Início da primavera é tempo de atenção redobrada nas videiras e frutíferas

2015-04-10_190211
O período inspira cuidados por ser uma época propensa a ataque de patógenos e infestação de pragas, devido aos ventos e fortes chuvas

É nessa fase que o pólen fecunda um óvulo da flor de videira e dependendo das condições como temperatura, luz e umidade, somente um percentual se transforma em bagos, que pode ocorrer de 10% a 50%

 

As flores das uvas aparecem geralmente em seu período de floração ou inflorescência, que é na primavera. Depende muito de como está o clima e as chuvas, principalmente no sul. Nos vegetais as flores são as responsáveis pela formação das células reprodutivas, e na grande maioria das plantas os componentes masculinos e femininos encontram-se na mesma flor, sendo o caso também da flor da videira. Para que ocorra a fertilização correta da flor, é necessário primeiramente ocorrer a polinização, que acontece através de diversos agente polinizadores, como nos insetos, pássaros ou com o vento. É nessa fase que o pólen fecunda um óvulo da flor de videira e dependendo das condições como temperatura, luz e umidade, somente um percentual se transforma em bagos, que pode ocorrer de 10% a 50%.
Nessa época também ocorrem os choros das videiras, representando o fim do repouso vegetativo e o início de um novo ciclo vegetativo da videira. A planta começa através dos cortes da poda a perder sua seiva “choro”, sendo que esse fenômeno se percebe apenas quando a temperatura do solo, a 25 centímetros de profundidade, chega em torno de 10°C. Desta forma as hastes e os ramos começam a recuperar a água e os minerais que perderam no inverno.
Sua germinação acontece de 20 a 30 dias após a fase do choro da videira, depende muito do tipo de uva e também das condições climáticas, da natureza do solo e da quantidade de substâncias que ele retém. Ela começa a brotar e no início o broto da videira incha, depois é que se abrem e começam a aparecer as primeiras folhas.
No começo da brotação é comum a incidência de doenças como a escoriose e antracnose. O processo de infecção ocasionado por doenças pode resultar na perda de produção e deve ser ressaltado o cuidado. Nesse momento os produtores de uva americana, híbrida ou Vitis vinífera devem usar diferentes técnicas de controle, como a resistência varietal e as práticas culturais. Muitos esperam a chuva começar para aplicar preventivos, mas isso é errado. Pois é quando a planta inicia sua brotação aí, já está propensa à entrada de doenças, inviabilizando a produção da próxima vindima.
Quando a doença ou as pragas já estão presentes no vinhedo não existe outra forma de tratamento, por isso é recomendado que sempre invistam na aplicação de preventivos antes que ocorra o sinal da doença. Quando ocorre a utilização de um produto curativo já se perde produção. As vantagens de investir na prevenção são a redução do uso de produtos químicos, a diminuição dos riscos de intoxicação e poluição ambiental e a melhoria na eficiência dos tratamentos fitossanitários.
Com a tendência de que chuvas fortes para a semana, é importante cuidar com os volumes das chuvas até o fim do mês e de preferência ficar atento as precipitações, pois os dias serão chuvosos, mas também serão quentes. Esse fato está diretamente associado ao fenômeno El Niño, que deve se confirmar nos próximos meses.
O período inspira cuidado com relação às cultivares de caroço também, como por exemplo, o pêssego. Nesse período as plantas correm o risco de por patógenos como a antracnose ou infestadas por pragas como a mariposa oriental Grapholita. Caso as medidas adequadas de controle não sejam tomadas, sérias perdas poderão ocorrer e comprometer economicamente a produção.
A amarração também é fator importante nesse momento, pois os fortes ventos podem derrubar a videira ou entortar. Alguns produtores também tiram duas folhas, quando se tem uma videira produtiva e não recente, assim abre espaço para o sol e para não roubar energia das folhas que precisam.

