Esportivo é condenado em caso de racismo com árbitro de futebol

2015-04-10_190211

Clube que figura na segunda divisão do Gauchão terá que pagar pelo menos R$ 15 mil de multa

O Clube Esportivo (participante da segunda divisão do Campeonato Gaúcho) foi condenado a pagar pelo menos R$ 15 mil, no caso de racismo, que aconteceu no Gauchão de 2014. A vítima, na ocasião, foi o então árbitro de futebol (hoje comentarista esportivo) Márcio Chagas da Silva. Na época o então juiz da partida denunciou ter encontrado bananas sobre o seu carro e no escapamento, quando deixava o estádio Montanha dos Vinhedos. Da Silva, disse ter sido alvo de ofensas racistas durante toda a partida, jogada entre Esportivo e Veranópolis. Dirigentes do Esportivo, na época, tentaram ofuscar o fato, alegando que o clube não tinha culpa e que torcedores não teriam sido racistas com o árbitro.
A Juíza Débora Kleebank, na decisão do último dia 31/1, entendeu que o clube teve parte de responsabilidade pelos fatos, provados de forma “robusta”. Num trecho da sentença, a juíza observou que problemas de segurança acontecem em todos os estádios do país e, no caso de Bento Gonçalves, pelo menos a área onde o carro estava estacionado deveria ter sido resguardado pelo clube. Ela criticou ainda o fato do clube ter apontado para a polícia dois “torcedores-laranjas” como autores dos xingamentos, detidos e logo liberados após negar o ocorrido: “Certamente não se pode imaginar que o demandado preencheu algum requisito de exclusão de responsabilidade no caso”, declarou.

Desumanidade
Sobre os atos de racismo, a magistrada lembrou do ativista norte-americano Martin Luther King, expoente da luta por igualdade racial e pelos direitos civis do negros. “Mais de meio século depois, evoluímos tanto e tão pouco. Falta educação, falta cultura, falta espírito esportivo, falta humanidade”, refletiu a Juíza.
Citou ainda julgamento do Supremo Tribunal Federal, que definiu que “não há raças distintas, definidas e diferenciadas no mundo. Existe apenas a raça humana”.
A magistrada referiu que alijar qualquer minoria, sob o pretexto de ser inferior à maioria discriminatória, constitui a prática do racismo. “E tal o verificado no caso dos autos. Um grupo de pessoas, por alguma razão que refoge ao entendimento comum, sentiu-se em condição de superioridade ao árbitro que apitou a partida à qual assistiam e passou a agredi-lo gratuitamente, como se a atitude pudesse de alguma forma ser tolerada.”

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Na esfera esportiva, após recursos, o Esportivo foi punido com a perda de três pontos pelo Campeonato Gaúcho e multado em R$ 60 mil. Desde então o clube figura na segunda divisão do Campeonato Gaúcho, sem conseguir voltar à elite do campeonato.