Uso massivo de máscaras pode ‘impedir segunda onda de covid-19’, diz estudo

2015-04-10_190211

O mundo tenta sair da quarentena, mas a pandemia do novo coronavírus não deixa. Nos últimos dias, vários países que tentaram retomar suas atividades tiveram que voltar a adotar medidas restritivas devido ao aumento de infecções. Em Pequim, seis grandes mercados foram fechados. Na Índia, houve um recorde de casos diários. E nos Estados Unidos, seis Estados relataram que seus hospitais estavam ficando cheios rapidamente. Por que autoridades dos EUA retiraram autorização para uso da cloroquina contra covid-19 ao mesmo tempo, enquanto em algumas partes do mundo a taxa de contágio pareça estar diminuindo, globalmente, a pandemia está piorando, disse Tedros Adhanom Ghebreyesu, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). É o caso da América Latina, o novo epicentro da pandemia. Em 12 de junho, a região tinha mais de 1,5 milhão de casos e mais de 70 mil mortes. O contágio também está se acelerando na África, segundo a OMS. No início deste mês, o continente já havia registrado mais de 200 mil infectados.
No total, já existem no mundo mais de 7,9 milhões de infectados e mais de 434,8 mil mortes, e não existe ainda uma vacina ou um remédio eficaz contra a covid-19.

Então, o que podemos fazer para nos proteger ao sair de casa?

Um estudo recente da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, oferece novas evidências de que as máscaras podem ser cruciais para evitar uma nova onda de infecções. A pesquisa afirma que os lockdowns sozinhos não serão suficientes para impedir futuras ondas de contágio, a não ser que isso seja combinado com o uso massivo de máscaras para retardar a propagação da doença. Mesmo máscaras de pano caseiras, que têm eficácia limitada, podem reduzir a taxa de transmissão. “Nossas análises apoiam a adoção imediata e universal de máscaras faciais pelo público”, disse Richard Stutt, pesquisador de epidemiologia da Universidade de Cambridge e coautor do estudo, em um comunicado. “Se o uso de máscaras pelo público for combinado com distanciamento físico e algum confinamento, poderá oferecer uma maneira aceitável de lidar com a pandemia e retomar a atividade econômica muito antes de haver uma vacina.”

Como se chegou a essa conclusão?

O Saers-CoV-2 é transmitido por meio de gotículas exaladas por pessoas infectadas, principalmente quando se fala, tosse ou espirra. Para o estudo, os pesquisadores usaram modelos matemáticos dos vários estágios de infecção e da transmissão pelo ar e pelas superfícies. A ideia era analisar diferentes cenários para o uso das máscaras em combinação com medidas de distanciamento. Para o estudo de epidemias, os especialistas usam a taxa de reprodução do vírus, ou Rt, que indica quantas pessoas podem ser contaminadas por quem já tem o vírus. Para uma pandemia ser contida, o Rt deve ser menor que 1. Os modelos mostraram que, se uma pessoa usa máscara sempre que sai em público, isso é duas vezes mais eficaz para reduzir o Rt do que quando alguém usa a máscara só depois que tem sintomas. Eles também indicaram que, se pelo menos metade da população usa máscara rotineiramente, o Rt é reduzido para menos de 1. Dessa maneira, as curvas de contágio podem ser achatadas, e as medidas de contenção, afrouxadas.

Máscaras caseiras

Pesquisas afirmam que máscaras caseiras feitas de pano também podem reduzir a propagação da covid-19. “Máscaras que capturam apenas 50% das gotas exaladas ainda proporcionam um benefício à população”, afirma o estudo. Isso pode ser vital nos países em desenvolvimento, onde um grande número de pessoas carece de recursos, disse Chris Gilligan, coautor da pesquisa. “Máscaras caseiras são uma tecnologia barata e eficaz.” A forma mais eficaz de retomar a vida cotidiana é incentivar todos a usarem máscara sempre que estiverem em público, disse John Colvin, da Universidade de Greenwich, outro autor da pesquisa. O uso de máscaras deve ser complementado por outros cuidados, como a higienização das mãos. Os cientistas de Cambridge resumem o resultado de suas pesquisas com uma mensagem: “Minha máscara protege você, sua máscara me protege”. Os autores do estudo reconhecem, no entanto, que ele tem limitações por ser baseado em modelos matemáticos e alertam que, “em uma nova doença, é impossível obter evidências experimentais precisas para possíveis intervenções de controle”.

O que dizem os especialistas sobre as máscaras

Os resultados da pesquisa de Cambridge vão ao encontro de outro estudo recente da Universidade Texas A&M. Esse trabalho analisou as tendências de propagação e medidas de combate aplicadas em Wuhan, na China, na Itália e em Nova York, e concluiu que o uso de máscaras em público é uma maneira eficaz e barata de prevenir o contágio. No início da pandemia, o uso generalizado de máscaras não era recomendado. “Na época, os especialistas ainda não sabiam até que ponto as pessoas com covid-19 podiam transmitir o vírus antes que os sintomas aparecessem”, diz o site da Clínica Mayo, nos Estados Unidos. “Também não se sabia que algumas pessoas têm covid-19, mas não apresentam nenhum sintoma.” Mas agora, a OMS diz que “as máscaras devem ser usadas como parte de uma estratégia para salvar vidas”. No entanto, alerta que o uso da máscara não é suficiente e deve ser combinado com o distanciamento social e lavagem frequente das mão.