Depois da reportagem da última sexta-feira (13) sobre o aparecimento anormal de aranhas armadeiras e marrons em mais de 10 bairros da cidade, a Gazeta foi procurar informações no setor de Vigilância Epideiológica .
Segundo o enfermeiro José da Rosa, responsável pelo setor, no período de 1998 a março de 2018, a Vigilância Epidemiológica registrou 8.811 acidentes causados por todos os tipos de animais peçonhentos, sendo 3.454 envolvendo aranhas, ou cerca de 193 casos por ano. O número médio anual de acidentes passou de 169 na década de 2000-2009, para 206 na década de 2010-2018, resultando num aumento de 17,7%.
Na comparação entre o primeiro trimestre de 2017 com o primeiro trimestre de 2018, foram registrados 68 e 67 acidentes com aranhas, respectivamente. Os homens são os que mais sofrem acidentes com aranhas, representando 56,3% dos casos. Os acidentes peçonhentos representam um dos principais eventos tóxicos do município.
De acordo com o Enfermeiro Sanitarista e Coordenador da Vigilância Epidemiológica, José da Rosa, as aranhas são as principais causadoras de acidentes no município, sendo responsáveis por 38,4% do total de casos, seguidas pelas abelhas (24,4%) e pelas lagartas urticantes (10,1%). Em uma menor proporção, contam-se os acidentes envolvendo serpentes e escorpiões.
“A ocorrência dos acidentes com aracnídeos está intrinsecamente ligada às estações do ano.
A partir do mês de setembro, com a aproximação das estações mais quentes, verifica-se um progressivo aumento do número desses acidentes, atingindo sua maior frequência durante o verão (36,5%), e principalmente, no mês de janeiro. Com a aproximação do inverno, os acidentes reduzem sensivelmente”, explica.
A maior prevalência de acidentes com aracnídeos nas estações mais quentes do ano está associada a fatores ambientais que favorecem o aumento da atividade das aranhas na natureza, nesse período.
Segundo o enfermeiro, durante a primavera e o verão, há uma maior disponibilidade de alimento para as aranhas (como insetos e outros animais), bem como, coincide com a época em que elas se acasalam.
Na explicação de da Rosa, para as aranhas, as residências humanas são locais onde elas costumam encontrar boas condições de abrigo, reprodução e alimentação.
“As aranhas da espécie armadeira e a aranha marrom são “caçadoras”, e adentram as residências à procura de alimento ou de abrigo, motivo pelo qual acabam sendo encontradas com muita facilidade pelas pessoas. É justamente essa proximidade com os humanos, somada a uma maior atividade vital durante o verão, que favorecem o encontro de aranhas nas residências, bem como, a ocorrência de acidentes com aracnídeos”, esclarece.
Principais aranhas causadoras de acidentes
Os acidentes com aracnídeos podem ser causados tanto por aranhas peçonhentas, como por aranhas não peçonhentas. Em Bento Gonçalves, em 45,2% dos acidentes causados por aranha não foi possível determinar qual o gênero do animal. Isso ocorre, porque as pessoas não levam o animal para a identificação, no momento do atendimento.
Devido a maior gravidade dos acidentes, o enfermeiro destaca dois gêneros de aranhas: o gênero Loxosceles (aranha marrom) e o gênero Phoneutria (armadeira). Essas duas aranhas juntas, segundo ele, respondem por 51,9% do total de acidentes registrados em nosso município.
A aranha- marrom é um animal cosmopolita e que está muito bem adaptada ao convívio com os seres humanos. Ela é facilmente encontrada dentro e ao redor das residências em entulhos, atrás de quadros, dentro de armários, de móveis e de roupas. A maioria dos acidentes ocorre quando a pessoa veste uma roupa e esmaga a aranha marrom contra o corpo. A picada é indolor e, por essa razão, a pessoa não vê o animal e não percebe que foi picada. Além disso, o ferimento causado pela peçonha dessa aranha demora várias horas para se manifestar, e, como a picada é indolor, a pessoa não associa o surgimento do ferimento com a picada.
O ferimento pode variar desde uma pequena área inflamada na pele, até uma extensa necrose cutânea do local onde ocorreu a picada, com graves complicações da função dos rins.
A aranha- armadeira, por sua vez, prefere se abrigar em locais escuros e, não raro, se entoca dentro dos calçados e próxima a locais com entulhos. Por conta disso, em boa parte dos acidentes a picada dessa aranha ocorre nos pés (ao calçar um sapato) e nas mãos (ao manusear objetos). A peçonha da armadeira causa uma dor intensa que pode se irradiar do local da picada para toda a extensão do membro.
Além dessas duas aranhas, também foram registrados acidentes causados por outros gêneros de aranha, como, por exemplo, a Cheiracanthium (aranha do saco, aranha da uva), Lycosa (aranha de jardim, aranha da grama), Mygalomorphae (caranguejeira), Araneus, Argiope, Gasteracantha, Theridiidae, Nephila e Salticidae.
