livros didáticos e transporte escolar também sofreram impacto. Estão congelados R$ 144 milhões dos recursos para compra de livros, que representa 8% do autorizado. Já o programa de aquisição de veículos escolares perdeu R$ 23 milhões, equivalente a 7% do previsto.
Foram suspensos 40% dos valores separados para o ensino técnico e profissional. Dos R$ 250 milhões autorizados, R$ 99,9 milhões foram bloqueados.
O corte para ações de alfabetização e Educação de Jovens e Adultos atingiu 41% do previsto. São R$ 14 milhões congelados ante de R$ 34 milhões autorizados.