Teste com hormonioterapia e rádio podem dispensar o uso de quimioterapia em mulher com tumores iniciais em mamas

2015-04-10_190211
Além de poupar pacientes de efeitos colaterais, como fadiga, náuseas e perda de cabelo, evitar a químio gera uma economia para o sistema

O uso de um teste genético em um hospital público de São Paulo evitou que 69,7% mulheres com câncer em estágio inicial de um grupo de 111 pacientes recebessem quimioterapia sem necessidade

 

Estes resultados são de um estudo inédito no Brasil feito pelo grupo Fleury e o Hospital Pérola Byington, do governo paulista, e foi divulgado no último sábado (13) no congresso da Sociedade Brasileira de Mastologia. A recomendação médica padrão hoje, é prescrever quimioterapia para todas as mulheres diagnosticadas com tumores de 1 cm ou mais por causa da dificuldade de prever se o câncer vai evoluir ou não de forma agressiva.
No entanto, há uma década a literatura médica vem apontando que, com a ajuda de testes genéticos, é seguro e efetivo evitar a quimioterapia na maioria dos tumores iniciais de mama. Isso tem levado países como Reino Unido, França e Canadá a adotar esses exames em seus sistemas públicos de saúde.
No ano passado, um estudo do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos com 10 mil mulheres de seis países (EUA, Austrália, Canadá, Irlanda, Zona Zelândia e Peru)chegou às mesmas conclusões do grupo brasileiro: 70% das pacientes submetidas ao teste não precisaram de quimioterapia.
No Brasil, as pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) foram submetidas ao exame genético Oncotype DX, que detalha o risco de agressividade do tumor de mama, possibilitando uma previsão sobre a resposta do câncer aos tratamentos disponíveis e uma decisão terapêutica mais adequada para cada caso. Antes do teste, 109 de 111 mulheres estudadas no Pérola Byington, com idades entre 34 e 78 anos, tinham critérios clínicos para a quimioterapia. Após o exame, apenas 33 permaneceram com a indicação. O restante recebeu hormonoterapia, um tratamento menos agressivo, e radioterapia, caso necessário.
Segundo Luiz Henrique Gebrim, diretor do Hospital Pérola Byington, a tendência é fazer com que o tratamento oncológico seja específico e não generalizado, como no caso de infecções em que se oferece antibiótico para todo mundo. “Sabemos que 30% dos casos de câncer de mama iniciais podem se agravar em dez anos. Então não dá para confiar só no exame que o patologista faz. O estudo molecular dá pistas se o câncer vai voltar ou não mesmo estando no início e sinaliza o que é melhor para o paciente usar como prevenção.”
Além de poupar pacientes de efeitos colaterais, como fadiga, náuseas e perda de cabelo, evitar a químio gera uma economia para o sistema. O custo do tratamento feito com quimioterapia, por um período de quatro a seis meses, só com medicamentos, é de cerca de R$ 400 mil. “Há outros custos indiretos para essas mulheres e para o governo, como o tempo de deslocamento até o hospital para as sessões de químio, internações, falta ao trabalho e possíveis sequelas do tratamento. Isso tem um valor muito maior do que só o remédio em si”, diz o médico.
O grande entrave é o custo elevado do exame genético: R$ 13 mil cada um. Ele não está aprovado no SUS e apenas algumas operadoras de saúde pagam por ele. “A gente precisa de mais estudos econômicos para mostrar a relação de custo e efetividade para o sistema e ver o quanto seria possível pagar por ele. Ele precisa trazer beneficio não só para o paciente, mas para o sistema financeiro do SUS.”
O Hospital Pérola Byington atende cerca de mil novos de câncer de mama por ano. A indicação para o teste seria para mulheres com tumores iniciais, de até 3 cm, o que corresponderia a um universo de 40% das mulheres, ou seja, 400 mulheres por ano.
Segundo Edgar Rizzatti, diretor-executivo médico e técnico do Grupo Fleury, neste primeiro momento a prioridade é a continuidade dos estudos clínicos para atestar o benefício do teste na população brasileira. Ainda neste ano, o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) e a Santa Casa de São Paulo farão pesquisas semelhantes.