Estilistas bento-gonçalvenses independentes abrem caminho na indústria da moda

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Deisi é moderna, contestadora e aposta no urbano para desenvolver suas peças

O estilo casual, moderno e sustentável ganha destaque no cenário atual, e a criação de novas marcas oxigena o mercado, fomentando a ascensão de novos profissionais

A indústria da moda independente ganha espaço entre estilistas brasileiros. Com foco no empreendedorismo criativo, a equipe da Gazeta conversou com três estilistas bento-gonçalvenses que apostam em peças diferenciadas e conquistam espaço no cenário underground da moda. Deisi Witz, Evelin Bordin e Luana Milani trabalham com estilos diferentes de peças, mas possuem em comum, a inquietude de jovens empreendedoras.

Deisi Witz ( juntamente com seu sócio Igor bastos) já participou de semanas de moda em Berlim, Vancouver, Milão, Nova Iorque e Paris

O estilo urbano da Också
Deisi Witz deixou Bento Gonçalves em 2008 para morar em Roma, na Itália, decisão, que segundo ela, foi importante para o processo criativo. “eu sempre curti moda, mas mais do que isso, desafios e lugares desconhecidos sempre me motivaram, além disso, o apoio dos meus pais foi muito importante e incentivador”, afirma.
Após um ano na Itália, a jovem estilista voltou à Porto Alegre e criou a marca Också, uma das cinco marcas selecionadas para o Rio Moda Hype Outono/Inverno 2014, que aconteceu no fim de 2013. A ascensão da marca foi vertiginosa. Com um estilo urbano, a marca ganhou grandes centros, e também São Paulo. Após realizar alguns trabalhos na capital paulista, a estilista decidiu trocar Porto Alegre, cidade que adotou, após deixar Bento, para em fevereiro deste ano, morar na capital paulista.
“Muitas pessoas que conheço sempre me falavam que tinha que vir morar em São Paulo, muito porque as peças que desenvolvo são muito urbanas e meu mercado está aqui, mas sempre acreditei que deveria acontecer naturalmente, eu queria ter vontade de mudar de cidade, e no final do ano passado começou a rolar essa vontade”, comemora.
Deisi é moderna, contestadora e aposta no urbano para desenvolver suas peças. “Valorizo construção de identidade, um percurso que vai se desenrolando, buscando sempre evoluir, valorizo muito a passagem do tempo em tudo, paredes, construções, pessoas – isso tudo carrega muita história, tento levar isso para as roupas que crio”, explica.
O músico paulista Criolo, um dos ícones da música brasileira, vestiu recentemente as peças de Deisi. “Recentemente vestimos o Criolo em seu novo álbum “Espiral de Ilusão”, e estar aqui me permitiu desenvolver o figurino junto com o pessoal da produtora, stylist, o próprio Criolo e todos os músicos. Esse é só um exemplo, estamos com vários projetos sendo desenvolvidos”, afirma.
Deisi projeta começar a desenvolver seu trabalho como figurinista. Enquanto Deisi projeta suas novas aventuras, a Också ganha o Brasil, invadindo capitais. “Neste ano pretendemos exportar cada vez mais e chegar em outras lojas no Brasil. Já estamos vendendo em Porto Alegre, Canela, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e a próxima cidade vai ser Brasília”, projeta.

Evelin Zanelatto Bordin já teve suas produções divulgadas nas revistas de moda nacional e em programas de tv

A moda casual de Evelin
Eveli Bordin trabalha no desenvolvimento de Produto de duas marcas em Porto Alegre. Uma um e-commerce de noivas ( o amor é simples) que trabalha apenas com vestidos simples, e outra uma confecção de moda jeans e casual para público masculino , feminino e plus size. A estilista deixou Bento Gonçalves em 2006, ano que terminou a graduação, segundo ela, motivada pelas opções limitadas de trabalho na cidade. Com influência da avó costureira, Evelin, que há 11 anos mora na capital, acredita que o mercado na serra é ainda limitado.
“O consumidor e o mercado de moda da serra é mais conservador. A questão cultural ainda é muito forte, o que acaba restringindo um pouco a entrada de novos produtos e novos modelos de negócios. A Serra no geral tem destaque pela qualidade e tradição de malharias e em produção de casacos enquanto a capital acaba sendo o berço de novos formatos de negócios”, observa.
A estilista que trabalha em duas marcas com ideias distintas, destaca as características de cada uma delas. Segundo ela, na marca “O Amor é Simples”, o mercado de noivas é trabalhado de uma forma inovadora, com venda somente online. “A ideia é oferecer vestidos que se adaptem a vários tipos de cerimônias, mas que não tenham valores exorbitantes. Para isso a modelagem é estudada para que possa se adaptar a vários tipos de corpos, observando uma tabela de medidas e que possibilite a noiva fazer pequenos ajustes após o recebimento”, explica. De acordo com a estilista, um dos diferenciais é que a noiva realiza a compra online, além de ter um serviço de customização, permitindo adaptações ao modelo.
“As coleções são estudadas para que atendam variados estilos dentro de uma estética leve e moderna. Em geral são desenvolvidas duas a três coleções por ano com 10 ou 12 novos modelos”, afirma.
Evelin não esconde o amor pela moda, e aposta no trabalho em diferentes estilos de peças e marcas. Na “Di Treve”, ela ressalta que a aposta é num estilo casual, com foco no dia-a-dia, dosados, conforme ela mesmo diz, para o uso habitual. “Vendemos peças para lojistas do Rio Grande do Sul, e para o consumidor final na loja própria da marca aqui em Porto Alegre”, afirma.

