Governo Bolsonaro libera mais 63 agrotóxicos; 15 extremamente tóxicos

2015-04-10_190211

A lista inclui 10 altamente tóxicos e 22 com toxicidade mediana; sete são inéditos no país que já liberou 353 venenos em menos de nove meses

Nesta terça-feira (17/09), foram autorizados mais 63 agrotóxicos, totalizando 353 apenas em 2019.
Dos produtos liberados hoje, 38% estão nos mais altos níveis de toxicidade à saúde humana (extremamente ou altamente tóxicos). Um deles, o Dinotefurano, é um ingrediente ativo novo no Brasil, que não é aprovado na União Europeia. O conjunto das aprovações continua indo na contramão dos argumentos usados pela Ministra da Agricultura Tereza Cristina e pela bancada ruralista, de que um maior ritmo de aprovações resultaria no registro de moléculas menos tóxicas e mais modernas.
Entre as novas liberações também está o Dibrometo de diquate, banido na Europa em 2018 por oferecer riscos aos trabalhadores rurais e aos pássaros. Enquanto na Europa muitos desses venenos são proibidos para proteger a população, no Brasil eles seguem recebendo sinal verde do governo. A nova liberação acontece um dia após representantes da sociedade civil se reunirem em Comissão Geral na Câmara dos Deputados para discutir a utilização de agrotóxicos. Especialistas criticaram a possível aprovação do Pacote do Veneno e sua aplicação em “doses homeopáticas” pelo governo.
“De que adianta promover um debate, em que foi defendida a importância de uma transição de nossa agricultura para um modelo que não nos envenene se, menos de 24 horas depois, o governo libera autoritariamente mais substâncias tóxicas ao meio ambiente e à nossa saúde?”, questiona Marina Lacôrte, coordenadora da campanha de Agricultura e Alimentação do Greenpeace. “Não há nada de moderno e melhor nas novas aprovações, mais uma vez boa parte são moléculas velhas e tóxicas. Esse é o governo do veneno, dando as costas para a sociedade”, diz.
A chef Bela Gil também participou da audiência, questionando os R$ 2 bilhões de isenções fiscais concedidas ao agronegócio no momento em que se fala em contenção de gastos públicos. E completou: “O que a gente está pedindo aqui não é por um milagre da noite pro dia! Não estamos dizendo que a agricultura convencional tem que acabar agora, parar tudo e começar do zero. Só estamos pedindo por uma política séria capaz de organizar essa transição e estimular sistemas sustentáveis de verdade. Eles já existem”.
Larissa Bombardi, Professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo e autora de um atlas sobre o uso de agrotóxicos no Brasil, chamou a atenção para a contaminação que acontece no campo, mesmo daqueles que não manipulam veneno diretamente, como crianças e adolescentes. “Tivemos no Brasil, entre 2007 e 2014, 343 bebês intoxicados com agrotóxicos de uso agrícola. De zero a 12 meses, que não se locomovem sozinhos. Isso para mim é um atentado à infância e à saúde pública”, ela alerta.
Segurando seu bebê no colo, Sofia Carvalho, da Associação de Produtoras e Produtores Agroflorestais, fez um discurso emocionante, destacando a resiliência dos sistemas agroflorestais: “Não é tão simples estar aqui neste momento. Não pela maternidade, mas porque a gente passou a noite combatendo fogo de frente pra nossa roça. O fogo parou justamente na fronteira com a entrada para a nossa roça, que se dá em sistemas agroflorestais”, ela disse. “A gente ouviu aqui que há um desafio tremendo em ter produtividade com agricultura dado o fato de que o Brasil é um país tropical. Mas nós da Associação de Produtores e Produtoras Agroflorestais encontramos nisso muito mais uma oportunidade do que um problema”.