Lembranças traumáticas ajudam no combate ao medo extremo, diz estudo

2015-04-10_190211

Os pesquisadores acreditam que o trabalho possa ajudar outras investigações e, consequentemente, auxiliar na medida da eficácia de intervenções, nos casos de tratamentos de lembranças traumáticas

 

No primeiro semestre deste ano um estudo, conduzido por cientistas da escola Politécnica Federal de Lausana, na França, e publicado por pesquisadores da revista Science, revelou que, em 29% dos casos, a lembrança de um dano físico ou psicológico grave permanece até o fim da vida.
Os casos mais extremos, como de stress pós-traumático (normalmente desenvolvido depois de ocorrências traumatizantes, como guerras ou acidentes perigosos), podem prejudicar muito a vida de uma pessoa. Não é raro que pacientes com esse transtorno tenham dificuldade de construir relacionamentos mais íntimos, por exemplo, ou acabem desenvolvendo problemas psicológicos ainda mais profundos.
Diante da lembrança de uma situação amedrontadora, o que é melhor: evitar a memória ou confrontá-la? Os pesquisadores responderam essa questão.
Usando como base a análise do funcionamento dos neurônios e do comportamento geral de ratos, profissionais descobriram que o chamado ‘medo remoto’ (isto é, ativado mesmo longe da situação de perigo, como tempos depois de um acontecimento problemático ou danoso) é tanto mais atenuado quanto mais os neurônios ligados àquele sentimento negativo forem reativados. Ou seja, quanto mais uma pessoa se acostuma a lembrar de uma situação que causa medo, menor será a sensação de medo com o passar do tempo. Assim, de acordo com os pesquisadores, a opressão de um trauma não é útil para aqueles que pretendem ultrapassá-lo.
Apesar do sucesso do estudo, os cientistas afirmam que ainda há questões a ser exploradas, especialmente quando se trata do funcionamento do cérebro e da relação de algumas de suas partes com o processo de memória de uma situação assustadora. Além disso, os pesquisadores acreditam que o trabalho possa ajudar outras investigações e, consequentemente, auxiliar na medida da eficácia de intervenções, nos casos de tratamentos de lembranças traumáticas.

O marketing do medo
É por isso que existem tantos programas policiais e notícias sobre violência. “Vivemos num mundo onde somos convocados a sentir medo. Na mídia, é como se estivéssemos em perigo constante, podendo ser assaltados em cada esquina”, diz Luís Fernando Saraiva, do Conselho Regional de Psicologia (CRP) de São Paulo. O marketing também é muito baseado no medo. Bancos e empresas de seguro usam esse argumento abertamente, mas, se você observar bem, verá que outros anunciantes também manipulam nossos temores para vender. Só que usam mensagens mais sutis.
“A moda joga com o medo de não pertencer ao grupo”, diz o publicitário dinamarquês Martin Lindstrom, autor de cinco livros sobre as táticas de manipulação usadas pelas empresas. “Aposto que você teria vergonha de sair com a roupa do seu pai, pois se sentiria desconectado da sua tribo”, afirma. “O desodorante traz outro medo, de que você não vai conseguir namorada com seu cheiro. A mesma lógica vale para xampus, branqueadores de dente e academias de ginástica. Afinal, malhamos para estar saudáveis, ou por medo de ficar flácidos?”, questiona Lindstrom. Se você não comprar o carro X, seu filho vai ficar com vergonha quando você for buscá-lo na escola. E por aí vai. Boa parte da propaganda explora o medo da rejeição social.
E esse medo nunca foi tão forte. Nunca estivemos tão ligados uns aos outros, mas, ao mesmo tempo, nunca sentimos tanto medo de não sermos aceitos. Você já deve ter percebido isso quando postou alguma coisa nas redes sociais – e imediatamente ficou ansioso sobre quantos likes aquilo iria ter ou deixar de ter. Um estudo feito pela agência de publicidade JWT com 1.270 americanos e ingleses constatou que 40% dos usuários do Facebook têm medo de não serem incluídos nas conversas online dos amigos. “O mundo exige cada vez mais de nós. Não conseguimos nos desconectar, e aí sentimos mais ansiedade”, diz o psicólogo Saraiva.
Políticos espalham temores para arrebanhar votos, jornalistas faturam em cima de catástrofes, biólogos citam vírus letais quando querem obter fundos para desenvolver vacinas… Todo mundo propaga o medo. Mas não faz isso só por maldade ou interesse próprio. “Se eu disser que há uma doença mortal se espalhando na sala onde você está, você sairá dela mesmo sem saber se é verdade. E vai avisar as outras pessoas”, diz Lindstrom. “Milhares de anos atrás, também espalhávamos a notícia de uma planta venenosa, porque isso aumentava a chance de sobrevivência do grupo.” Ou seja: conforme cada pessoa absorve mais medo, ela também se torna propagadora, espalha esse medo para os outros. É uma reação instintiva.

