Limites saudáveis: o oxigênio das relações autênticas

2015-04-10_190211

Limite, segundo o dicionário, é uma linha que determina uma extensão espacial ou que separa duas extensões. Uma marcação que diz “não é permitido ir além daqui”. Estamos acostumados com esse conceito no nosso mundo externo. Sabemos qual o limite da cidade, o de velocidade nas estradas e até o da fatura do cartão. E quais são os limites internos? E como se estabelece eles sem uma placa de pare para sinalizar o outro? Você reconhece quando seus limites foram ultrapassados? E reconhece quando você mesmo(a) os atropela? Se nesse momento, ao invés de fiscal de seus limites, você se vê mais sendo o(a) burlador(a) deles, saiba que não está sozinho(a). A sociedade num todo tem nos exigido mais do que podemos dar conta, e quanto mais sedemos a essas demandas, mais prejudicamos nossa saúde mental.

Imagine que seu corpo é uma casa. Nela existem janelas, portas e cercas. Você é proprietário(a) dessa casa. Sua responsabilidade é protege-la, zelar por ela e saber quem pode entrar na propriedade e permanecer nela. O limite nos ajuda a entender o que é meu e o que é do outro. Entender os próprios limites é importante para a saúde mental, pois a partir disso não permitimos que os outros invadam nosso espaço, e também não pulamos a cerca do espaço deles. Saber quais são os nossos limites, nos torna conscientes do quanto estamos dispostos a abrir mão e também do que precisamos defender com unhas e dentes.

Infelizmente, não existe um manual que dirá quais são seus limites, pois eles são individuais e variam de pessoa para pessoa. Você é a única pessoa capaz de dizer do que gosta e do que não gosta, o que aceita e o que não aceita. E talvez por isso não sabemos exatamente quando usar a nossa “placa de pare” e quando ler a do outro, temos apenas um semáforo que está sempre sinalizando “atenção”. O autoconhecimento permite que saibamos até onde vão as nossas cercas, nos fortalecendo na hora de legitimar o nosso “sim” e não nos culpando quando a resposta for “não”.

Alguns indícios de que você não tem respeitado seus limites podem ser vistos no dia a dia. Quando lhe pedem ajuda para alguma tarefa que você sabe que não terá tempo para fazer, ou até que não queira fazer, mas diz sim a ela, você está pulando sua própria cerca. Ou quando você permite que, na vida em casal, apenas o outro tome decisões, mesmo que você queira outra coisa no momento, além de pular sua cerca você está invalidando a existência dela. Eu sei que às vezes confundimos amor com auto anulação, mas o prazer não está justamente em se relacionar de forma transparente, podendo ser quem se é? Ou a ideia é apenas nos tornarmos uma extensão do outro?

Conhecer os próprios limites é o primeiro passo. O que vem depois é priorizá-los. Na sua lista de prioridades do dia, qual posição você ocupa? Perceba isso reconhecendo seus sentimentos. Alguma pessoa faz você se sentir mal, dependente ou impotente? Isso pode ser um sinal de que é hora de agir, comunicando de forma assertiva. Às vezes acreditamos que nos colocar em primeiro lugar significa ser egoísta. Mas o egoísmo é a incapacidade de ceder para benefícios que não sejam os nossos. Enquanto se priorizar, é entender que o nosso querer é tão importante quanto o do outro, e ter sabedoria para discernir qual precisa vir primeiro no momento.

E o próximo passo envolve sustentar os limites. Ao comunicar nossos limites é importante não ceder. Afinal, isso pode passar uma ideia de que basta insistir um pouco mais. E claro, é necessário discernimento para equilibrar o atendimento das necessidades do outro e das próprias, já que relações são vias de mão dupla. Existe um porteiro nessa casa interna, que grita o que quer, o que precisa e o que sente. Permita-se ouvir o chamado dele. Experimente a sensação de respeitar a si.