💡 Equipamento desenvolvido na Paraíba detecta adulterações em destilados com 97% de precisão. Governo já adquiriu 4,3 mil ampolas para o SUS e negocia mais 150 mil. Laboratório privado sinalizou doação em caso de necessidade.
O Brasil enfrenta uma crescente onda de intoxicações por metanol, com casos registrados em diversos estados e alguns deles resultando em morte. A substância, extremamente tóxica, vem sendo detectada em bebidas adulteradas, o que acendeu um sinal de alerta em órgãos de saúde, universidades e no governo federal.
Diante da crise, duas respostas se destacam. De um lado, pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolveram um método rápido, barato e não invasivo para identificar a presença de metanol em bebidas destiladas. De outro, a Anvisa autorizou a produção industrial do antídoto utilizado em casos de intoxicação, acelerando o abastecimento da rede pública.
🔬 Inovação científica: teste detecta metanol em minutos e sem abrir a garrafa
Em Campina Grande (PB), cientistas da UEPB criaram um dispositivo capaz de detectar adulterações em bebidas destiladas sem precisar abrir a garrafa. O processo funciona a partir da emissão de luz infravermelha, que excita as moléculas presentes no líquido. Na sequência, um software analisa o padrão de vibração dessas moléculas e identifica, com até 97% de precisão, se há substâncias indesejadas, como o metanol ou até mesmo a adição de água.
Além disso, a técnica não utiliza reagentes químicos, o que reduz custos e evita descarte tóxico. Ou seja, trata-se de uma solução de baixo custo, eficiente e ecologicamente segura. O estudo foi publicado na revista científica internacional Food Chemistry, o que reforça sua credibilidade e validade técnica.
Embora o projeto tenha começado com a análise da cachaça, os pesquisadores confirmam que a ferramenta é aplicável a outros tipos de destilados, como uísque, vodka e aguardente. Inclusive, há um plano em desenvolvimento para popularizar ainda mais a detecção de metanol: um canudo inteligente, que muda de cor ao entrar em contato com a substância.
⚠️ Casos de intoxicação crescem e revelam falhas no controle sanitário
O número crescente de casos confirma a gravidade do problema. Até o momento, o Ministério da Saúde já contabilizou 113 notificações de intoxicação em seis estados, com 11 casos confirmados em São Paulo. Até recentemente, esse tipo de episódio era raro no Brasil — cerca de 20 registros por ano.
Por outro lado, a nova escalada expõe vulnerabilidades na cadeia de produção e envase de bebidas. A principal hipótese investigada pela polícia é a utilização do metanol na higienização de garrafas, um procedimento proibido, mas de difícil rastreabilidade.
Um dos maiores riscos é que o metanol é praticamente indistinguível do etanol a olho nu: ambos são incolores e inflamáveis. Entretanto, no organismo, o metanol age de forma tóxica, podendo causar cegueira, falência de órgãos e até a morte, mesmo em pequenas quantidades.
🏥 Governo reage com antídoto e acelera distribuição para o SUS
Como resposta emergencial, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma resolução permitindo a produção industrial do etanol farmacêutico, antídoto usado no tratamento de intoxicações por metanol.
Até então, esse tipo de produto era produzido em pequena escala por hospitais universitários e farmácias de manipulação, o que limitava sua disponibilidade. Com a nova autorização, espera-se que a produção ganhe escala já nos próximos dias.
Além disso, o Ministério da Saúde já adquiriu 4,3 mil ampolas do antídoto e negocia a compra de mais 150 mil unidades para distribuir por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Um importante laboratório privado também sinalizou a doação de lotes, caso a demanda ultrapasse a capacidade da rede pública.
Por outro lado, o país ainda não possui autorização para fabricar o fomepizol, um antídoto mais avançado e amplamente utilizado no exterior. Isso reforça a necessidade de ampliar rapidamente a produção e o estoque nacional de etanol injetável.
🧪 Ciência e saúde pública avançam juntas contra o metanol
A atual crise provocada pelo avanço do metanol no mercado de bebidas mostra que a ciência e a política de saúde pública precisam caminhar lado a lado. De um lado, soluções tecnológicas como o teste da UEPB oferecem meios eficazes para prevenir o consumo de produtos adulterados. De outro, o governo corre para garantir o tratamento adequado das vítimas e impedir que o número de intoxicações aumente.
Enquanto isso, a mobilização de universidades, órgãos reguladores e iniciativa privada mostra que, mesmo diante de emergências de saúde, o Brasil pode encontrar respostas rápidas, eficientes e sustentáveis.




