Polêmica que levou ao encerramento de exposição de obras de arte é ampliada pelas redes sociais

2015-04-10_190211
Exposição em museu de Porto Alegre foi cancelada após polêmica em redes sociais

Acusações de pedofilia e até zoofilia disseminaram onda de críticas na internet, causando encerramento de exposição

Nos últimos dias, uma exposição de arte foi o centro de uma polêmica. A exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que estava em cartaz há quase um mês no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada após uma onda de protestos nas redes sociais. A maioria se queixava de que algumas das obras promoviam blasfêmia contra símbolos religiosos e também apologia à zoofilia e pedofilia.
A mostra, com curadoria de Gaudêncio Fidelis, reunia 270 trabalhos de 85 artistas que abordavam a temática LGBT, questões de gênero e de diversidade sexual. As obras – que percorrem o período histórico de meados do século XX até os dias de hoje – são assinadas por grandes nomes como Adriana Varejão, Cândido Portinari, Fernando Baril, Hudinilson Jr., Lygia Clark, Leonilson e Yuri Firmesa.
Nas redes, as mensagens e vídeos mais compartilhados pelos críticos e movimentos religiosos mostravam a pintura de um Jesus Cristo com vários braços (a obra Cruzando Jesus Cristo Deusa Schiva, de Fernando Baril) e imagens de crianças com as inscrições Criança viada travesti da lambada e Criança viada deusa das águas, da artista Bia Leite. As manifestações foram lideradas principalmente pelo Movimento Brasil Livre (MBL), que pediu o encerramento da exposição e pregou ainda um boicote ao banco Santander. O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB) também se manifestou contra a mostra dizendo que elas exibiam “imagens de zoofilia e pedofilia”.
Diante da forte repercussão repentina, o Santander esclareceu, por meio de nota, em um primeiro momento, que algumas imagens da mostra poderiam provocar um sentimento contrário daquilo que discutem. No entanto, elas tinham sido criadas “justamente para nos fazer refletir sobre os desafios que devemos enfrentar em relação a questões de gênero, diversidade, violência entre outros”. Dois dias depois, entretanto, o banco voltou atrás e cedeu às pressões dos críticos com medo de um forte boicote contra o Santander e de manchar a imagem da instituição financeira.

A polêmica nas redes sociais
O caso do fechamento da exposição Queermuseu, após protestos que viralizaram na internet contra o conteúdo da mostra, não é o primeiro nem será o último a levantar a questão da censura às obras de arte por meio da pressão financeira. Há três décadas, o Congresso americano cortou o fundo de quase US$ 100 milhões do National Endowment for the Arts (NEA) por patrocinar mostras de artistas como os fotógrafos Robert Mapplethorpe e Andres Serrano, após sofrer pressão de grupos como o America Family Association. Hoje, o NEA recebe a punição do governo Trump por ter promovido no passado exposições polêmicas como a mostra brasileira. Queermuseu foi montada com dinheiro da Lei Rouanet (R$ 800 mil), que será devolvido aos cofres públicos conforme promessa do Santander.
O exemplo do Santander Cultural se compara ao caso das poses homoeróticas dos modelos negros de Mapplethorpe ou das imagens anticlericais de Andres Serrano, que, em 1989, provocou escândalo ao exibir a foto de um crucifixo mergulhado num líquido âmbar que jurava ser sua própria urina.
A mostra gaúcha tinha vários trabalhos de conteúdo considerado ofensivo pelas entidades que protestaram contra – e conseguiram fechar – a exposição, entre eles a obra Cena de Interior 2, realizada pela pintora Adriana Varejão.
Versão paródica da ‘shunga’, a antiga gravura erótica japonesa, em que os personagens orientais são substituídos por senhores abusando sexualmente de seus escravos, a obra de Varejão não é nem mais nem menos artística (talvez menos elaborada) que os originais de um Hokusai. Numa das gravuras do japonês, uma mulher faz sexo com um polvo – e vale lembrar que Hokusai era um homem do século 18, também autor de 36 líricas vistas do Monte Fuji. Nenhum museu civilizado proibiu até hoje a exibição do clássico Hokusai (1760-1849), endeusado pelos pintores impressionistas. Nem censurou sua zoófila imaginação.

Promotor diz que não há pedofilia em obras de arte
Um dia após o cancelamento de uma exposição de diversidade sexual em Porto Alegre, dois promotores do Ministério Público do Rio Grande do Sul foram até o Santander Cultural, que sediava a mostra. A visita ocorreu na segunda-feira (11) e foi motivada por denúncias de que as obras estariam promovendo pedofilia e a sexualização de crianças, além de zoofilia.
“Fomos examinar in loco, ver realmente quais obras que teriam conteúdo de pedofilia. Verificamos as obras e não há pedofilia. O que existe são algumas imagens que podem caracterizar cenas de sexo explícito. Do ponto de vista criminal, não vi nada”, salienta o promotor da Infância e da Juventude de Porto Alegre, Julio Almeida.
Além do promotor, também visitou a exposição a coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, Denise Villela. Os dois analisaram as mais de 200 obras e identificaram que quatro a cinco peças poderiam ter cunho sexual.
Para o promotor, uma das medidas que poderiam ser tomadas seria colocar essas peças em um espaço reservado. Entretanto, o ECA não faz uma exigência “objetiva” da necessidade da colocação de classificação etária para museus.

