USP e FGV levantaram dados que indicam que, mesmo sendo o índice maior o de violência psicológica, a proximidade com a lei não intimida nenhum agressor
Um estudo revelou que 40% das servidoras e magistradas que atuam no sistema de Justiça brasileiro já sofreram algum tipo de violência doméstica. Dentre aquelas que responderam já ter passado por esse trauma, 81% revelam que o(s) incidente(s) ocorreram há mais de um ano, 13% afirmam que sofreram esse tipo de violência nos últimos 12 meses e 6% contam que enfrentam atualmente essa situação.
Ao todo, 300 respostas foram contabilizadas pelas pesquisadoras da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De longe, o tipo mais frequente de violência sofrido pelas mulheres que responderam ao estudo, é o psicológico, assinalado por 92% das respondentes. Quase metade das participantes – em torno de 47% – já passaram por situações de violência moral. Em seguida aparecem violência patrimonial (32%), física ou ameaça (31%) e sexual (16%).
“Ambiente ainda hostil às mulheres”
Os casos que envolvem violência praticada pelo companheiro são os mais frequentes, sendo citados por 83% das servidoras e magistradas. Depois aparecem as agressões cometidas por pais (14%), irmãos (7%), tios/sobrinhos (6%) e filhos (1%).
“Esses dados reforçam o entendimento de que as respostas do sistema de Justiça não têm dado conta de enfrentar a violência doméstica e familiar, inclusive no caso de mulheres que ocupam uma posição de elite na sociedade. O indicativo de que as duas categorias têm receios ou vergonha de pré-julgamentos feitos por colegas de trabalho, que atuam no sistema de Justiça, sinaliza para a persistência da Justiça como um ambiente ainda hostil às mulheres e perpetrador de violências de gênero”, cita trecho da publicação da pesquisa.