Mansplaining: o interminável desejo de corrigir as mulheres

2015-04-10_190211

“Manterrupting”, “bropriating”, “mansplaining” e “gaslighting”. Saber que esses problemas existem já é parte importante da solução. Estar atenta aos pequenos gestos cotidianos e transformá-los pouco a pouco farão a sua vida, e de muitas mulheres, melhor

Novamente o termo mansplaining voltou a ser discutido nas redes sociais. Em 2018 a youtuber Kéfera usou o termo ( erroneamente) para  desclassificar a opinião do e outro influencer  num programa matutino da Globo,  pois estava sendo acusado de não poder falar sobre feminismo, sendo ele hetero.
Nesta semana uma a neurocientista Tasha Stanton contou no Twitter um episódio de machismo que sofreu durante a Conferência Australiana da Associação de Fisioterapia, que aconteceu no fim de outubro. Enquanto ela palestrava, um cientista homem a interrompeu no meio do discurso e sugeriu que ela lesse determinado artigo para “entender melhor” o assunto. O artigo que ele indicou, entretanto, tinha sido escrito pela própria palestrante.
Stanton  reagiu  imediatamente e “disse que era um grande elogio que ele recomendasse meu trabalho, que estava feliz por ele ter gostado e achado útil, mas que no futuro ele deveria ter cuidado para não assumir que outras pessoas não sabem as coisas.”
A neurocientista é professora na Universidade do Sul da Austrália (UniSA), já publicou mais de 60 artigos em periódicos científicos e foi palestrante em mais de 50 conferências. Ela completou seu doutorado na Universidade de Sydney em 2010 e atualmente é bolsista do Conselho Nacional de Pesquisa em Saúde e Medicina (NHMRC) da Austrália.
Discussões à parte, o termo em inglês quer dizer sim muita coisa. Mansplaining é um termo criado da junção das palavras em inglês man (homem) e explain (explicar). Ele é usado para descrever quando um homem tenta explicar algo para uma mulher, assumindo que ela não entenda sobre o assunto.
Por definição, o termo mansplaining significa “comentar ou explicar algo a uma mulher de maneira condescendente, excessivamente confiante e, muitas vezes, imprecisa ou simplista”. Ou seja, é o ato de um homem explicar para uma mulher algo que ela já saiba, utilizando normalmente um tom de voz de superioridade, de quem acha que é mais inteligente simplesmente por ser do sexo masculino. Essa explicação é dada sem que a mulher tenha pedido, e muitas vezes se refere à assuntos óbvios, ou que a mulher tenha domínio. Deste modo, mesmo que implicitamente, o homem está subestimando a inteligência da mulher em questão.
Você sabe o que é “manterrupting”, “bropriating”, “mansplaining” e “gaslighting”? São palavras em inglês, mas com um significado universal: machismo para calar sua voz! É fato que existem alguns comportamentos machistas que permeiam nosso cotidiano e sequer nos damos conta. Gestos que parecem inofensivos, disfarçados de piada, mas que, na verdade, roubam nossa força, nosso espaço e limitam as possibilidades das mulheres.

“Manterrupting”
Esse termo é uma junção das palavras em inglês man (homem) e interrupting (interrupção). Traduzindo: “homens que interrompem”. Ele se refere à atitude de alguns homens de interromper a fala de mulheres sem necessidade, impedindo que elas concluam seu raciocínio ou deem sua opinião.
Esse comportamento é muito comum em palestras e reuniões, e pode ser feita pelo homem de forma consciente ou não. Sabe quando a mulher começa a expor seu ponto de vista e é interrompida de forma desnecessária por um homem? Pois bem, “manterrupting” é o nome que se dá a essa falta de educação masculina.
Dica para reverter a situação: Seja enfática e assertiva, dizendo: “Gostaria de terminar meu raciocínio”; “Se me deixar terminar, irá entender”; ou, até mesmo, para aqueles que querem ganhar no grito: “Com licença, eu ainda não terminei”.

