Como o corpo reage ao vício digital?

2015-04-10_190211


Aborrecer-se por ficar sem uma funcionalidade é normal. Porém pânico, fúria, tristeza podem ser sintoma de algo mais grave: o vício digital.


Se você fica acordado até tarde da noite, vira de um lado para o outro na cama com os olhos vidrados no smartphone só para dar mais uma olhadinha nas redes sociais, no bar, em uma mesa cheia de amigos e chope gelado, a despeito da conversa animada ao redor. Chegou a hora de assumir: você precisa de um detox digital. Uma pesquisa realizada no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro indica que 34% das pessoas admitem ter ansiedade longe dos celulares e 54% têm medo de se sentir mal por não estar com o aparelho. Isso tem nome: nomofobia.
Não é o tempo que qualifica o dependente. O limite entre o normal e o exagero são as consequências. O real problema começa quando você usa a internet como um escape da realidade. Com um pouco de descuido, começa a ter uma preocupação excessiva em ficar conectado. No seu cérebro, a sensação de prazer que a liberação de dopamina promove a cada novo como pedido no Facebook vai transformando o hábito em vício. Essa recompensa estimula a ficar cada vez mais tempo online, em busca de satisfação para si próprio. A partir daí, um dos sintomas mais comuns é a ansiedade. Você tenta cortar a internet e não consegue. Depois, sentidos os sentimentos de inquietação, mau-humor e irritabilidade e consequentemente um passo para a depressão.
Embora seja uma situação extrema, o vício em internet não é tão raro assim. Segundo a psicóloga Hilarie Cash, fundadora do Restart, um programa para esse tipo de dependência no Estado de Washington, nos Estados Unidos, 8% dos usuários de internet em geral são viciados ou utilizam a tecnologia para manter outro vício, especialmente jogos. Esse número chega a 19% em idades entre 18 e 25 anos, fase em que os jovens controlam suas decisões. Em casos extremos, familiares podem monitorar o computador dos filhos e acompanhar uma atividade online.
O detox digital e o cérebro: entenda como começa e funciona o vício
Uso: Quando depara com um novo estímulo, o organismo começa a aprender a lidar com ele. Por exemplo, a pessoa entra pela primeira vez em um chat e descobre suas dinâmicas e suas funcionalidades.
Recompensa:
Se o uso da ferramenta passa a dar prazer, é porque o cérebro aumenta a liberação de um neurotransmissor chamado dopamina. A função dessa substância é dar um feedback positivo, uma recompensa ao organismo.
Círculo:
Por causa dessa recompensa, o cérebro começa a criar um circuito: quanto mais uso, mais dopamina libera. Por isso, a pessoa aumenta uma atividade online, em busca da manutenção do prazer.
E como o organismo reage à desintoxicação?
Detox: Se a pessoa conseguir ter iniciativa própria ou com ajuda especializada, perceber que está exagerando no tempo online e decide suspender o uso. Começa, então, uma desintoxicação.
Abstinência:
Quando o corpo para de receber o estímulo, o cérebro aumenta a liberação de uma substância em especial: a noradrenalina, causando sintomas de ansiedade, como pressão alta, taquicardia e inquietação.
Recuperação:
Se a pessoa superar a abstinência e retoma a vida sem excessos, está recuperada, embora tenha de se manter afastada ou use as ferramentas com equilíbrio.
Você acha que é viciado em internet?
É preciso se encaixar em pelo menos cinco dos critérios selecionados.
Você fica preocupado com a internet, pensando sobre a sua atividade online anterior e antecipando a próxima sessão?
Você sente necessidade de usar a internet gradativamente, aumentar o tempo online?
Você foi repetidamente malsucedido nas funções de controlar, reduzir ou cortar o uso?
Você se sente inquieto, rabugento, depressivo ou irritado quando tenta reduzir ou parar de usar na internet?
Você já prejudicou ou se arriscou a perder um relacionamento importante ou uma oportunidade de emprego, educação ou carreira por causa da internet?
Você já mentiu para familiares, terapeuta ou outros para esconder quanto tempo você passa na internet?
Você usa a internet como uma forma de escapar de problemas?
Se você se identificou com alguma das situações acima, então você deve procurar ajuda para não se tornar um problema mais grave.
Crianças em reabilitação
Quanto mais tarde os pequenos aprenderem sobre os riscos acima da internet, pior será.
Impossível criar uma criança alheia à tecnologia em pleno século 21. Nem faz sentido cria-lá em uma redoma offline fingindo que a internet não existe. Mas os limites já são importantes para os adultos, com as crianças se tornam extremamente fundamentais. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é para que crianças até dois anos não tenham nenhum contato com tablets e celulares. Seguindo sugestões da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre os dois anos e a adolescência, as crianças devem utilizar somente os tablets e por, no máximo, duas horas diárias. Mais do que isso pode causar dor de cabeça e no corpo, irritabilidade, agressividade e até queda do rendimento escolar.
Nos pequenos , o primeiro sinal de que as coisas não vão bem e os limites estão ameaçados é aquela resmungada na hora de tirar o tablet das mãos deles. O diagnóstico nas crianças é feito quando preferir o tablet brincar com os amigos, usar brinquedos analógicos ou interagir com a família. O diferencial da desintoxicação digital nas crianças é que ele deve se estender à família.
Separamos algumas dicas para lidar com este problema:
Determine uma hora limite para manter o celular ligado à noite. Por exemplo: desligue o telefone sempre entre as 23h e a hora de acordar.
Ignore o smartphone quando estiver com outras pessoas. Essa é uma verdadeira declaração de amor, deixar o aparelho longe do alcance dos olhos, para prestar mais atenção na conversa do que na tela.
Na hora das refeições, evite comer em frente ao computador ou levar o smartphone para a mesa. Use esse tempo para conversar ou refletir.
Estabeleça horários e um limite de tempo para navegar nas redes sociais e em sites de notícias. Por exemplo: 30 minutos durante a manhã, mais 30 minutos depois do almoço e mais 30 minutos à noite.
Manter o telefone no silencioso quando você estiver precisando de concentração na escola ou no trabalho.
Imagem: dog breed german shepherd