Vencendo o medo
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das estratégias utilizadas para vencer o medo. Ela nos ensina a mudar os pensamentos ruins que ficam estimulando a amígdala e gerando ansiedade. “A forma como pensamos influencia a maneira como sentimos. Portanto, mudar o modo como pensamos pode mudar como nos sentimos”, resume o psiquiatra Aaron T. Beck, pai da TCC, no livro The Anxiety and Worry Workbook (“O Manual da Ansiedade e da Preocupação”, inédito no Brasil). Se antes da entrevista de emprego você pensa “Não tenho ideia do que dizer; eles acharão que sou um idiota”, vai se sentir tenso e ansioso. Mas se em vez disso você pensar “Estou bem preparado para a entrevista e vou causar uma boa impressão”, ficará mais calmo e confiante. Pode parecer banal, mas funciona. Tem efeitos neurologicamente comprovados.
A exposição gradual da pessoa ao objeto ameaçador também ajuda a superá-lo. A neurologista Katherina Hauner, da Universidade Northwestern, utilizou essa técnica – que se chama dessensibilização – para tratar fobia de aranhas. Ela monitorou o cérebro de pessoas que tinham muito medo e não conseguiam nem olhar para os aracnídeos. Esses voluntários foram sendo expostos às aranhas, aos pouquinhos, sem ultrapassar o limite de cada um. Ao fim do processo, a maioria conseguiu se aproximar e até tocar nas aranhas. Seus cérebros tinham mudado fisicamente. “A terapia mudou a rede de neurônios ligados ao medo, e reorganizou a resposta do cérebro ao objeto ou à situação temida”, concluiu Katherina.
Em seu novo estudo, publicado no final de 2013, ela foi além: mostrou, pela primeira vez, que é possível apagar medos enquanto uma pessoa dorme. Numa experiência meio cruel, que lembra aquelas feitas em ratos, a cientista condicionou um grupo de voluntários humanos a ter medo de certo rosto. Quando eles viam esse rosto, eram expostos a um cheiro específico e levavam um choque elétrico. Em pouco tempo, aconteceu o óbvio: as pessoas associaram o choque aos dois sinais (o rosto e o cheiro), e passaram a ter medo deles. Aí, Hauner resolveu tentar algo revolucionário: apagar o medo. Deixou que os participantes dormissem, e os expôs àquele mesmo cheiro, para que eles evocassem a memória ruim. A diferença é que, agora, não aplicou choques. Deu certo. As pessoas deixaram de ter medo do cheiro – apenas o medo do rosto persistiu.
A técnica de apagar medos durante o sono é experimental, ainda não existe fora dos laboratórios de pesquisa. Mas é possível conseguir o mesmo efeito com um procedimento bem conhecido: a hipnose. “Vivemos tão condicionados no dia a dia que usamos nossa mente de forma muito limitada. Em geral, não comemos quando temos fome, e sim quando está na hora de comer”, diz o psiquiatra italiano Leonard Verea, especialista em hipnose. “A hipnose auxilia a pessoa a estimular a própria mente, para sair da acomodação e ultrapassar obstáculos.”
Segundo Verea, o medo é a dificuldade de lidar com uma coisa desconhecida. Isso pode gerar tensão suficiente para ultrapassar os limites da pessoa e fazer com que ela entre numa espécie de curto-circuito mental. Quem tem ataques de pânico, por exemplo, perde a capacidade de imaginar situações. “E quanto menos ela consegue imaginar, maior a sua ansiedade e menores os seus limites de tolerância frente à situação”, diz ele. “A hipnose ajuda o indivíduo a imaginar que pode sair disso e viver com tranquilidade. Ele sai do pânico aproveitando seus próprios recursos, conscientes e inconscientes.”
A psicanálise e diversas outras terapias também têm se mostrado eficientes para lidar com o medo e a ansiedade. O sucesso não depende da linha terapêutica em si, até porque tudo depende da relação entre o terapeuta e o paciente. Mas existe uma condição básica para que uma terapia dê certo. “O bom atendimento é aquele que não se limita a combater os sintomas. É o que procura entender a causa do problema no cotidiano de cada pessoa”, diz o psicólogo Luís Fernando Saraiva. Faz sentido: você pode tomar calmantes para dormir. Mas se não entender o que está tirando seu sono, pouco adianta.

Efeitos psicológicos dos filmes de terror
Assistir a filmes de terror produz medo, ansiedade, insônia, fobias e traumas mentais, mas o efeito positivo de vê-los regularmente é que ajuda a dessensibilizar as pessoas que sofrem de ansiedade e medo.
Este é um efeito psicológico imediato de ver filmes de terror, que pode permanecer por alguns dias, ou até mesmo meses, depois de ver o filme. Os pensamentos e as situações das personagens podem persistir desde algumas noites até longos períodos de tempo, podendo causar insônia e pesadelos que podem afetar a saúde mental e física.

Medo
A pessoa pode sofrer de medo do escuro, sentimentos de choro, gritos, tremores, náuseas e até medo de perder o controle e medo de morrer.

Ansiedade
É um efeito visível dos filmes de terror em crianças e adultos, e que poder persistir até a vida adulta, no caso das crianças.

Fobia
Presenciar certas situações no filme de terror pode desenvolver uma fobia em relação a animais (mamíferos, insetos, répteis, etc.), a catástrofes naturais, sangue, altura, espaços fechados e pode fazer com que a mente fique perturbada com ruídos fortes ou rostos desagradáveis.

Trauma mental
Algumas das imagens podem ser perturbadoras, tendo como resultado transtornos de estresse pós-traumático, especialmente em pessoas que se submetem aos sofrimentos dos acontecimentos na vida real.
Se uma pessoa desenvolver este transtorno após ver um filme, pode não ser capaz de criar uma linha entre a realidade e a ficção. As pessoas que querem ver e gostam de filmes de terror devem estar mentalmente estáveis, pois caso contrário poderão começar a sofrer de depressão.

Tratamento positivo: dessensibilização
Ver um filme de terror tem algumas vantagens, pois tende a dessensibilizar em relação à violência, o que cria um impacto no comportamento da pessoa e a ajuda a ficar menos sobressaltada quando enfrenta situações complicadas na vida real. Estes filmes se convertem em uma ferramenta eficaz para o tratamento dos medos e das fobias.