Delegacia da mulher registra mais de 1300 boletins de ocorrências e executa 12 prisões em 2017

2015-04-10_190211

Dentre os registros, se destacam casos de violência doméstica, familiar, além de denúncias de pedofilia

A violência contra a mulher é combatida de forma incisiva por policiais da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). De acordo com a delegada (que há três anos atua no órgão) Deise Brancher, em 2017 foram registrados um total de 1366 boletins de ocorrências na Deam, com 10 registros a menos, quando comparado a 2016, que teve 1379 ocorrências.
O número de procedimento instaurado em 2017, superou os números de 2016. No último ano foram 961 procedimentos, já em 2016, 940. Em 2017, 12 agressores foram presos. Foi cumprido ainda 49 mandados de busca e apreensão.
“Os delitos mais registrados permanecem sendo lesão corporal, ameaça e perturbação da tranquilidade. Ainda, temos as ocorrências relacionadas à violência sexual contra a mulher. Após o registro da ocorrência policial por violência doméstica e familiar, um número significativo de mulheres desiste de processar o acusado. Isso ocorre por vários fatores, dentre os quais destaco o medo do agressor, a preocupação com o sustento dos filhos, ou até mesmo porque ainda têm esperança que o agressor mude e que o relacionamento se harmonize.”, explica.
Para garantir a integridade da mulher, a Lei Maria da Penha prevê que a polícia deverá acompanhar a vítima até sua residência para apanhar seus pertences básicos. No ano de 2017, a DEAM realizou 73 acompanhamentos. Salientamos que, para garantir segurança à vítima, esse procedimento deve ser rápido. Portanto, a vítima somente retira os objetos necessários para passar alguns dias afastada da residência até que as medidas protetivas sejam deferidas e ela possa retornar para casa com segurança, sem a presença do agressor. Os demais bens adquiridos pelo casal devem ser divididos posteriormente, através de acordo ou de ação judicial.
“No município temos uma rede de enfrentamento à violência doméstica e familiar bastante sólida. Temos o Revivi que oferece apoio psicológico a mulher, mas que poucas aderem. Infelizmente o número de mulheres que aceitam é muito baixa. Nós encaminhamos a vítima ao Revivi, que é um serviço gratuito, através de um ofício entregue à própria mulher no momento do registro da ocorrência. É um serviço que está a disposição, só que as mulheres não estão aderindo”, lamenta. Ainda, nossa cidade conta com o apoio da Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar, da Defensoria Pública, entre outros órgãos.
Combate à pedofilia
Os policiais da Deam, após aproximadamente de dois meses de investigação, localizaram um suspeito (com idade entre 18 e 19 anos) de praticar pedofilia em Bento Gonçalves. Segundo Deise, o rapaz enviava mensagens e se identificava como mulher para solicitar imagens das nádegas e dos pés de crianças.
“Ele criou um perfil falso no Facebook e convidava as pessoas para curtir a página. O suspeito dizia que era de uma agência de modelos ou representante de uma fábrica de calçados e solicitava para os pais que enviassem fotos dos pés e nádegas. Estes pais estranharam a atitude e vieram até a delegacia e realizaram o registro de ocorrência. As diligencias estão sendo realizadas para termos a devida identificação do indivíduo e as provas da prática do crime, mas já sabemos quem é a pessoa”, afirma.

Dificuldades
No combate à violência doméstica e familiar, uma das grandes dificuldades, segundo Deise, é a baixa colaboração das testemunhas. “Infelizmente, muitas pessoas ainda afirmam que “em briga da marido e mulher não se mete a colher”. No entanto, temos que entender que, em briga, em violência, em abuso de direitos e violação da dignidade devemos meter a colher sim”, enfatiza.
Segundo a delegada, especificamente no combate à violência sexual contra a mulher, a produção de provas sempre é difícil porque se trata de um delito cercado de segredo e medo, em especial quando ocorre no ambiente intra-familiar.
Uma dica importante para a comunidade que deseja colaborar com a polícia é revisar seus equipamentos de vigilância periodicamente, pois muitas vezes a câmeras de monitoramento, que poderiam nos auxiliar, não estão funcionando, gravam poucas horas, ou até estão direcionadas para locais inadequados”, comenta.
Ainda de acordo com a delegada, mesmo com todas as dificuldades, sejam as dificuldades próprias da investigação de cada delito, sem as dificuldades institucionais, dentre as quais destaca o efetivo insuficiente, o trabalho é realizado oferecendo o melhor, com os recursos disponíveis.
A psicóloga Cláudia Guarnieri, Especialista em Avaliação Psicológica pela UFRGS, indica maneiras para os pais se inteirarem sobre o assunto e evitarem que os filhos sejam vítimas de pedófilos.

Como proteger os filhos de abusadores:
– Os pais devem buscar informações sobre o assunto através de leitura e contato com profissionais.
– Estar atento às atividades do filho: quem são os seus amigos, seus colegas? O que fazem no turno inverso à escola e/ou tempo livre? Estão sob supervisão de qual adulto? Quanto você conhece este adulto? Quando o filho retorna para casa, como ele relata o seu dia?
– Procurar estar próximo quando em companhia de outras crianças ou adolescentes. Existem muitos casos em que o abusador são crianças um pouco mais velhas do que a(o) abusada (o).
– Conversar abertamente sobre o assunto, usando uma linguagem acessível a eles, sobre os cuidados com o corpo, órgãos genitais, sexualidade, relacionamentos, diferença entre cuidado/carinho e abuso. Estes assuntos estão na mídia, nas escolas, na conversa do grupo da mesma idade. Em casa, também pode e deve haver possiblidade de tratá-los com naturalidade. Conversar com os filhos sobre estes temas, aproxima os filhos dos pais e viabiliza enxergar os pais como confidentes, estabelecendo uma relação de confiança e não como punidores.
– A criança deve ser orientada a sempre contar o que lhe acontece, desde muito pequena, ressaltando que ela não será punida por contar. Desta maneira, estabelece-se relação de confiança entre pais e filhos. O abusador sempre solicitará à vítima que guarde segredo sobre o ocorrido. Lembre-se: o diálogo é um caminho de construções e de relações saudáveis.
– Supervisionar acessos à internet, televisão, tablets, aplicativos como whatsapp, facebook, tinder, entre outros. Estas são ferramentas que podem ser muito boas e, em alguns casos, educativas, mas também podem aproximar seus filhos de conteúdos indevidos, acesso à pedófilos e abusadores. Existem muitos perfis “fakes” de adultos se passando por crianças e adolescentes.
– Avaliar mudanças de comportamento: este possivelmente é um dos primeiros sinais que os pais podem perceber. A criança/adolescente muda bruscamente o seu comportamento. Por exemplo, de um dia para o outro não quer mais ir à escola, sente medo de ir sozinha(o) aos lugares que frequentava, sente medo do escuro, medo de ficar próximo à pessoas que ficava anteriormente, mudança brusca de humor, interesse repentino em estar sempre com um adulto específico.
– Sempre oferecer apoio e tempo de qualidade ao filho. Valorize o que a criança/adolescente verbaliza. Se você estiver atento à fala, perceberá que sempre há alguma verdade revelada.
– Caso tenha acontecido algo com seu filho, acolha. Ela (e), precisa de colo neste momento. Procure imediatamente orientação médica e psicológica.