Há retardo mental epidêmico nas redes sociais

2015-04-10_190211

Os filósofos Luiz Felipe Pondé e Lúcia Helena Galvão nos fazem refletir quantas Karol Conká temos dentro de nós

Pondé criticou duramente o reality BBB e disse recentemente que Karol Conká representa a lado miserável das redes sociais. “No confinamento a cantora está completamente tóxica, abusiva, preconceituosa, manipuladora e vilã.”

Pondé, citando a clássica frase do Umberto Eco “Redes sociais deram voz a legião de imbecis”, criticou abertamente o Big Brother Brasil, em especial, a iminente eliminada com índice histórico de rejeição, com grande declínio em sua carreira artística, Karol Conká.

São rótulos graves e pesados, para quem era apontada como referência em militância na luta contra desigualdades sociais. A máscara caiu. “Mas não deixemos nos iludir que este é um comportamento de exceção”, alerta Pondé.

Já a professora e filósofa Lúcia Helena Galvão avalia por outro viés: “se olharmos para cada um de nós, saberemos se praticamos a ética por convicção ou por coerção”.

“É um princípio platônico”, ensina Lucia Helena “pois, se nós fazemos alguma coisa por coerção é como um adestramento que se faz num animal, já que na primeira circunstância, ele vai agir da maneira como ele realmente é, isto é, ele se torna uma máscara de pouca cobertura”.

É um pouco do que Platão chamava do mito

Giges. Giges era um pastor muito ético que achou um anel que o deixava invisível, e toda vez que usava este anel, a sua ética ia embor.

E a pergunta incômoda que a filósofa Lúcia Helena nos instiga é: “o que faríamos nós com o anel de Giges?

“Nós praticamos a ética, a amamos, a curtimos porque somos humanos, ou porque existe algum tipo de coerção, algum tipo de pressão social, de penalização? Pois não há como ter um sistema de vigia o tempo todo e na primeira oportunidade seremos o animal mal domado, mal adestrado.

“Este anel representa os nossos próprios pensamentos. Dentro de nós, é o mundo do próprio anel de Giges, onde ninguém vê.

E aí que nós sabemos o quanto somos éticos nos nossos pensamentos e sentimentos, que na primeira oportunidade vão se transformar em atos”, ensina a professora.

Lúcia Helena, bem humorada, compara a ética ao chocolate e ao jiló – que é um alimento de alta rejeição humana . “O chocolate – ensina – você come porque gosta, ninguém precisa forçar, já o jiló, você só come sob ameaça ou oferta de recompensa”.

Imagine que nós temos a ética do jiló e do chocolate.

Nós fazemos as coisas (como não jogarmos o lixo no chão, ou andarmos de carro na velocidade permitida), porque gostamos, ou porque existe uma punição externa ou um tipo de gratificação que vai nos compensar?

Dentro de si, a má condição humana implica em amar a ética, amar ser justo, amar ser fraterno. Mas você é o que é, quando a última porta se fecha atrás de você.

Platão não podia ser mais atual quando disse há 2.400 anos que, “no nosso momento, a ética é pacto social”.

Ninguém gosta dela, diz a professora, exemplificando: “nós todos roubamos (por exemplo), mas vai que você é mais esperto que eu, e na divisão entre eu te roubar e você me roubar, você tire vantagem. Então, é melhor não arriscar. É preferível fazer um pacto que ninguém vai roubar ninguém, pois não haverá risco. Mas, se houver uma oportunidade que eu possa roubar você e ficar impune, entra o anel de Giges.

“Outro exemplo que a professora aponta é a situação de exceção, que acontece em grandes tumultos públicos, em qualquer lugar no mundo, quando pessoas de classe média saem quebrando vitrines e saqueando, pela simples oportunidade de impunidade.

No momento da impunidade caem as máscaras da sociabilidade, da educação, de pessoas consideradas cultas, de boa formação, defensoras de causas nobres, como é o caso da cantora Karol Conká.

Neste confinamento a rapper acredita, inconscientemente, que está com seu anel de Giges, que nada a atingirá, que sua popularidade, carreira e contratos milionários continuarão intactos e deixa cair a máscara, que tão bem alimentou frente aos holofotes por vários anos

.Quantas vezes somos Karol Conká durante o dia, dentro da nossa cabeça?

Somos realmente éticos por convicção, ou “estamos” éticos por coerção?

Esta exposição exagerada do confinamento colocou uma lente também no problema do racismo reverso e na mitomania, que é uma doença que consiste em uma tendência mórbida para a mentira, que não tem necessariamente uma intenção por trás, mas tende a favorecer quem as conta.

O que a Karol Conka têm para nos ensinar que não conseguimos verbalizar pois estamos usando o anel de Giges?

Fica a reflexão!