Mesmo com poucas chuvas, os parreirais devem receber cuidados contra o míldio e a podridão dos cachos

2015-04-10_190211
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No último boletim publicado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a previsão indica maior probabilidade de chuvas dentro da faixa normal ou acima em praticamente toda a região, principalmente no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. As temperaturas devem ser predominantemente elevadas, porém dentro das características típicas do verão na região.
Para a agricultura, uma das variáveis meteorológicas que mais influencia o desenvolvimento de doenças é o volume de chuvas e, no caso da videira, como em outras espécies de plantas, ela é extremamente importante neste período que antecede a colheita da uva. A frequência de chuvas, a alta umidade relativa, o molhamento foliar constante, o orvalho e a cerração tornam o ambiente extremamente favorável para o crescimento dos fungos sobre a superfície dos tecidos vegetais, dando prosseguimento à infecção, colonização e esporulação, quando eles podem se disseminar. As principais doenças que têm ocorrido nos vinhedos da Serra Gaúcha nessa época são o míldio (mufa) e as podridões do cacho.

Neste momento decisivo da safra, o controle do míldio vem sendo realizado com a utilização de produtos à base de cobre, entre eles a calda bordalesa, que possibilita uma proteção de aproximadamente 15 dias, devido à presença da cal, que age como um fixador do cobre sobre os tecidos, reduzindo a lavagem. Já as formulações de hidróxido de cobre ou oxicloreto de cobre, por causa de sua formulação diferente, devem ser reaplicadas a cada 7 dias ou após chuvas acima de 20 mm, a fim de não deixar os tecidos desprotegidos. As podridões do cacho da videira, por outro lado, devem ser manejadas visando reduzir tanto o inóculo presente no parreiral como também garantir a proteção dos tecidos das bagas. Assim, o produtor deve percorrer diariamente o vinhedo e retirar as bagas ou pedaços de cacho que estejam com alguma podridão, recolhendo-os para posterior destruição. Esta medida visa reduzir a disseminação da doença para outras bagas ou cachos presentes na área. Também é recomendada a pulverização dos cachos com fungicidas sistêmicos (piraclostrobina + metiram, tebuconazole, tetraconazole, boscalida + cresoxim metílico, pirimetanil, procimidone, azoxistrobina, Bacillus subtilis, entre outros) antes do fechamento do cacho, uma segunda aplicação pode ser feita, observando e respeitando o período de carência do produto utilizado. É importante pulverizar o cacho completamente, para que fique “revestido” com o produto utilizado, uma vez que falhas na cobertura possibilitam o desenvolvimento de podridões.

O agricultor também deve se lembrar dos cuidados na hora da aplicação para a maior eficiência dos tratamentos: evitar os horários muito quentes ou com vento, além de direcionar os bicos adequadamente, seja para as folhas ou para os cachos. Dessa forma, o manejo realizado no vinhedo representará um resultado positivo na qualidade da uva colhida. O uso de EPI’s é outro ponto que deve receber uma atenção especial, pois irá garantir a saúde e a segurança do produtor.

Míldio
O míldio ataca preferencialmente as folhas, mas pode ocorrer também em ramos e frutos. São sintomas típicos do míldio as manchas de coloração verde-claro a amarela na parte superior da folha. E, com o progresso da doença, essas manchas se tornam escuras (necróticas).  Na parte inferior da folha que corresponde ao local da mancha, ocorre o aparecimento de estruturas do patógeno, uma eflorescência de coloração esbranquiçada (bolor cinza). Como o patógeno coloniza os tecidos foliares surge o sintoma de mancha nas folhas na parte superior com coloração verde-claro a amarelo. Essas estruturas aparecem principalmente na parte inferior da folha, onde normalmente os estômatos se localizam e são disseminadas pelo vento e pela água. Neste ponto já há interferência da área fotossintética da planta, sendo um dos prejuízos que a doença causa.

Míldio da videira e histórico dos fungicidas
No Brasil, o míldio é considerado a doença mais importante da videira, causada por Plasmopara viticola. Em condições favoráveis, a doença pode ocasionar perdas de até 75% da produção. Na videira, os sintomas da doença podem ocorrer em todas as partes verdes da planta. Nas folhas, surgem inicialmente pequenas manchas encharcadas e translúcidas na parte superior da folha, chamada de “mancha de óleo”, se você observar as folhas contra a luz. Essas manchas têm coloração verde mais claro. Com o desenvolvimento da doença, essas manchas se tornam mais escuras e podem causar a queda das folhas.

Já na face abaxial da folha, na parte correspondente a essas manchas, surgem uma eflorescência esbranquiçada (estrutura reprodutiva do patógeno), com aspecto cotonoso. As folhas severamente infectadas podem cair, o que pode comprometer o desenvolvimento da planta. Já nos ramos ocorrem as manchas encharcadas, que rapidamente são recobertas pela eflorescência esbranquiçada.
Nos cachos ocorre morte e queda de flores, além de podridão das bagas (frutos). E você pode ser perguntar, o que esta doença em videira tem relação com o histórico do controle químico?
Então vamos voltar um pouco na história para entender este fato:

Míldio e o uso de fungicidas
Por volta de 1870, o míldio (Plasmopara viticola) foi identificado como um dos recentes problemas em Bordeaux, uma região da França, pelo pesquisador Pierre Marie Alexis Millardet.
Ele observou que algumas plantas de videira próximas de estradas não estavam infectadas com míldio. Quando perguntou ao produtor se ele tinha realizado algo com as plantas, este relatou que as videiras estavam pulverizadas com uma mistura (calda) para evitar roubo das uvas, pois elas ficavam com uma cor diferente devido à pulverização e gosto amargo.
Então, Millardet e outro pesquisador (Ulysse Gayon) investigaram sobre a mistura usada pelos agricultores e aperfeiçoaram a calda.

Assim, em 1885, eles publicam o efeito da calda bordalesa (sulfato de cobre e cal) – que era a mistura que os produtores de uvas usavam para evitar roubo – no controle do míldio da videira.
A calda bordalesa é então considerada o primeiro fungicida! E esta mistura de cobre e cal pode ser utilizada até hoje para o controle do míldio em videira. Veja que a partir do míldio da videira foi divulgado o primeiro fungicida, que já era utilizado pelos produtores, mas não com esse intuito.

Míldio x Oídio:
Algumas diferenças
O oídio é outra doença que tem importância para várias culturas agrícolas, mas falaremos sobre ela em outra oportunidade. Fato é que míldio e oídio podem ser confundidos, pois apresentam sintomas similares de cor branca e aspecto pulverulento.

Algumas diferenças são:
A maioria dos míldios apresenta a eflorescência (coloração esbranquiçada e pulverulenta) na face inferior da folha, onde geralmente se localizam os estômatos. Já o oídio apresenta sintomas de coloração esbranquiçada em ambas as faces da folha com extensão em grande parte do limbo foliar;
Míldios ocorrem geralmente em época úmida e os oídios em época seca;
Já no microscópio, as estruturas desses patógenos são muito diferentes, sendo de fácil distinção entre elas. Por isso, se ficar com dúvida procure um(a) eng.(a) agrônomo(a) ou uma clínica fitopatológica.