Míldio ou mofo
Um fungo é a causa da doença que ocorre em regiões quentes e úmidas durante o ciclo vegetativo da videira. O fungo desenvolve-se com temperaturas entre 10ºC e 32ºC – ainda mais facilmente quando entre 18ºC e 22ºC. Todos os fatores que contribuem para aumentar o teor de água no solo, ar e planta favorecem o desenvolvimento do míldio: dificilmente ocorre infecção se a umidade do ar for inferior a 75%. De outra parte, o risco será maior quando o período de água livre (chuva, orvalho ou neblina) for maior do que três horas e sob condições de céu encoberto. O fungo incide sobre todos os órgãos verdes da planta, desenvolvendo um talo que neles penetra para absorver a seiva. O tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas é de, em média, quatro dias, dependendo da idade da folha, cultivar, temperatura e umidade.
Um aspecto fundamental para controlar o míldio é conhecer as condições climáticas ideais para seu desenvolvimento: temperatura entre 10ºC e 32ºC e presença de água. Para a ocorrência de infecção secundária, é suficiente apenas uma garoa ou uma névoa, por um período de duas ou três horas. As práticas culturais recomendadas para diminuir o ataque de míldio são drenar a umidade superficial do solo, aplicar tratamento de inverno e cortar as pontas dos brotos infestados. Entretanto, como nenhuma destas práticas é suficiente, recomenda-se a aplicação de fungicidas preventivos. A fase crítica é entre os estágios de floração a fechamento do cacho. Em regra, as cultivares americanas e híbridas são mais resistentes que as viníferas.
A podridão cinzenta ou mofo cinzento, é causada por um fungo. Ele possui mais de 200 hospedeiros conhecidos, o que contribui para a sua disseminação, e está presente em praticamente todos os vinhedos do mundo, acarretando danos tanto na produtividade como na qualidade da uva. Além de tudo, sobrevive no solo, em restos culturais, na casca dos ramos e também em frutos mumificados da safra anterior. Os esporos produzidos na primavera infectam folhas e cachos novos antes da floração. A infecção dos cachos pode ocorrer através das partes das flores que são suscetíveis, com o patógeno permanecendo latente até o amadurecimento das bagas, quando então aparece a podridão cinzenta. A caliptra – conjunto de pétalas da flor da videira- e o receptáculo das flores são os locais predominantes de infecção. Os principais danos ocasionados são decorrentes da necrose peduncular que ocorre no início da formação do cacho e da própria podridão cinzenta nas bagas maduras ao final do ciclo.
O controle desta doença é baseado na utilização de fungicidas químicos recomendados para a cultura. Porém, é necessário destacar que outras medidas devem ser utilizadas, como: evitar o uso de porta-enxertos e excesso de adubação que proporcione muito vigor nas plantas, realizar alternância de grupos químicos, evitar a utilização de fungicidas derivados do ácido ditiocarbâmico, realizar retirada de folhas e ramos que cubram excessivamente os cachos e proporcionem condições favoráveis à doença e até mesmo remover restos culturais infectados. O tratamento químico feito no inverno auxilia nesse ponto para redução de fontes de inóculo e evita cultivares com cacho muito compacto. É possível observar que a maior quantidade de inóculo está presente durante o florescimento e no resto de cultura presente na linha de plantio. Isto mostra a importância do cuidado com as medidas de prevenção na época da floração, em virtude de ser uma potencial forma de entrada do patógeno na planta.

Escoriose
Causada por um fungo, pode ser agressiva em regiões onde há alta umidade no período da brotação – e logo depois dele. Geralmente, sua incidência é na primavera, quando os brotos começam a crescer e sob condições de temperatura superior a 8ºC e umidade relativa do ar acima de 80%. Outras circunstâncias necessárias para sua ocorrência: chuva e existência de umidade livre sobre as brotações verdes, quando estas não estão protegidas. A escoriose atinge os tecidos verdes não protegidos, quando existir água livre por diversas horas. Frequentemente é confundida com a antracnose. Onde a doença é endêmica (aparece todos os anos), torna-se severa quando chove por diversos dias seguidos durante o início da brotação. Quando a temperatura estiver entre 5ºC e 7ºC e os brotos tiverem de 3cm a 5cm de comprimento, estarão muito suscetíveis ao ataque da moléstia.

Antracnose
A antracnose, causada por um fungo, desenvolve-se em todos os órgãos verdes da planta e durante todo o ciclo vegetativo se ocorrerem as condições ideais. Nas regiões de primavera úmida, com chuvas abundantes e frequentes, associadas a ventos frios, a doença é mais agressiva. O fungo sobrevive de um ano para outro nas lesões dos ramos, assim como nos restos de cultura no solo, sob condições de alta umidade por períodos de 24 horas ou mais e com temperaturas acima de 2ºC. A temperatura ótima para o desenvolvimento da moléstia é entre 15ºC e 18ºC. Ela é especialmente agressiva em anos muito chuvosos na fase inicial do desenvolvimento vegetativo da videira.
Controle: quando ocorrer ataque severo durante o ciclo vegetativo é aconselhável realizar tratamento de inverno com calda sulfocálcica. Durante o período vegetativo, é importante aplicar os fungicidas para o controle da doença, iniciando quando a brotação tiver de cinco a 10cm e seguindo até que as condições climáticas estejam favoráveis ao desenvolvimento da moléstia.
Quando se usa fungicida de contato e chove mais de 20mm, é aconselhável a reaplicação até 24 horas após a chuva. A fase crítica é o início da brotação, quando o controle é indispensável. A severidade da antracnose depende, principalmente, das condições locais de alta umidade e exposição a ventos frios. A retirada dos restos de poda é uma medida de grande eficiência no controle da doença. A aplicação contínua, por mais de três vezes, do mesmo produto sistêmico poderá induzir o aparecimento de resistência.