Conheça os 5 maiores museus eróticos do mundo
As cidades mais turísticas do mundo surpreendem com grandes edifícios, avenidas espetaculares ou parques românticos. As fotografias se contam em milhões anualmente da Estátua da Liberdade, Torre Eiffel ou dos canais de Amsterdã, mas andando pelas ruas e saindo do obvio os museus eróticos são algumas dessas pequenas e inesperadas surpresas que vemos em cidades como Nova York, Las Vegas, Praga ou Amsterdã que se transformam numa aventura cheia de histórias.
01. Sex Machines Museum
O Museu Sex Machines em Praga é um exemplo. Localizado na Cidade Velha, o museu foi inaugurado em 2002 e completamente renovado em 2015. Decorado em tons de vermelho, o museu contém mais de 300 exposições, distribuídos por três andares de um edifício histórico do século XVII. O Sex Machines Museum divide espaço com quartos antigos e modernos objetos eróticos e uma réplica de um filme dedicado à projeção de filmes eróticos em preto e branco do início do século XX.
02. Venus Temple, Amsterdã
Se há um lugar no mundo onde o erotismo segue normalmente é Amsterdã. Seu distrito da luz vermelha é um ponto de referência por ser um dos bairros mais liberais no mundo em termos de atitude em relação à prostituição, drogas e diversidade sexual. Localizado no “Red Light”, o Venus Temple, é um museu que atrai anualmente meio milhão de turistas. O local ocupa um edifício secular com janelas e tela com figuras e desenhos explícitos. O Templo de Vênus conta a história de sexo ao longo dos séculos com relíquias como um fragmento de porcelanato de navios romanos que deixam pouco à imaginação.
03. Museu Erótico de Barcelona
A Espanha também tem museus eróticos, um dos quais é o de Barcelona. Localizado no coração da cidade, o Museu de l’Erotica inaugurado em 1997 conta com um universo erótico como o Hindu Kama Sutra, arte erotica banida do Japão, as origens do filme pornográfico espanhol, a história da arte erótica através olhar dos grandes gênios da pintura ou os mais surpreendentes registros sexuais entre outros assuntos. O museu oferece uma viagem histórica e cultural através do mundo do erotismo e da sua representação na arte através de mais de 800 peças que tornam -se uma grande coleção.
04. MofSex New York
New York, a cidade que nunca dorme, também esconde seu Museu do Sexo, mais conhecido como MofSex. Localizado na 233 Fifth Avenue, abriu em 5 de outubro de 2002. Seu fundador, Daniel Gluck, queria para começar um museu dedicado à ” importância da história, evolução e cultura do desenvolvimento da sexualidade humana”. O museu concentra-se em uma variedade de preferências e subculturas sexuais, incluindo a história gay e do erotismo entre outros. Embora as exposições do museu sejam apresentadas em formato educacional é comum ter conteúdo explícito proibido para menores de 18 anos.
05. Erotic Museum Harry
Mohney, Las Vegas
O Erotic Museum Harry Mohney, também conhecido como Museu Erotico Heritage (EHM) surgiu para preservar antigos artefatos eróticos, obras de arte e filmes com erotismo, trabalho educativo , científico e literário relacionados à saúde sexual. O MHE tem mais de 7.000 metros quadrados de exposições permanentes com materiais eróticos históricos e contemporâneas doados.

Outras polêmicas na história
Além da polêmica exposição do Santander Cultural, outras obras já deram o que falar na História. Um exemplo é o quadro Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, que parece ser inofensivo nos dias de hoje, mas na época em que foi pintado foi considerado bastante ousado.
A última ceia e Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci
Leonardo Da Vinci (1452-1519) pintou “A última ceia” como “o último encontro de Jesus com seus discípulos”. Presente na versão réplica em muitos lares brasileiros, o quadro se tornou legendário e muitos investigam seus detalhes com o objetivo de revelar algum segredo supostamente oculto pelo talento de Leonardo. Há livros e documentários sobre o assunto. Mas o verdadeiro segredo é a qualidade da pintura do artista italiano ao retratar um tema caro à civilização ocidental.
Já “Mona Lisa” é considerada a pintura mais famosa de todos os tempos e permite várias interpretações, principalmente em busca de quem seria a Mona Lisa, seria o próprio Da Vinci? Uma amante?Uma nobre?Outra curiosidade é que o olhar da personagem sempre segue o observador, independente donde ele se encontra.
Guernica, de Pablo Picasso
Pintado em 1937, “Guernica”, do espanhol Pablo Picasso, diz respeito ao bombardeido da cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). É um dos quadros mais conhecidos do século 20. Costuma-se dizer que é icônico e a arte como denuncia.
O juízo final, de Michelangelo Buonarroti
O italiano Michelangelo (1475-1564) era um gênio da pintura. E, como gênio, um rebelde, mesmo num tempo de forte dominância da Igreja Católica. A pintura “O juízo final” está na parede do altar da Capela Sistina. Trata-se de uma pintura religiosa? Por certo, sim. Mas há um quê de laico, por exemplo na nudez.
Saturno devorando um filho, de Francisco de Goya
“Saturno devorando um filho”, do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828), é um dos mais famosos quadros da história da arte. A pintura mostra, com toda a crueza possível, “Chronos ou Saturno devorando um de seus filhos” com Rea. Trata-se de um recém-nascido. O deus mitológico temia que um de seus filhos o destronasse.
Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli
Na época do Renascimento, os artistas costumavam a pintar mulher nuas (apelidadas de Vênus). Sandro Botticelli pintou “O Nascimento de Vênus”, obra encomendada pelo poderoso Lorenzo de Médici , mas que no lançamento foi acusada de apologia ao paganismo, já que a maioria das obras eram de cunho católico.