Tratamentos com excesso de cobre e zinco no solo retardam crescimento das novas videiras e produzem vinhos mais ácidos

2015-04-10_190211
Fungicidas em excesso podem causar danos no desenvolvimento das raízes, até a degradação do solo. Saiba como controlar

Em excesso de aplicação de fungicidas à base de cobre pode provocar danos às raízes das videiras, inibindo a absorção de nutrientes, reduzindo da taxa fotossintética e do crescimento das plantas. O soloc com excesso de cobre pode retardar o início do período produtivo da videiras, atrasando o estabelecimento das mudas no solo. Já cobertura de solo pode causar a morte das plantas, deixando o solo descoberto e, assim, prejudicando a ciclagem de nutrientes e aumentando a erosão por causa de chuvas. Os tratamentos são necessários por causa do ataque intenso do Míldio em épocas de chuvas que provoca a desfolha precoce. O míldio é o motivo das uvas com menos açúcar, e consequentemente, vinhos mais ácidos, menos substâncias nitrogenadas e menor vigor na safra seguinte

 

O controle químico é uma das partes importantes no manejo das doenças de plantas, principalmente por causa alta umidade e temperaturas favoráveis ao aparecimento da podridão da uva madura , mais conhecido como Míldio.
De um modo geral, o controle costuma ser realizado à base de fungicidas que, além de aumentar os custos de produção, podem contaminar o ambiente e o homem.
Comumente o controle do Míldio da videira é realizado com fungicidas sintéticos até o estágio de grão ervilha. A partir daí até a maturação da uva é realizado com a aplicação de fungicidas cúpricos (é um composto de cobre usado como pesticida ou fungicida), sendo a calda Bordalesa a mais utilizada há mais de cem anos na vitivinicultura da Serra Gaúcha.
O uso sistemático deste produto em altas concentrações e altos volumes, repetindo por diversas vezes ao ano tem acarretado o acúmulo de cobre nos solos da região. Essas pulverizações são responsáveis pelos teores altos de cobre encontrado nos tecidos da videira e no solo.
O cobre, apesar de ser um nutriente essencial às plantas, fazendo parte de vários compostos orgânicos, como proteínas e enzimas vitais ao metabolismo vegetal e participando de vários processos fisiológicos, como fotossíntese, quando em excesso pode provocar danos às raízes, inibindo a absorção de nutrientes, reduzindo da taxa fotossintética e do crescimento das plantas .
Nos vinhedos os sintomas de toxidez por cobre têm sido observados em videiras jovens recém transplantadas e em plantas de cobertura do solo, como a aveia preta. O cobre pode retardar o início do período produtivo, atrasando o estabelecimento das mudas no solo. Em plantas de cobertura do solo, a toxidez pode reduzir a biomassa ou mesmo causar a morte das plantas, deixando o solo descoberto e, assim, prejudicando a ciclagem de nutrientes e aumentando o potencial de erosão hídrica.
Em média, dependendo do cultivar precoce ou tardia, são realizadas duas a quatro aplicações em alto volume (1.000 L/ha) utilizando uma concentração de sulfato de cobre de 1%, ou seja, a cada pulverização são utilizados 10 kg de sulfato de cobre neutralizado com cal virgem. Contudo, em muitos solos, devido ao uso anual e contínuo da calda Bordalesa tem ocasionado o acúmulo de cobre em níveis acima do tolerável. O número de pulverizações com produtos à base de cobre é muito maior no sistema orgânico.
“ O uso de outras formulações, de baixo custo, baixa toxicidade, à base ou não de cobre, para o controle do míldio da videira, torna-se uma medida importante para a redução do impacto deste elemento sobre o meio ambiente e os efeitos negativos sobre o desenvolvimento das plantas”, destaca o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, doutor Lucas Garrido . “Recentemente novas formulações foram lançadas no mercado contendo concentrações menores de cobre, o que pode ser bastante interessante no manejo de doenças de plantas, principalmente em áreas contendo elevados teores de cobre no solo,”, alerta o pesquisador.

Combater o míldio com menos cobre
O ataque intenso do míldio ocasiona a desfolha precoce e consequentemente acarretará uvas com menor teor de açúcar, produção de vinhos mais ácidos, menos substâncias nitrogenadas e menor vigor na safra seguinte
Redução da adição ambiental de cobre utilizando outras formulações cúpricas em relação à calda bordalesa para o controle do míldio tardio da videira
Nos vinhedos, os problemas relacionados à toxidez por cobre estão sendo observados nas videiras jovens e nas plantas de cobertura do solo. As videiras jovens podem ter seu estabelecimento prejudicado e, assim, atrasar o início do período produtivo, enquanto as plantas de cobertura podem apresentar severas limitações de crescimento e desenvolvimento, fazendo com que o solo fique descoberto, aumentando o potencial de erosão e reduzindo a ciclagem de nutrientes, o que prejudica também o cultivo das videiras.
Dentro do cenário atual, nas condições dos solos de vinhedos do Sul do Brasil, onde já se observa o acúmulo destes metais pesados, uma boa alternativa para evitar os problemas relacionados aos altos teores no solo seria diminuir a quantidade adicionada anualmente de produtos com esses elementos.