A estilista Luana Milani, com sua L.M. trabalha na indústria da moda desde 2011 e trabalha somente para lojistas

O estilo atemporal de Luana
Luana trabalha na indústria da moda desde 2011, se enquadrando entre as estilistas resistentes ao “modismo”. Com um estilo próprio, tem por objetivo trabalhar de modo sustentável sem ser caricato com moda e tendências, criando coleções atemporais, com pesquisa de moda autoral. “Acredito que, hoje cada vez mais, o planeta e a tendência do consumo consciente exige dos empreendedores e formadores de opinião aplicarem esse conceito em suas marcas e negócios. É um respingo de uma nascente que há anos é estudada”, diz.
A estilista acredita que o mercado da moda na Serra Gaúcha ainda carece no quesito inovação. “Tem ainda muito preconceito com o modo de vestir, existindo uma certa insegurança ao sair nas ruas com roupas que sejam diferenciadas. O mercado da capital está mais aberto a esta perspectiva de consumo e de uso. Acredito que na Serra Gaúcha ainda tem fatores a serem trabalhados”, observa.
Com a preocupação de aliar o trabalho da moda com a sustentabilidade, Luana, destaca a importância do consumidor buscar informações sobre a origem dos produtos comprados. “Cabe salientar que esse modo sustentável não tem a ver somente em consumo de baixo impacto ambiental, pois o que muitos pensam quando ouvem esta palavra é isso, mas com o desenvolvimento sustentável do produto que abrange, além da parte ambiental, o desenvolvimento social e econômico regional”, ressalta.
Luana acredita que o trabalho de reciclagem de peças é um diferencial para contribuir com uma indústria sustentável. “o impacto ambiental pode diminuir com o hábito de reciclagem de peças. O consumidor tem que saber quais são os impactos na cadeia global. o consumo desenfreado está gerando sérios problemas para todos, é preciso ter um bom senso na hora de consumir, pensar além do desejo egoísta de ter determinado produto. A estética visual está mudando de forma, de conceito”, salienta.

A influência da arte de rua na moda
O grafite e a moda se casam perfeitamente, pois nos primórdios da arte de rua da Nova York dos anos 80 estava a fusão de arte, juventude, cultura pop e moda. Artistas como Keith Haring e Jean Michel Basquiat transitam facilmente entre a cultura “marginal” e a cultura “das galerias”. Esse movimento foi influenciado pela moda punk na década de 1970, onde as pessoas escreviam em suas roupas. Haring colaborou com Vivienne Westwood na década de 1980 em sua coleção “bruxas”, transformando seus desenhos gráficos em estampas para as roupas de Westwood.
No início, a estética visual do grafite foi dominada por um estilo baseado em tipo de letra. Este estilo foi desenvolvido ao longo das duas primeiras décadas numa forma de arte á mão livre que era reconhecível por sua falta de influência externa.
Pelos anos 2000, com o aumento da popularidade da arte do estêncil, a influência de uma estética visual influenciada pelo movimento pós-pop passou a dominar as cenas da arte de rua. A facilidade com que uma imagem icônica pode ser duplicada em um estêncil usando impressoras acelerou a difusão da arte de rua como um movimento de arte popular.
Atualmente, a arte de rua faz com que o espectador fique ciente da influência esmagadora da indústria da moda no trabalho de diversos artistas. A reprodução infinita de corpos e rostos de mulheres comuns como também estrelas de cinema e ícones da música que são infinitamente repetidas, estampadas e coladas em todos os lugares. Esse foi o primeiro tipo de instagram do mundo. Como arte de rua se tornou famosa, sua popularidade fez nascer uma indústria que capitaliza sobre seu status de cultura pop.
Os desenhos dos grafites decoram tanto as roupas e acessórios como servem de pano de fundo para inúmeras produções de catálogos das mais diversas grifes de moda. Hoje, o grafite está longe de suas origens humildes como uma forma de arte ilegal, e os grafiteiros frequentemente são patrocinados por empresas que buscam um apelo mais rebelde e colorido para atrair o público jovem e fashionista. O culminar desta interação entre a indústria da moda e os artistas de rua “famosos” acontece quando licenciam sua marca, a fim de ganhar dinheiro.

Androginia
Oxfords, calças boyfriend, camisas e gravatas. As últimas tendências deixam claro que muitos dos elementos masculinos têm migrado para as araras femininas. Agora esse movimento começa a ser observado também de forma contrária e as mulheres é que vão ter de tomar cuidado com seus namorados assaltando o guarda-roupa. Essa inversão de gêneros na moda é chamada de androgenia – conceito que se refere à mistura de características femininas e masculinas em um único ser – e tem se intensificado ultimamente. Prova disso é o novo modelo de calças masculinas lançadas pela Levi’s. O nome já diz tudo: jeans ex-girlfriend. O modelo se baseia na calça skinny feminina, que é bem justa, confortável e com stretch.
Na moda cotidiana, a androgenia tem sido notada em peças como o blazer feminino com corte masculino e estrutura nos ombros, calças largas – tanto jeans quanto do tipo alfaiataria – e, para os homens, peças mais justas e com cores suaves típicas do guarda-roupa das mulheres. Franco atenta que uma das fortes marcas da androgenia é a total liberdade e a falta de preconceito. Mas quando migramos para as passarelas e para a alta costura essa tendência pode se tornar forte ao ponto de suscitar algumas polêmicas.