Por Gazeta-RS —
Pessoas e cães compartilham mais do que afeto. Além disso, novos estudos mostram que alguns cães desenvolvem comportamentos semelhantes a vícios humanos e que outros demonstram habilidades cognitivas espontâneas, como classificar objetos por função.
Vício por brinquedos
Um trabalho publicado na revista Scientific Reports avaliou 105 cães que, segundo seus tutores, demonstravam forte motivação por um brinquedo específico. Assim, os cientistas compararam sinais humanos de vício — desejo intenso e dificuldade de controlar o comportamento — com os comportamentos caninos observados.
Os pesquisadores testaram escolhas entre brinquedo, comida e interação social. Logo, 33 animais exibiram sinais similares a compulsões: fixação no brinquedo, desinteresse por alternativas e tentativas persistentes de recuperar o objeto quando ele estava fora de alcance. Além disso, alguns permaneceram excitados por até 15 minutos após a remoção do brinquedo.
Os autores destacam que a compulsão parece mais frequente em raças de trabalho, possivelmente reforçada por seleção genética para alta motivação em tarefas de busca e caça. Portanto, a origem pode combinar predisposição genética e reforço comportamental.
Implicações para a saúde
Segundo Alja Mazzini, da Universidade de Berna, a descoberta abre caminho para estudos sobre impulsividade, atenção e recompensa em cães. Assim, esses achados podem fornecer pistas úteis para entender transtornos humanos, como TDAH e compulsões.
Os cientistas alertam que nem todo entusiasmo se torna vício. Por outro lado, quando o cachorro ignora comida, dono ou descanso em favor do brinquedo, recomenda-se observar e, se necessário, intervir para preservar o bem-estar do animal.
Cães “superdotados”
Outro estudo, publicado na revista Current Biology e liderado por Claudia Fugazza, encontrou que alguns cães são capazes de generalizar nomes para objetos novos com base na função. Além disso, esses cães associaram sons a objetos que desempenhavam a mesma função, mesmo sem treinamento verbal prévio.
Na experiência, tutores apresentaram oito brinquedos para “buscar” ou “puxar”, sem indicar a função por aparência. Em seguida, os cães precisaram identificar brinquedos novos que cumpriam a mesma função. Logo, sete de dez cães passaram nas fases iniciais e, depois, acertaram cerca de dois terços das vezes — taxa bem acima do acaso.
O que isso significa
Os pesquisadores sugerem que essa capacidade funcional lembra como bebês humanos aprendem palavras por uso, e que raízes cognitivas semelhantes podem aparecer em várias espécies. Portanto, encontrar esse raciocínio em cães amplia nossa compreensão evolutiva da cognição animal.
Especialistas avisam que o grupo testado foi pequeno e que nem todos os cães apresentarão essas habilidades. Ainda assim, o achado é significativo e motiva pesquisas sobre diferenças neurológicas ou genéticas entre cães altamente motivados ou “hipermotivados”.
Recomendações práticas
Enquanto os estudos avançam, os autores recomendam cautela. Além disso, incentivam donos a observar sinais de compulsão e a buscar orientação profissional se o comportamento prejudicar a saúde ou a convivência. Assim, é possível conciliar brincadeira saudável e bem-estar animal.