Indústria se ressente do impacto do aumento da tarifa de energia

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O reajuste da energia impactou em até 60%, gerando perdas na competitividade no mercado interno e externo aumentando o custo de produção nos setores metal, mecânico e moveleiro de Bento Gonçalves

O reajuste autorizado pela Aneel elevou o valor das contas em até 60%, gerando perdas na competitividade no mercado interno e externo aumentando o custo de produção

 

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou os reajustes nas contas de luz para o Rio Grande do Sul no dia 19 de junho, justamente quando ocorre o aumento no consumo da luz devido ao inverno. Contas que geralmente viriam em torno de R$100 por exemplo, tiveram o aumento de até 60% no valor.
Em abril a Aneel já havia anunciado a Quarta Revisão Tarifária Periódica da RGE, com os índices de valor da conta para residências tendo aumento de cerca 21% e para indústrias, cerca de 19%, fora o valor de custo extra n bandeira vermelha, que é de R$5 a cada 100kWh consumidos.
O cenário assustador é compartilhado pelo empresário Juarez Piva, que há um ano atrás pagava de R$ 55 a R$ 80 mil de luz, e que agora afirma pagar em torno R$ de 85 mil mensal, mas que, segundo ele, o valor da conta do último mês foi pelo menos R$ 17 mil acima desse valor, quando comparado ao mês de junho. “O impacto foi significativo no custo do produto, que representa diretamente quase 20% do valor. E isto vem repercutindo em toda a cadeia metal mecânica de forma surpreendente. Perdemos produtividade nas exportações. O custo na produção aumentou muito, tanto em produção quanto no produto final, acabamos perdendo nos dois sentidos”, afirma.
Piva é ainda mais enfático e crítico em relação ao impacto no aumento da conta de luz. “De início, nós como indústria estamos sentindo os impactos diretamente em questão de modalidades de aumento de contas básicas. Como a energia vem das usinas e o governo está interferindo nas negociações particulares, Piva ressaltou a necessidade de deixar o mercado mais livre, mais regulamentado. (Colocaram uma lei pra poder colocar políticos e parentes nas agências reguladoras.) Ele falou que seria melhor ter mais transparência. E contou sobre o aumento de quase 5% sobre a inadimplência, isso foi aprovado e será repercutido nas contas futuras”, lamenta.
Ainda segundo Piva, “Devido à crise econômica não temos recursos para fazer a demanda com equipamentos de menor consumo. Algumas ações são contornadas, mas percebe-se que não são de tanta valia.

A indústria moveleira
O presidente do Sindmóveis, Edson Pelicioli também critica o aumento da conta da luz. De acordo com ele, com margens já espremidas, o aumento das tarifas de energia elétrica é mais um agravante nos custos da indústria moveleira.
“Embora o impacto seja diferente daquele sentido pelo cliente doméstico em função das modalidades específicas de contratação pela indústria, o aumento foi fortemente percebido no polo moveleiro. Um levantamento do Sindmóveis entre indústrias associadas verificou um aumento entre 19% e 30% nas tarifas de energia, de acordo com o porte da empresa e a bandeira utilizada”, diz.
Pelicioli, assim como Piva, também está pessimista quanto ao aumento nos custos de energia elétrica. “Quando considerado o reajuste das matérias-primas, a desoneração da folha e o tremendo impacto que tivemos com a questão do frete, o efeito é cascata. Não sabemos por quanto tempo mais será possível segurar os preços ao mercado. A recuperação do setor tem sido bastante lenta e, em Bento Gonçalves, quase inexistente. As incertezas vão do ambiente político ao econômico. O crescimento de 4% no faturamento nominal que o polo teve nesse semestre em comparação ao mesmo período do ano passado é muito aquém do necessário para compensar a perda acumulada”, lamenta.
Ainda segundo o presidente, “especificamente em relação a custos com energia, esse é um aspecto que onera bastante as despesas operacionais e o Sindmóveis acredita que as fontes tradicionais estão próximas de sua capacidade máxima. A grande verdade é que a indústria precisa buscar outras fontes. Existem empresas estudando novas alternativas de fornecimento, com a migração para energia livre. O Sindmóveis está articulando com especialistas algumas oportunidades, como, por exemplo, o financiamento para energia fotovoltaica”.