Fumar cigarro é hábito mais comum entre os mais pobres e menor escolaridade, segundo IBGE

2015-04-10_190211

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística concluiu que 84% da população tabagista recebia entre 1 e 3 salários mínimos per capita; 8,4% de 3 a 5 salários; e 7,5% acima de 5 salários mínimos.

Dados recém-divulgados pelo Ministério da Saúde também mostraram que, em 2018, 9,3% dos adultos brasileiros das 27 capitais declararam fumar – uma diminuição significativa em relação a 2006, quando o percentual era de 16,2%.
Mas a publicação anual da qual estes dados fazem parte, o Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, mostrou também algo que é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo: o hábito de fumar persiste entre aqueles com menor escolaridade e renda.
O percentual dos que se declaram fumantes no Brasil cai à medida que os anos de estudo aumentam: tabagistas são 13% entre aqueles que estudaram durante 0 a 8 anos; 8,8% na faixa de 9 a 11 anos de estudo; e 6,2% para aqueles com 12 ou mais anos de estudo.
A tendência também é observada entre aqueles que fumam 20 ou mais cigarros por dia: 3,3% na faixa de 0 a 8 anos de estudo; 2,4% de 9 a 11 anos; e 1,7% de 12 ou mais anos.
A publicação não traz dados para renda mas, segundo especialistas, o fumo também acompanha os mais pobres – afinal, sobretudo em países desiguais como o Brasil, os mais escolarizados tendem a ser mais ricos. Um boletim do Banco Central publicado no início do ano demonstrou, por exemplo, que em relação a um trabalhador sem instrução, o ensino fundamental adiciona 38% ao rendimento por hora; o nível médio, 66%; e o superior, 243%.
A associação entre pobreza e fumo é uma das relações mais consolidadas no conhecimento sobre tabagismo, resume Tânia Cavalcante, médica do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq).
Estas pessoas têm menor acesso à informação, como sobre os malefícios do tabagismo, e às escolas, que hoje de uma forma ou de outra abordam o tema. Também têm menos acesso a tratamentos para deixar de fumar.
Do luxo ao dano
O acesso à informação foi na história um divisor de águas no perfil de quem fuma.No pós-guerra, o cigarro era vendido como um produto glamuroso. Tinha um apelo da emancipação, que atingia os formadores de opinião, como as sufragistas. A partir da década de 1960, 70, aumenta o conhecimento sobre os malefícios do produto, e o perfil começa a mudar .
A questão do acesso à informação é a principal explicação para o fato de hoje os mais pobres fumarem mais, globalmente .
Isto implica em um maior impacto da participação do tabagismo no orçamento dos mais pobres, que é menor – tomando o lugar de custos com alimentação, educação e saúde.
Foi o que demonstrou uma pesquisa publicada em 2016, com o título Tabagismo e pobreza no Brasil: uma análise do perfil da população tabagista.
A partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os autores concluíram que 84% da população tabagista recebia entre 1 e 3 salários mínimos per capita; 8,4% de 3 a 5 salários; e 7,5% acima de 5 salários mínimos.
A renda média dos tabagistas, segundo cálculos com os dados de 2008 e 2009, foi de R$ 867, enquanto para não tabagistas foi de R$ 957.
Na pesquisa, eles compuseram cerca de 10% da população, com predominância de homens. O consumo com estes produtos comprometeu 1,5% da renda, em média.

Tabaco e pobreza: círculo vicioso
Argumentando que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para doenças em todo o mundo – o principal no caso daquelas crônicas e não transmissíveis, como diabetes e hipertensão -, a OMS diz em um dos seus comunicados que fumar mata as pessoas no auge de sua produtividade, privando casas de chefes de família e nações de trabalhadores saudáveis.
Tabagistas também são menos produtivos enquanto estão vivos por conta de uma saúde mais fragilizada.
No mundo, isto tem implicações marcantes para países de baixa e média renda – origem de 80% dos 1,1 bilhão de fumantes no mundo.
Países do primeiro mundo não escapam a esta discussão, como está acontecendo na Inglaterra, onde o governo está escrevendo um novo projeto para alterar a legislação visando tornar o país livre do tabaco até 2030.
Na Europa 1 em cada 3 moradores de conjuntos habitacionais fuma; entre trabalhadores manuais, o número é de 1 a cada 4. Para ocupações a nível gerencial, a participação é de 1 para 10.

Indígenas
Outro grupo sabidamente mais propenso a fumar em vários países são indígenas – algo observado em lugares como Estados Unidos, Canadá e Brasil.
Estas variáveis não foram consideradas no Vigitel, mas no estudo Tabagismo e pobreza no Brasil: uma análise do perfil da população tabagista a partir da POF 2008-2009 sim.
Entre os brancos, o percentual de fumantes foi de 9,4%; pardos, 9,9%; pretos, 12,3%; e indígenas, 12,4%.
Em relação à divisão regional, pesquisas indicam maior percentual de tabagistas nas regiões Sul e Sudeste, que ao mesmo tempo apresentam os melhores indicadores socioeconômicos no país.
Por que pessoas com menos escolaridade e renda tendem mais ao tabagismo, e as regiões com estas características não?
No Sul, temos a leitura do impacto da produção de tabaco nestes locais, como no Rio Grande do Sul, onde empresas desta indústria têm grande poder político e econômico.
Estados com fronteiras, como perto do Paraguai, também podem ter mais fumantes, por estarem em rotas de contrabando e terem acesso a produtos mais baratos.
Alguns casos na Europa mostram uma relação entre tabagismo e cidades mais frias. O estilo de vida pode ter um impacto também.