A lua afeta o humor e funções físicas do corpo?

2015-04-10_190211

A associação entre dormir e as fases lunares, que parece existir, poderia fazer pressupor que o sono por tabela influencia o humor.
A importância do sono é particularmente relevante para pessoas bipolares, cujos episódios de alteração do humor são frequentemente precipitados pela interrupção do sono ou dos ritmos circadianos (ciclo fisiológico de aproximadamente 24 horas que ocorre na maioria dos organismos vivos).
Considerando a ideia de que a Lua poderia de alguma forma afetar o sono à medida que os dias passam, a hora do despertar fica a cada vez um pouquinho mais tarde, enquanto o tempo de sono permanece o mesmo.
Isso significa que a duração do descanso aumenta progressivamente, até ser abruptamente encurtada. Este ponto de virada é frequentemente relacionado ao início da mania.
Mas qual propriedade da Lua poderia afetar o pobre sono dos mortais?
No mundo moderno, há muita poluição e passamos tanto tempo dentro de casa expostos à luz artificial que os sinais de mudança da iluminação da Lua foram obscurecidos .
Em vez disso, um outro aspecto da influência lunar talvez esteja perturbando o sono , com consequências implacáveis ​​para o humor: a atração gravitacional exercida pela Lua.
Uma hipótese é que isso desencadeia flutuações sutis no campo magnético da Terra, às quais algumas pessoas podem ser sensíveis.
“Os oceanos são condutores elétricos porque são compostos de água salgada, e conforme eles fluem com as marés, há um campo magnético associado aí”, explica Robert Wickes, especialista em clima espacial da University College London, na Inglaterra.
No entanto, permanece a questão se o efeito da Lua no campo magnético da Terra é forte o suficiente para induzir mudanças biológicas.

A possibilidade magnética
Alguns estudos já ligaram a atividade solar ao aumento de ataques cardíacos, derrames, crises epiléticas, esquizofrenia e até suicídios.
Quando erupções solares atingem o campo magnético da Terra, isso induz correntes elétricas invisíveis fortes o suficiente para derrubar redes de abastecimento inteiras.
Outras pesquisas sugeriram também que a atividade solar pode afetar células eletricamente sensíveis no coração e no cérebro.
“O problema não é que não seja possível que essas coisas aconteçam, é que a pesquisa é muito limitada – por isso, é muito difícil dizer algo definitivo”, explica Wickes.
Por um lado, diferente de certos pássaros, peixes e insetos, os humanos não são considerados portadores de um senso magnético. Mas por outro, um estudo publicado no início deste ano desafiou essa afirmação.
Descobriu-se que pessoas expostas a mudanças no campo magnético – equivalentes àquelas que experimentamos à medida que nos movemos no nosso entorno – tiveram fortes reduções na atividade das ondas alfa cerebrais.
As ondas alfa são produzidas quando estamos acordados, mas não realizando qualquer tarefa específica. O alcance dessas manifestações detectadas ainda não está claro – podem ser um subproduto irrelevante da evolução ou, em um quadro mais complexo, o campo magnético pode estar alterando sutilmente nossa química cerebral de maneiras que desconhecemos.
A teoria magnética é atraente para Wehr porque, ao longo da última década, vários estudos sugeriram que, em certos organismos, como moscas da fruta, uma proteína chamada criptocromo pode também funcionar como um sensor magnético. O criptocromo é um componente chave para o controle dos ritmos circadianos de 24 horas em nossas células e tecidos, incluindo o cérebro.
Quando o criptocromo se liga a uma molécula que absorve luz, chamada flavina, isso não só sinaliza para o organismo que é dia, mas desencadeia uma reação que faz com que o complexo molecular se torne magneticamente sensível.
Bambos Kyriacou, um geneticista comportamental da Universidade de Leicester, na Inglaterra, e sua equipe já mostraram que a exposição a campos eletromagnéticos de baixa frequência pode redefinir o tempo dos ciclos circadianos das moscas-das-frutas, levando a alterações na duração do sono.
Se isso fosse verdade também para os humanos, poderia ser uma explicação para as mudanças bruscas de humor observadas nos pacientes bipolares de Wehr e Avery.No entanto, embora o criptocromo seja também um componente essencial do relógio circadiano humano, ele funciona de maneira ligeiramente diferente da versão que opera nas moscas-das-frutas.

A água dentro de nós poderia ser afetada como as marés?
Outra possibilidade é que os pacientes de Wehr e Avery estejam respondendo à atração gravitacional da Lua da mesma forma que as marés. Afinal, nós humanos somos constituídos em 75% de água.
Muitos estudiosos refutam esta possibilidade, porém, lembrando que a quantidade de água que carregamos é ínfima perto dos oceanos.
Os seres humanos são feitos de água, mas a força (exercida sobre este componente líquido) é tão fraca que seria difícil ver como isso seria afetado do ponto de vista físico.
Ainda que estes mecanismos nos escapem por enquanto, nenhum dos cientistas contatados para este artigo contesta as descobertas básicas de Wehr: que seus pacientes bipolares são rítmicos e que esses ritmos parecem correlacionar-se com certos ciclos da Lua.