Pare de sabotar seu relacionamento: o ciúme não precisa mais ser o vilão da vida a dois

2015-04-10_190211

Colunista: Viviane Tremarin – Psicóloga Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental 

“Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo por sê-lo, porque temo que o meu ciúme magoe o outro e porque me deixo dominar por uma banalidade… sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser normal” – Roland Barthes

Ciumento(a), eu?
Se desmembrássemos o ciúme em um laboratório químico, a fórmula dele certamente seria amor e medo em grande intensidade. Eu não entendo muito de química, mas nesse caso, juntar duas emoções opostas causa uma tremenda explosão. Quantas vezes nos vimos nessa mesma situação. E não precisa mentir para mim, eu sei que dizer que não tem ciúme, nos dias de hoje, se tornou um sinal de maturidade e de espírito evoluído, mas se você sente ciúme, acredite em mim, não tem nada de errado com você.

Vilão ou tempero dos relacionamentos?
O ciúme saudável é aquele que se mostra como um carinho, um excesso de preocupação e faz com que o outro se sinta valorizado. O ciúme tóxico aparece como uma obsessão e precisa ser confirmado ou descartado (pode ser por meio de ligações para saber o que o outro está fazendo ou com quem está, perder o sono pensando no que pode estar acontecendo escondido, ou passar o dia investigando a vida daquela pessoa, entre outros comportamentos).

Ele é prova de amor para alguns e sinal de insegurança para outros. Eu não vou jogar pedra nele e nem dizer que ele é o gás da relação, porque assim como as outras emoções o ciúme é natural e o papel dele na relação é subjetiva para cada casal. Ele não é todo bom e nem todo mal, depende do que fazemos com ele. Mas essa é uma emoção que pode carregar sofrimento para quem sente e para quem é vítima dela, então se você percebe que seu ciúme está trazendo prejuízos para sua vida amorosa e pessoal, eu quero acender uma luz pra você e dizer que dá para encontrar equilíbrio no meio disso.

Mas eu me mordo de ciúme
O ciúme quer proteger as relações que são importantes para nós quando uma ameaça é percebida. Ele inclusive foi importantíssimo para a evolução da nossa espécie. No entanto, essa emoção protetiva é carregada de ironia porque para algumas pessoas ele serve para ferir, controlar e maltratar, um caminho que não carrega proteção e cuidado.

Sem contar que, inúmeras vezes, o ciúme usa óculos escuros e percebe ameaças aonde elas não existem. O ciúme que quer proteger a nossa relação às vezes é quem ajuda a acabar com ela. A intenção é boa, o problema é quando a execução falha.

Como encontrar equilíbrio com o ciúme
O ciúme é uma emoção intensa e pouco racional, mas isso não significa que estamos estagnados e devemos nos submeter a ele. Eu sempre digo: é possível sentir ciúme, sem agir com ciúme. Com isso eu quero dizer que todos têm o direito de sentir o que sentem, mas o comportamento ciumento que normalmente inclui investigar, acusar ou brigar, pode ser evitado.

Uma forma de começar a senti-lo sem que ele tome conta do nosso dia é repensar o ciclo de pensamentos que surgem diante de uma situação que pareça ameaçar a relação – porque pensamentos são apenas pensamentos, e não fatos. Não podemos nos livrar das emoções que são desagradáveis, o que podemos fazer é aprender a viver com elas. Quando o ciúme começar a bater na porta querendo sair, podemos tentar lidar com ele de outra forma.

Em vez de imaginar tudo de horrível que pode estar acontecendo sem que saibamos, que tal observarmos o que as evidências concretas estão nos mostrando? Em vez de considerar que isso que não sabemos é uma verdade, que tal dar o benefício da dúvida e tentar entender se existe outra explicação para aquilo? Em vez de tentar descobrir, investigar e controlar, porque não tentamos esperar a intensidade do sentimento diminuir para observarmos com mais clareza? E se na hora de tratar os pensamento e sentimentos como realidade, nos lembrarmos que os pensamentos e sentimentos não são fatos? Antes de agir com a emoção, podemos nos questionar sobre quem o ciúme está falando, afinal, é o outro que não merece confiança ou sou eu que preciso trabalhar mais minha autoestima e minha autoconfiança? E podemos olhar para o que o ciúme está sinalizando, às vezes ele aparece como um pedido interno por mais comprometimento, honestidade, segurança, estabilidade…

Observe sem julgar
Analisar nossas escolhas pode ser o passo que nos impede de sabotar nosso relacionamento. Porém quando a emoção tem justificativa é hora de ser assertivo(a), resolva o problema com seu(sua) parceiro(a) e estabeleça limites.

Nós estamos a um passo mais perto de uma relação saudável com o ciúme quando refletimos sobre ele, porque assim somos nós agindo sobre ele, e não mais ele sobre nós.