Bento registra aumento de mais de 7.000% em atendimento para dependentes químicos

2015-04-10_190211

O crack, a cocaína e a maconha estão no topo das drogas com casos de intoxicações em Bento Gonçalves, segundo a Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde, com base no Sistema de Informações sobre Intoxicações (SININTOX). O crack, que é derivado da cocaína, apresenta taxa de 56,1%, enquanto que a cocaína, 22,2%. Já a maconha aparece distante, em 4,9%. Também foram registrados atendimentos por uso de anfetaminas (rebite), ecstasy e o LSD.
Segundo informações do 1º Departamento de polícia, no primeiro semestre deste ano foram apreendidos 321 gramas de cocaína e dois quilos de maconha. Ainda segundo informações da DP, foram 30 pessoa presas por tráfico nos primeiros seis meses. Desde 2000, o número de atendimentos ambulatoriais decorrentes da intoxicação por drogas vem crescendo no município. Para se ter ideia do problema, no primeiro ano analisado foram cinco casos, enquanto que em 2016, 375. Ou seja, um aumento de 7.400%. Enquanto que na década de 2000-2009, o registro de casos foi de 692, somente em 2015 e 2016 o número foi superior, chegando a 749 casos. O ano com maior incidências foi em 2014, com 530.
De acordo com a Vigilância, a principal causa das intoxicações é o abuso intencional, correspondendo a 99,1% do total. Os outros 0,9% são decorrentes de tentativa de suicídio, rompimento de “sachês” de drogas dentro do aparelho digestivo na prática de body packer (“mula”), e síndrome de abstinência em um recém-nascido cuja mãe era usuária de drogas.
Para o coordenador do setor, o enfermeiro José da Rosa, o aumento é muito preocupante. “Têm crianças que já estão neste universo das drogas. Ano passado atendemos três meninos com menos de dez anos. Temos casos de novos pacientes, mas muitos que precisam de atendimento frequentemente, o que significa que esta pessoa não aceitou o tratamento. Às vezes demora anos para os usuários reconhecerem que precisam de ajuda. É uma situação muito triste”, lamenta. Já o paciente mais velho atendido em 2016 tinha 63 anos.
No Brasil, estima-se que a experimentação de cocaína e de crack corresponda a 2,9% e 0,7% da população respectivamente. Já em Bento Gonçalves, a taxa é diferente. O número de cocaína é inferior ao nacional, chegando a 0,46%, enquanto o de crack é superior (1,68%). A média da população municipal que experimenta é de 1,32%.
O perfil dos usuários é de 76,4% homens, taxa três vezes superior a encontrada entre as mulheres. Desde 2000, houve um aumento de 412,5% no número de atendimentos de homens, enquanto que, entre as mulheres, esse aumento foi de 398,3%. Os jovens entre 20 e 29 anos são as principais vítimas, correspondendo a 44,7% do total de casos. Ainda, há registros de abuso entre jovens de 10 a 14 anos.
O estudo da Vigilância aponta que o crescimento de pacientes vitimados pelo abuso de drogas pode ter relação com aumento do número de usuários de substâncias ilícitas (particularmente, o crack); uso e abuso de drogas com efeitos que fazem com que os usuários procurem atendimento nos serviços de urgência com maior freqüência; facilidade na aquisição das drogas (interiorização do tráfico, “microvarejos”, “financiamento” com traficantes) o que favorece o consumo; comercialização de drogas mais “baratas” (em alguns pontos de tráfico podem ser encontradas “pedras” por R$ 1,00); e descriminalização do consumo de entorpecentes (Lei 11.343/06) que contribuiu para que os usuários não tivessem mais o receio de serem identificados e penalizados pelo abuso de drogas ilícitas.
No Rio Grande do Sul, a Secretaria de Segurança Pública observa um crescimento no número de crimes associados ao tráfico de drogas, sendo cerca de 25% do total de homicídios no Estado. Segundo o Departamento Nacional Penitenciário, em 2006, 12% dos presos que cumpriam pena no Rio Grande do Sul havia sido condenado por tráfico. Essa proporção atingiu 40% no ano de 2012.
A Secretaria Nacional Anti-Drogas classificou o nosso estado como o detentor das maiores taxas de crimes relacionados ao tráfico de drogas, bem como, a maior taxa de casos de AIDS e de hepatite C associados ao uso de entorpecentes. Já um estudo da Confederação Nacional dos Municípios apontou que cerca de 90% dos municípios gaúchos tem registrado vício do crack em seus habitantes.

A luta de um ex-viciado

Após mais de 12 anos consumindo Álcool, Cocaína, Crack, LSD e Ecstasy, Leandro Dornelles Cavali lembra dos anos em que dedicava,

como ele mesmo diz, a maior parte do dia consumindo drogas. Segundo ele, foram 11 anos utilizando substâncias ilícitas.
“Quando comecei a usar foi por curiosidade, mas no início era bom, pois tudo era novidade.

No entanto, chegou um tempo que eu ia dormir drogado e alcoolizado e já acordava pensando na droga.

A droga me trazia uma sensação de poder, porém neste tempo meus amigos verdadeiros foram se afastando”, recorda.
De acordo com Cavali, o uso contínuo de drogas começou a prejudicar a vida pessoal e profissional.

“Quando a droga começou a controlar minha vida as coisas começaram a piorar, eu não durava em emprego algum.

Não tinha namorada e os amigos que tinha era para usar. Só pensei em parar quando eu já não aturava meu comportamento”, conta.
A vida de Cavali começou a mudar após ficar seis meses internado numa fazenda para viciados.

Frequentou por nove anos o Narcóticos Anônimos de Bento. Hoje, diz evitar lugares que oferecem bebida alcoolica.

Com outros amigos ex usuários, Cavali formou um grupo de auto ajuda.

“Decidi junto com mais alguns amigos abrir o Encontro de Adictos (EA).

Hoje fazem quase 3 anos que o grupo está aberto, tendo uma frequência de 13 membros,

pouco para o número de usuários que tem na cidade”, diz.
Ainda segundo ele, a ajuda de amigos é fundamental para ficar longe de produtos ilícitos.

“Enquanto eu quiser me manter limpo tenho que frequentar grupos e evitar alcool e drogas.

Hoje tenho uma família que amo muito, coisas que não tinha quando era viciado.

Tenho meu canto para morar e emprego”, comemora.
O encontro de Adictos funciona todas as quintas feiras das 20hs às 22hs no salão do bairro Humaitá.