Após greve, término do ano letivo é incerto, e alunos ainda não têm calendário de recuperação das aulas

2015-04-10_190211

Impasse entre Governo do Estado e professores deve empurrar período de recuperação das aulas até o dia 14 de janeiro

A greve dos professores, que já dura há mais de 45 dias, tem causado atrito entre o Governo do Estado e a classe da Educação. Na última sexta-feira, 13, a Secretaria de Educação (Seduc) do Rio Grande do Sul divulgou uma possível reorganização do calendário escolar de 2017. Segundo a pasta, este ano letivo encerraria em 14 de janeiro de 2018, sendo que o período das aulas do ano de 2018 começaria em 22 de fevereiro.
A proposta precisa ainda ser aprovada pelos Conselhos Escolares, que devem encaminha-la à Coordenadoria Regional de Educação (CRE) para homologação até a próxima sexta-feira (20).
No entanto, o Cpers, sindicato que representa a categoria, nega que a paralisação tenha terminado, e questiona os números apresentados pelo governo do estado.
Os professores estão em greve desde o dia 5 de setembro, devido ao parcelamento de salário e também outras questões como privatização e extinção de estatais e redução de direitos trabalhistas dos funcionários.

Situação dos alunos do 3º ano
A situação de alunos que estão cursando o 3º ano do Ensino Médio é ainda mais grave. A Escola estadual de Ensino Médio Mestre Santa Bárbara, que chegou a aderir integralmente a greve, está trabalhando para recuperar as aulas dos alunos, porém, de acordo com a diretora da instituição, Angelita Castagnara Sutilli, não é certo que o ano letivo irá terminar em dezembro.
“Ainda em setembro recebemos um documento da Seduc, dizendo que não poderíamos realizar aulas aos sábados. Hoje, no entanto, a 16ªCRE disse que poderíamos recuperar períodos de aulas no sábado, mas ainda não recebemos um documento que afirme isso”, diz. Atualmente a direção da escola disponibiliza a noite das segundas-feiras como recuperação de aulas.
“Os terceiros anos teriam que terminar o período letivo até o dia 16 de dezembro, mas ao que tudo indica, será encerrado apenas após o natal. Os alunos que farão vestibular vão ter atestado para entregar nas universidades”, afirma.
Os alunos, prejudicados pela impasse, estão com opiniões divididas sobre a greve dos professores. Para Juli Castro, do 3º ano, a dúvida sobre a recuperação das aulas está deixando os alunos assustados. “Todo mundo apoia a greve, mas chega na hora de falar de recuperação, aí complica. Tem vestibular e Enem e até agora não conseguimos recuperar todas aulas ainda, e provavelmente vamos saber quando estivermos em dezembro. Está todo mundo muito assustado por causa da data da formatura” afirma. Já para Arthur, aluno do 1º ano, a greve não foi válida.
“Na minha opinião foi uma perda de tempo porque não aconteceu aumento algum para os professores e os alunos agora vão ter que recuperar em janeiro. É bem ruim”, diz. Camael, do 1º ano, se posicionou favorável a greve, mostrando estar ao lado dos professores. “É difícil para os professores que ganham pouco e parcelado, principalmente para quem paga aluguel. Foi legítimo o movimento”, defende.

Cpers diz que não reconhece o novo calendário
Apesar do governo estadual ter divulgado uma prévia de recuperação escolar, o Cpers emitiu uma nota que repudia a ação do governo. “Como podem organizar um calendário escolar sem que a greve da categoria tenha encerrado? Como recuperar as aulas se sequer foram negociados os dias parados?”, relata o documento.
Segundo o Cpers, o governo informou que 70% das 1.176 escolas estão com os serviços normalizados, no entanto o sindicato contesta que na verdade o total são 2.545 escolas e que as restantes estão em greve. “Portanto mais de 60% das instituições estão em greve. Como as maiores estão paradas, reafirmamos: 75% da categoria (e não das escolas), segue em greve. Está mais do que na hora do governo apresentar uma proposta que contemple as exigências dos educadores: pagamento em dia e sem parcelamento. Pagar no 12º dia do mês, não é pagar em dia, governador!”, conclui.
A diretora do 12º núcleo do Cpers, de Bento Gonçalves, Juçara Borges, afirma que a greve não tem dia para acabar e que o governo está levando a paralisação como uma brincadeira. “O calendário foi definido pelo governador sem que fizesse um acordo com a categoria. Eles querem pressionar a categoria a retornar. Eles pedem que tenhamos sensibilidade, mas sensibilidade não paga as contas”, lamenta.

Ato nesta terça-feira
O 12º núcleo vai participar de outro ato dos professores nesta terça-feira (17), em Porto Alegre. O Ato Estadual da Greve e Vigília vai acontecer às 10h, na Praça da Matriz. O Cpers divulga que a atividade é para “cobrar do governo uma solução para a greve e pressionar os deputados para que votem contra os projetos que atacam os nossos direitos”. Ainda, conforme o sindicato, “o fim da greve depende da apresentação de propostas por parte do governo, que até agora só nos ameaçou”, finaliza.

Como ficará a matrícula nas universidades
Mesmo sem o término das aulas até o final do ano, os alunos formandos vão poder ingressar na universidades. As instituições de ensino aceitarão um atestado que confirme a conclusão do ensino médio e darão um prazo para a providência do certificado oficial. Veja o que cada instituição informa:
IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul)
“Para os candidatos aprovados no processo seletivo de estudantes do IFRS que, no momento da matrícula, ainda não tiverem finalizado o ano letivo requisito para ingresso no curso* devido à greve nas escolas estaduais, será necessário apresentar declaração da escola grevista. O documento deve conter a informação de que o estudante está cursando o ano em questão e a previsão de conclusão. Ao finalizar as atividades, deverá então encaminhar ao IFRS o certificado de conclusão, com aprovação em todas as disciplinas”.
*Para os cursos técnicos concomitantes e integrados ao Ensino Médio, é necessário ter concluído o Ensino Fundamental
*Para os cursos técnicos subsequentes ao Ensino Médio e para os cursos superiores, é necessário ter concluído o Ensino Médio.
UCS (Universidade de Caxias do Sul)
Procedimento de entrega de atestado de que escola está em greve. Após, prazo para entrega de atestado de conclusão do ensino médio. Mesmo com o atraso do término escolar, a matrícula será formalizada.
UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul)
Ainda não tem informações sobre como será o procedimento, mas informa que deverá ser através de atestado.
FSG (Faculdade da Serra Gaúcha)
A FSG já tem um procedimento padrão no qual o aluno precisa entregar um atestado que comprove que irá terminar o ano letivo.
FTEC
Aceitará atestado de conclusão.

Datas do vestibular
UCS
26 de novembro
FTEC
28 de outubro
18 de novembro- só para alunos de “terceirão” e EJA
FSG
19 de novembro
UFRGS
07 de janeiro a 10 de janeiro de 2018
UFSM
03 de dezembro
IFRS
3 de novembro