As diferenças das podas e o desenvolvimento das videiras

2015-04-10_190211

Conforme o hábito de frutificação da cultivar, faz-se podas de produção curta ou longa. A poda longa é aquela que se deixa seis ou mais gemas por vara e a curta a que se deixa duas gemas por esporão

Em videira, a poda compreende a eliminação total ou parcial de diferentes partes da planta, tais como braços, sarmentos, brotos, folhas, rácimos, gavinhas e, excepcionalmente, o tronco. Aquela realizada durante o período de repouso vegetativo da planta é conhecida como “poda seca” ou “hibernal” e aquela executada durante o desenvolvimento vegetativo é chamada de “poda verde”. Entre as podas verde mais usuais têm-se a desbrota, desbaste e descompactação do cacho, desponte do ramo, desnetamento e desfolha.
Em alguns casos, a poda de produção para obtenção da “safrinha” é também considerada uma poda verde porque é feita em planta ainda bastante enfolhada apresentando intensa atividade metabólica.

Poda de formação
A videira, por ser uma espécie sarmentosa, pode tomar diferentes formas conforme o desejo do produtor. O ideal é optar por uma forma que facilite o manejo da cultura, proporcione alta produtividade e contribua para produção de fruto de boa qualidade. Para formação da planta, as podas verde como esladroamento do cavalo, desbaste da inflorescência ou do cacho, desnetamento e desponte do broto constituem práticas auxiliares muito úteis.
Um pomar constituído de plantas conduzidas e podadas sem critério técnico e sem forma definida torna muito ineficiente a execução dos tratos culturais, inclusive a execução da própria poda.

Formação de planta nova
ara produção de uvas finas de mesa na região de Marialva, a “espinha de peixe” é a forma mais usual por ser de fácil formação, manejo e manutenção. As plantas podem ter um ou dois braços.
Para se formar uma “espinha de peixe” com dois braços, segue-se os seguintes passos. Conduz-se verticalmente o broto do enxerto até 1m acima da parte superior da latada. “Deita-se”, em seguida, este broto na horizontal orientando-o para o lado mais alto do terreno ou na direção da linha de plantio. Este constituirá o braço principal da planta. Transforma-se um neto que sair 30 a 40cm abaixo da latada em braço secundário e orienta-se este para o lado oposto do braço principal. Na parte que será o tronco, corta-se os netos deixando-se apenas uma folha. Amarra-se alternadamente para os dois lados os brotos que saírem dos braços e faz-se o desponte destes deixando 10 a 12 folhas. Pode-se também obter os dois braços despontando-se o broto do enxerto próximo à parte superior da latada. Força-se, desta forma, a brotação das duas gemas terminais que constituirão os dois braços.
Para formação da “espinha-de-peixe” com um braço orientando-se o guia somente para um lado.

Renovação da copa
A poda de renovação ou de rejuvenescimento da copa de uma videira adulta é executada visando: corrigir a arquitetura “deformada” da planta, obter sarmentos mais perto dos braços, revigorar a planta debilitada e
rejuvenescer a copa da planta que sofreu danos de granizo.
Essa poda pode ser feita no inverno ou na primavera-verão. Caso realize no inverno, é recomendável fazê-la quando não tiver mais riscos de ocorrências de geada para assegurar índice mais alto de brotação. Normalmente, faz-se poda curta porque este tipo de poda estimula a brotação das gemas e os brotos saem mais vigorosos que a poda longa. Mesmo assim, recomenda-se aplicar sobre as gemas a solução de calciocianamida a 20% ou de cianamida hidrogenada a 4%. Nesta poda, elimina-se todos os ramos inúteis.
Na maioria das vezes, é preciso também encurtar os braços. Faz-se os cortes bem lisos com ferramentas bem afiadas. Protege-se os cortes maiores com uma cola para madeira. Essa cola “impermeabiliza” os cortes impedindo a desidratação e as infecções da planta por fungos. Além disso, os tecidos mortos podem dificultar a circulação da seiva por afetar os lenhos vivos localizados perto da ferida. Nesta ocasião, através da “incisão”, completa-se também as falhas de sarmento que eventualmente existem nos braços.
Pode executá-la fazendo-se um corte na frente das gemas dormentes encontradas nos nós. A aplicação da solução de calciocianamida a 20% melhora a brotação dessas gemas. Elimina-se os brotos em excesso e todos os cachos visando favorecer o desenvolvimento dos ramos. Desponta-se os mesmos com 10 ou mais folhas. Caso faça no verão, submete-se as plantas à poda curta após o término do ciclo normal de produção. O grande inconveniente desta poda é ter que eliminar as folhas em plena atividade fotossintética. Faz-se o forçamento da brotação, a desbrota, o desponte do broto e o controle de doenças foliares. Esta poda de primavera-verão é muito usada no Noroeste do Estado de São Paulo.

Poda de produção
Normalmente, a videira começa a produzir no segundo ciclo vegetativo pós-enxertia. Porém, é possível também produzir no primeiro ciclo vegetativo se a planta tiver bom vigor.
Uma boa poda de produção é aquela que permite obter, ao mesmo tempo, alta produtividade, frutos de boa qualidade e sarmentos de vigor mediano a serem utilizados na produção da safra seguinte. Deve ser feita levando-se em conta: hábito de frutificação da cultivar, vigor da planta ou do sarmento e potencial produtivo da planta.
Conforme o hábito de frutificação da cultivar, faz-se podas de produção curta ou longa. A poda longa é aquela que se deixa seis ou mais gemas por vara e a curta a que se deixa duas gemas por esporão. As videiras ‘Kioho’ e ‘Vênus’, por exemplo, produzem bem com poda curta, enquanto que ‘Itália’, ‘Rubi’, ‘Benitaka’, ‘Sunrise’ e ‘Brasil’ produzem mais com poda longa. Durante a realização desta poda, o produtor também deve procurar: equilibrar o desenvolvimento radicular/parte aérea da planta, obter sarmentos mais perto possível dos braços e melhorar as condições sanitárias da planta eliminando-se as partes afetadas por pragas e doenças.

Poda na época normal (inverno)
Nas videiras ‘Itália’ e seus mutantes, usualmente, faz-se poda mista. Para se produzir na época normal, faz-se a poda longa em junho-julho deixando-se 6 ou mais gemas por ramo (ou conforme o resultado da análise da fertilidade de gemas) e estimula-se a brotação dessas gemas com calciocianamida ou cianamida hidrogenada. Caso ainda haja risco de ocorrência de geada, “guarda-se” as gemas na parte basal do sarmento (sem “forçar” a brotação) para depois , se preciso, usá-las para produzir.
Em plantas de vigor mediano, o ideal é deixar 2 ou 2,5 varas por metro quadrado (m2), o que representa 20.000 a 25.000 varas por hectare (Tabela 1). Na poda, deixa-se preferentemente sarmentos de vigor médio que, em geral, são mais produtivos e apresentam melhor brotação. Elimina-se pela base os sarmentos excessivamente vigorosos e faz-se poda curta dos ramos fracos localizados perto dos braços visando obter ramos a serem usados na produção da safra seguinte.