Safra 2017 – excelente quantidade e uma qualidade dependente da localização e do nível tecnológico dos vinhedos

São Pedro 2015-04-10_190211
Tabela 1: Comparativo das safras 2016 e 2017 para precipitação (mm) nos meses de dezembro a fevereiro (até 13/02), em Bento Gonçalves, RS.

Mauro Zanus
Embrapa Uva e Vinho
uva-e-vinho.imprensa@embrapa.br

Descrever a safra da uva é, essencialmente, abordar 2 aspectos: sua quantidade e qualidade. Em 2017, observando os vinhedos da Embrapa e de diversas áreas nas regiões vitícolas do RS, pelas condições favoráveis com um inverno com muitas horas de frio abaixo de 10 °C e excelente brotação das gemas, que ocorreu em agosto/início de setembro, e pelas condições adequadas na primavera, na fase de floração e pegamento de frutos (com quase nada de doenças, como o míldio) já garantiu uma safra com elevado potencial de quantidade. Ao que tudo evidencia, 2017 terá uma excelente produção, possivelmente maior que 710 milhões de quilos, um viés bem acima do normal, que deverá restabelecer os estoques de vinhos e sucos perdidos com a safra de 2016, na qual ocorreu uma quebra de cerca de 50%.
Com relação a qualidade da safra, todos os modelos climáticos sugeriam que o tempo neste verão seria mais seco, por causa do fenômeno La Niña, o qual, surpreendentemente, não se confirmou. A esse respeito, o último relatório do NOAA (National and Oceanic Atmospheric Administration), dos EUA, de 9/02/17, acena que, definitivamente, temos em fevereiro um clima sem a influência dos 2 maiores condicionadores do tempo na região sul do Brasil: La Niña ou El Niño.
Então, a aleatoriedade das correntes e movimentos de massa de ar do extremo sul, e provindas do norte, é que estabelecerão se teremos nesse final de safra um tempo normal, mais seco ou mais úmido. Como a produtividade por planta está relativamente alta, o impacto das chuvas fortes de verão e da umidade tem sido ainda maior, pois a planta da videira, tendo mais drenos (cachos), tem a maturação dos frutos ainda mais dificultada. Esse problema ocorre mais acentuadamente nos vinhedos de uva Isabel, no qual a carga excessiva de frutos determina uvas com grão desuniformes, rosados e de baixa graduação (< 14 Babo).
Comparativamente à safra de 2016, tem-se que dezembro de 2016 foi menos chuvoso do que 2015 (o que é muito positivo para a safra 2017!) e o mês de janeiro ficou dentro do normal de precipitação pluviométrica, o que o torna medianamente chuvoso. Isso fez com que as uvas precoces colhidas e agora as uvas intermediárias como a ‘Riesling Itálico’, ‘Trebbiano’, e em algumas áreas a ‘Merlot’, apresentassem uma qualidade intermediária/boa, muito dependente do local do vinhedo.
Vinhedos bem localizados (de encostas) e bem drenados, empregando mudas de qualidade e tratos culturais adequados lograram atenuar o efeito prejudicial das chuvas. Vinhedos com pior localização (mais planos), mal drenados, com videiras virosadas e com baixo nível tecnológico tem propiciado uvas com grau de maturação abaixo do adequado. O limite legal de 3 graus de chaptalização será desafiante para uma fração importante de vinhos da região, bem como alcançar o teor de açúcar mínimo para a elaboração de suco integral.
Este relato, enfim, aponta que a safra de 2017 será uma safra de grande volume e de qualidade, ainda, a ser definida pela aleatoriedade das chuvas de meados de fevereiro e março. E remete, cada vez mais, da importância de estabelecer os vinhedos no locais certos, com mudas de elevada qualidade, níveis de produtividade/planta não excessivos, com tratos culturais, controle de doenças e manejo adequados.