Plantas bioacumuladoras
Para isso, são requeridos cuidados com as dosagens, número de aplicações por safra, concentração de cobre na calda e mesmo a substituição da calda bordalesa por outros insumos menos contaminantes. Em vinhedos com longo histórico de aplicação de fungicidas à base de cobre, o cultivo de plantas bioacumuladoras de metais pesados, na condição de plantas de cobertura, poderia ser uma importante ferramenta para reduzir os teores destes metais no solo.

Aplicação de calcário
No entanto, outras técnicas também podem ser utilizadas, como a aplicação de calcário, de fertilizantes fosfatados ou de biossólidos alcalinos, que podem ser as alternativas mais adequadas, dentro do nível de conhecimento atual, para promover a imobilização de metais pesados no solo e evitar a toxidez nestas plantas.

 

O que é o Míldio

O míldio causado por Plasmopara, é a doença da videira mais importante e causa sérios prejuízos à viticultura, em regiões com muita chuva, principalmente no final da primavera e verão. É também conhecida como peronóspora, mufa ou mofo.

Danos
Os maiores danos diretos estão relacionados com a destruição parcial ou total dos frutos, podendo também produzir efeitos negativos sobre a produção futura, porque provoca desfolha e consequentemente enfraquece a planta. Geralmente as variedades de uvas européias são mais suscetíveis ao míldio que as americanas e híbridas

Período de vulnerabilidade
A fase de maior suscetibilidade da videira ao míldio ocorre desde o início da brotação dos ramos até o início da compactação do cacho. Todas as partes verdes da videira podem ser infectadas, sendo os primeiros sintomas observados cerca de 5 a 7 dias após a infecção. Os sintomas foliares iniciam-se com manchas circulares amarelas com a aparência de manchas de óleo apresentando um halo castanho amarelado nas folhas novas que com o tempo acaba desaparecendo.
Normalmente, a frutificação não é muito intensa, ficando total ou parcialmente marrom escuras, destacando-se facilmente do cacho, não havendo formação de eflorescência branca característica.

 

O que é Calda Bordalesa

Calda Bordalesa é a mistura do sulfato de cobre e cal virgem salpicada sobre as folhas da videira suprimiam o desenvolvimento do míldio. Inicialmente esta mistura foi utilizada para desencorajar o furto de uvas de um vinhedo Desde então, vem sendo utilizada em várias culturas para o controle de doenças fúngicas e bacterianas. A calda Bordalesa é uma suspensão coloidal, de cor azul celeste, obtida pela mistura de uma solução de sulfato de cobre penta hidratado (CuSO4.5H20) e suspensão de cal virgem.

 

Reportagem baseada no documento nº 100,
lançado pela Embrapa Uva e Vinho, da Embrapa de Bento Gonçalves, de autoria dos pesquisadores,
doutores George Wellington Bastos de Melo,
Jovani Zalamena, Gustavo Brunetto e Carlos
Alberto Ceretta, com complementos dos estudos
do Dr Lucas da Conceição Garrido

 

Em um solo Cambissolo Húmico, (* Classes dos Cambissolos caracterizados pela presença do horizonte A superficial húmico, que se caracteriza pela cor escura, rica em matéria orgânica, associado a climas frios de altitude ou clima subtropical do Sul do Brasil) com 100 mg Cobre kg-1, observam-se videiras jovens com maior altura quando cultivadas nas doses maiores de composto orgânico, o que pode estar associado à menor disponibilidade de Cobre
As videiras jovens cultivadas em solos com altos teores de Cobre apresentam menor produção de raízes, o que,por consequência, retarda a velocidade de crescimento. Em alguns solos de vinhedos, também se observa a mortalidade das videiras, provocando a necessidade de reposição de plantas, que levam mais tempo para iniciar a produção.
A aplicação de 1,5 e 3,0 Mg ha de calcário, para elevar o pH a 5,4 e 6,1, respectivamente, em um solo Argissolo Vermelho com 38,6 mg kg-1 de Cobre disponível , diminui a disponibilidade de Cobre no solo,promovendo o crescimento e, por consequência, a produção de raízes e a parte aérea de videiras e aveia-preta