Brasil alcança marca história de homicídios e taxa é 30 vezes superior a da Europa

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Nos últimos dez anos, o crescimento na taxa de homicídio por arma de fogo foi de 15,4%

Bento Gonçalves registrou 25 assassinatos a cada 100 mil habitantes em 2016

 

Em 2016, o Brasil alcançou a marca histórica de 62.517 homicídios, segundo informações do Ministério da Saúde (MS), divulgadas pelo estudo Atlas da Violência 2018, na terça-feira (05). Produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a análise mapeia a violência no país, constatando dados alarmantes. Um deles (usado como o carro-chefe da pesquisa) é que, no país, a taxa de mortes a cada 100 mil habitantes (30,3) é 30 vezes maior do que a constatada no continente Europeu.
De acordo com o pesquisador do Ipea, Helder Rogério Sant’ana Ferreira, em entrevista exclusiva para a Gazeta, os indicadores do Atlas evidenciam a grave situação da violência que o Brasil vive. “A gente tem acompanhado os números da violência no Brasil desde 1979. Existem oscilações, mas, mesmo assim, as taxas são crescentes”, avalia. “Este já é o terceiro ano do estudo e os dados estimulam o planejamento da segurança pública, em todas as esferas: federal, estadual e municipal”, acrescente Ferreira.

Bento Gonçalves
Em termos de comparação, em 2016, Bento registrou índice inferior ao nacional, com 25 homicídios a cada 100 mil habitantes (levando em consideração a última estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, de 2017). Em 2017, ano em que foi registrado o número recorde de homicídios (34), a taxa ficou em 30,08, que permanece na média nacional. Até o fechamento desta edição, o município já contabiliza 23 assassinatos em 2018 (o último foi em maio), enquanto que em 2017 este número foi registrado apenas no final de setembro.

Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul, em análise, demonstra aumento da taxa de homicídio e está entre os onze estados que apresentaram crescimento gradativo da violência letal entre 2006 a 2016, sendo o único estado a não estar nas regiões Norte e Nordeste do país. A taxa do estado, que terminou 2016 com 28,6 homicídios por 100 mil habitantes (superior à municipal) cresceu 58% em relação a 2006, quando era de 18,1. O percentual ainda é menor que em estados como Rio Grande do Norte (256,9%), Maranhão (121%), Sergipe (121,1%), Tocantins (119%), Bahia (97,8%), Acre (93,2%), Ceará (86,3%), Pará (74,4%) e Piauí (58,5%). Por outro lado, estados com histórico de violência, como São Paulo e Rio de Janeiro, tiveram redução de homicídios (-46,7% e -23,4% respectivamente). Entre 2015 e 2016, houve aumento de 9,2% na taxa de assassinatos no estado.

Jovens
Um dado emblemático é a participação do homicídio como causa de mortalidade da juventude masculina (15 a 29 anos), que, em 2016, correspondeu a 50,3% do total de óbitos. Se apenas os homens entre 15 e 19 anos forem considerados, esse indicador atinge a incrível marca dos 56,5%. “É muita gente jovem, com o futuro pela frente, morrendo de forma violenta”, alerta o pesquisador do Ipea.
Este, segundo o estudo, é um fenômeno denunciado ao longo das últimas décadas, “mas que permanece sem a devida resposta em termos de políticas públicas que efetivamente venham a enfrentar o problema”. No Brasil, 33.590 jovens foram assassinados em 2016, sendo 94,6% do sexo masculino, número que representa um aumento de 7,4% em relação a 2015.

Desarmamento
Enquanto no começo da década de 1980 a proporção de homicídios com o uso da arma de fogo girava em torno de 40%, esse índice cresceu ininterruptamente até 2003, quando atingiu o patamar de 71,1%, ficando estável até 2016. “Naturalmente, outros fatores têm que ser atacados para garantir um país com menos violência, porém, o controle da arma de fogo é central. Não é coincidência que os estados onde se observou maior crescimento da violência letal na última década são aqueles em que houve, concomitantemente, maior crescimento da vitimização por arma de fogo”, alerta a publicação.

Brasil tem mais assassinatos que zonas de guerra
No ano passado, o Atlas analisou a violência no período 2005 a 2015. Enquanto que em 2018 a chamada é a superioridade nos assassinatos em relação à Europa, no ano passado foi divulgado o fato do registro de homicídios no país, em todo 2015, ser superior ao número de pessoas mortas em todos os ataques terroristas do mundo nos cinco primeiros meses daquele ano. A pesquisa contava também com um tópico que mostrava a violência nas cidades com mais de cem mil habitantes no Brasil, dado este que foi eliminado neste ano.
Em 2015, Bento Gonçalves havia sido o 84ª município com menos assassinatos (de um total de 304 cidades), registrando uma taxa de 20,3 a cada 100 mil habitantes. A cidade mais populosa do país, São Paulo, teve uma colocação melhor que Bento, ficando em 67º lugar.

Perfil em Bento
Uma pesquisa feita pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica de Bento Gonçalves, que analisou dados de homicídios entre 1979 e 2015 no município, demonstra que os bairro com maior índice de crimes de homicídios no período eram o Municipal (51), Conceição (18), Eucaliptos (17), Tuiuty (17), São Roque (16) e Zatt (16). O percentual de homens assassinados era de 87,1%, enquanto que o de mulheres, 12,9%. Dos homicídios de Bento neste ano de 2018, dos 23 casos, apenas duas vítimas eram mulheres (8,69%).

 

Crescimento de homicídios em Bento

2013-17
2014-20
2015-25
2016-28
2017-34
2018 (até junho)-23