“Bropriating”
Bropriating é um neologismo criado pela junção dos termos bro (de brother, cara, mano) e appropriating (apropriação). O termo é usado para definir quando um homem se apropria da ideia de uma mulher, falando como se fosse dele e levando os créditos. O bropriating ocorre muito no âmbito profissional e acadêmico.
Quando colocamos uma ideia, muitas vezes não somos ouvidas. Então, um homem assume a palavra, repete exatamente o que você disse e é aplaudido por isso. Quem já não se viu nessa situação? Em seu livro “Faça Acontecer”, Sheryl Sandberg explica que somos criadas como delicadas, suaves e gentis, jamais como enfáticas ou assertivas. E, quando nos impomos, somos vistas como masculinizadas. Não há dúvidas de que isso atrapalha nossa vida profissional.
Esse comportamento não é privilégio de algumas áreas. Em todos os mercados funciona assim, em qualquer sala de reunião. O “bropriating” ajuda a explicar por que existem tão poucas mulheres nas lideranças das empresas. Dica para reverter situação: Seja dona de sua ideia! Assertividade é a competência fundamental para sobreviver no mundo corporativo.

“Mansplaining”
Sabe quando um homem dedica seu tempo para explicar a uma mulher como o mundo é redondo, o céu é azul e 2+2=4? E fala didaticamente, como se ela não fosse capaz de compreender; afinal, é mulher. Isso é “mansplaining”. O termo é uma junção de “man” (homem) e “explaining” (explicar).
Às vezes, o “mansplaining” também pode servir para um cara explicar como você está errada a respeito de algo quando você, de fato, está certa, ou apresentar “fatos” variados e incorretos sobre algo que você conhece muito melhor do que ele, só para demonstrar conhecimento.
A verdadeira intenção do “mansplaining” é desmerecer o conhecimento de uma mulher. É tirar dela a confiança, autoridade e o respeito sobre o que ela está falando. É tratá-la como inferior e menos capaz intelectualmente.
Talvez você não tenha percebido isso de forma tão explícita no seu cotidiano, mas com certeza agora irá prestar atenção na maneira como seu chefe ou seu marido falam com você, com os elogios desnecessários ou idiotas que você recebe, nas mensagens bobas de parabéns pelo dia das mulheres. Está tudo lotado de “mansplaining”.
Dica para reverter situação: Faça perguntas como “Deixa eu ver se entendi: você está explicando esse assunto novamente para mim, é isso mesmo?”.

“Gaslighting”
Aposto que você já ouviu frases do tipo: “Você está exagerando.”; “Nossa, você é sensível demais!”; “Pare de surtar!”; “Você está delirando.”; “Cadê seu senso de humor?”; “Não aceita nem uma brincadeira?” E o mais clássico: “Você está louca!”
Isso é “gaslighting”, uma violência emocional por meio de manipulação psicológica, que leva a mulher e todos ao seu redor a acharem que ela enlouqueceu ou que é incapaz.
É uma forma de fazer a mulher duvidar de seu senso de realidade, de sua própria memória, percepção, raciocínio e sanidade. Esse comportamento afeta homens e mulheres, porém somos vítimas culturalmente mais fáceis. Apesar desse comportamento afetar homens e mulheres, geralmente elas são as maiores vítimas desse tipo de manipulação.
O termo “gaslighting” surgiu por causa de um filme de 1944, em que um homem descobre que pode tomar a fortuna de sua mulher se ela for internada como doente mental. Por isso, ele começa a desenvolver uma série de artimanhas –como piscar a luz de casa, por exemplo– para que ela acredite que enlouqueceu.
Dica para reverter situação: Esse é o mais complicado, pois são relacionamentos tóxicos. Terapia é uma boa alternativa para entender melhor nossos relacionamentos e como nos livramos desse padrão de comportamento.